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Paulinho Cascavel. "O Mozer batia-me e depois bebia uma cervejinha comigo" PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Sábado, 06 Agosto 2011 13:05

110806_paulinho_cascavelJogou no FC Porto e impôs-se no Vitória. Pode ler à vontade. Ele só é venenoso quando fala de Sousa Cintra (Sporting)

A cascavel assusta. Não só pelo aspecto mas também pelo chocalho característico na cauda, cuja finalidade é advertir para a sua presença e afastar os animais de grande porte. Para nossa sorte, esta cascavel é diferente. Como a entrevista é por telemóvel, desconhecemos o seu aspecto, mas é ele que nos chama a atenção para o possível custo dispendioso da chamada telefónica, de e para um número português. Dá-nos então o seu contacto brasileiro, mas como já vive em Portugal há muitos e muitos anos engana- -se. "Aponta, é 00 351... Poxa vida, que coisa, hein? Dei-te o indicativo de Portugal. Anota aí, por favor. É 00 55..."


Estamos a falar com Paulo Roberto Bacinello. Foi o único jogador na história do futebol português a sagrar-se melhor marcador do campeonato nacional por duas equipas em épocas seguidas: 1986-87 pelo Vitória Guimarães (22 golos em 30 jogos) e 1987-88 pelo Sporting (24/34). E é dos poucos que fizeram a ponte FC Porto-V. Guimarães, como Zahovic, Capucho e Pedro Espinha. Mas ele foi o primeiro. Ele, mais conhecido por Paulinho Cascavel. A alcunha foi-lhe atribuída muito antes de os seus atributos viperinos dentro da área se tornarem claros. É o nome da sua terra natal. Qual? Boa pergunta, sim senhor. Afinal, há três cidades brasileiras assim denominadas. Na Bahia, no Ceará e no Paraná. É nesta última que Paulinho nasce a 29 de Setembro de 1959. Aos 51 anos, o bibota de ouro português vive em Portugal, como o filho Guilherme, avançado do Penafiel, mas está a passar férias no Brasil até dia 25. É no conforto do lar que o apanhamos.

Rui, liga para este número aqui, ó, 00 55...

[Trruuuuuuum: ligação tipo "Matrix"]

Oi, Rui, diz coisas então.

A porta de entrada do Paulinho Cascavel em Portugal foi o FC Porto. Mas como? Porquê? Quando?

Ehhhhh, faz muito tempo. Estávamos em 1984. O Pimenta Machado, presidente do V. Guimarães, foi ao Brasil no início do Verão com a intenção de contratar dois avançados. Viu alguns jogos e interessou--se por mim mas não dava para sair. O nosso campeonato ia a meio. Então ele levou o Zezé Gomes e o Roldão. Uns meses depois, já no final do nosso campeonato, o FC Porto estava com problemas no ataque com as lesões de Gomes, Walsh e Jacques. O Pinto da Costa falou dessa situação ao Pimenta Machado e ele deu--lhe todos os contactos, os do Joinville e os meus. Chegámos todos a acordo e lá fui para Portugal.

Mas jogou pouco no FC Porto?

Sim, joguei mais nas reservas que na equipa principal, mas aprendi muito. Com o Gomes, por exemplo. E com o Artur Jorge.

O treinador?

Sim, o treinador. Ele foi um grande avançado, com uma história muito bonita no Benfica. Ensinou-me algumas coisas, porque cheguei aí aos 24 anos, como avançado técnico. Faltava-me melhorar nalguns aspectos, até pela mudança de país, continente e campeonato. O Gomes e o Artur Jorge ensinaram-me algumas coisas. Mas a sorte foi ter ido parar a um clube grande, com vontade de ser maior ainda. Nesse ano fomos campeões nacionais e ganhámos 14 jogos seguidos. Quem nos travou foi o Sporting [0-0]. Na jornada anterior [21 de Abril de 1985] estreei--me, a substituir o Eurico aos 65/70 minutos. Ganhámos 3-0 ao Penafiel.

E depois?

Depois só joguei mais uma vez, para a Taça de Portugal. Outro 3-0, agora ao Rio Ave [quartos-de-final, 5 de Maio de 1985]. Entrei ao intervalo a substituir o Gomes. Imagina eu a substituir um Bota de Ouro? Nessa época, o Gomes ia ganhar a sua primeira Bota de Ouro, como melhor marcador europeu. Foram 39 golos [13 de penálti].

No Verão de 1985, o Paulinho Cascavel vai para o Vitória.

Ééééé, parece que o Pimenta Machado não se esqueceu de mim [risos]. Em Guimarães encontrei um ambiente formidável, um pouco à imagem do do FC Porto em termos de camaradagem. O treinador era o António Morais, adjunto do Pedroto no FC Porto, que chega à final da Taça das Taças em 1984. Os jogadores eram muitos e bons. Na baliza, o Jesus. Na defesa, mais internacionais portugueses como Costeado, Cerqueira, Gregório Freixo, Miguel, Teixeirinha. No meio, Nascimento, Bobó e Costa, que também vinha do FC Porto. No ataque, eu, Roldão e Adão. Uma equipa promissora. Acabámos em quarto lugar e eu marquei 25 golos. Estive ali taco a taco com o Manuel Fernandes. Ele começou de forma espectacular, com nove golos nas primeiras quatro jornadas. Eu respondi a meio do campeonato com 11 em seis jornadas seguidas, entre Novembro e Janeiro [Boavista-2, FC Porto-2, Marítimo-3, Portimonense-2, V. Setúbal-2 e Sp. Covilhã-2]. À 23.a jornada, ele estava em vantagem, por 24-21. Ainda sonhei mas a ponta final do Manuel foi superior, até porque ele perseguia um lugar nos convocados para o Mundial do México.

Bolas, você é uma enciclopédia!

Oi?

Você é uma enciclopédia. Sabe tudo.

Que nada. São memórias de bons tempos. É fácil memorizar. Tanta coisa boa...

E há mais?

Claro. Na época seguinte fui o melhor marcador, com 22 golos. Atrás de mim, o Gomes, do FC Porto, com 21, e o Manuel, do Sporting, com 17. Mas a duas jornadas do fim, quando o Gomes se lesionou naquele treino nas vésperas da final da Taça dos Campeões, com o Bayern, eu só tinha 19 contra 21 dele. Na penúltima jornada marquei dois ao Belenenses para igualá-lo. Na última, fiz outro ao Sporting e coroei-me melhor marcador.

Em Alvalade ou em Guimarães?

Em Alvalade, 1-1. Eu marquei primeiro [60''], o Manuel empatou [81'', de penálti] e ficámos em terceiro lugar, à frente do Sporting.

O Sporting que o contratou nesse Verão.

Exactamente.

E foi novamente melhor marcador?

É isso aí. E novamente difícil pra caramba. Repara bem, Rui, a duas jornadas do fim, o Radi, do Chaves, tinha 21 golos, eu 19 e o Gomes, do FC Porto, 18. Na penúltima jornada, o Radi nada de nada e é apanhado nos 21 pelo Gomes, com um hat trick ao Farense. Eu marco ao Salgueiros e subo para 20. Na derradeira ronda, o Radi nada, o Gomes idem.

E você?

Quatro ao Penafiel! Ganhámos 7-0.

Tirando esse título de melhor marcador, como foi a sua vida no Sporting?

Ganhei uma Supertaça portuguesa, ao Benfica. Marquei lá, na Luz, e ao Bento. Ganhámos 3-0.

Ao Benfica? Como eram esses jogos?

Duros, duros e duros.

Clássico, não é?

Não só por isso. Eu levava com o Mozer em cima e ele dava-me tanta, mas tanta porrada... Depois ia beber uma cervejinha com ele, mas no campo... uiiii, doía!

Nesses tempos do Sporting, o Paulinho Cascavel morava onde?

No Lumiar, na Quinta do Lambert. Às vezes ia a pé para os treinos. Grandes tempos... Porque o presidente, Jorge Gonçalves, quis mesmo fazer do Sporting uma equipa forte. Contratou internacionais brasileiros, como o Silas, o Luisinho, o Douglas. Simplesmente, FC Porto e Benfica eram mais fortes.

Mas o Paulinho Cascavel também apanhou o Sousa Cintra?

Sim. Essa parte foi desagradável.

Porquê?

Houve desentendimentos. Durante uns tempos, fui encostado. Nem podia treinar com os meus companheiros. Andei a treinar sozinho, equipava-me sozinho... Só muito tempo depois é que os advogados das duas partes se entenderam e saí do Sporting. Magoado. Não com o clube nem com os dirigentes ou com os jogadores, mas com Sousa Cintra.

Em geral, o Sporting deu-te mais alegrias que tristezas?

Sim. Fui melhor marcador do campeonato e também da Taça das Taças [seis golos: três ao Tirol e três ao Kalmar], ganhei uma Supertaça portuguesa e conheci o Alemão e o Careca.

Como?

No Sporting-Nápoles.

A eliminatória dos penáltis?

Isso. O Maradona deu-nos um tratamento espectacular. Antes do jogo bateu à porta do nosso balneário e perguntou-nos se estávamos bem, se queríamos alguma coisa. Depois do jogo bateu-nos outra vez à porta para pagar os 100 dólares da aposta com o Ivkovic. Vestimo-nos todos e fomos para uma sala, onde ficámos a falar. Foi então que conheci o Careca e o Alemão, internacionais brasileiro do Nápoles. Fantástico.

E mais boas recordações?

Pfffff, os dérbis do Minho com o Sp. Braga. Um dia marquei-lhe três golos e ganhámos 5-3. Quando eliminámos o Atlético Madrid, lá em Espanha. Foi 2-0 em Guimarães, com um golo meu e outro do Roldão, e 0-1 em Madrid, onde fomos roubados até dizer chega. Mas passámos. Nossa, a recepção em Guimarães, lá na praça do centro, foi inesquecível!

E más recordações?

Deixa-me ver... Aquela vez que inaugurei o marcador na Luz e depois perdemos [Sporting] por 4-1. O 2-2 entre FC Porto e V. Guimarães. Marquei dois golos nas Antas e não ganhei, já viste, Rui? Foi a estreia do Casagrande, que marcou um golo. O outro foi do Juary. E a derrota na Alemanha, com o Borussia Moenchengladbach [quartos-de-final da Taça UEFA]. Perdemos 3-0 e fazia um frio danado, com neve e tudo.

E este domingo, vai ver a Supertaça?

Vou dar um jeito, pela internet. O FC Porto é superior, em estrutura e equipa, mas os adeptos do Vitória estão ao nível da força dos três grandes e merecem uma alegria.

 

In ionline.pt

 


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