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Hugo. «Ainda tive oportunidade de fazer um remate à baliza do Preud’homme» PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Sábado, 28 Janeiro 2012 14:36

120128_hugoAos 35 anos está de pedra e cal na defesa do Beira-Mar. Diz que continua a ser o mesmo Hugo, apesar de ter mais títulos

 

Hugo é um jogador fácil de encontrar em campo. O estilo, a forma como aborda os lances e a cabeça sem cabelo fazem dele um nome que já faz parte da mobília do futebol português. Começou no Sp. Braga, aventurou-se por Itália, onde jogou ao lado de jogadores como Klinsmann, Signori, Verón, Ortega e Mihajlovic, e voltou a Portugal para fazer história. Ao serviço do Sporting, do V. Setúbal e do Beira-Mar, conquistou os cinco troféus mais importantes do futebol nacional. A poucos dias de regressar mais uma vez a Alvalade, falou com o i sobre a carreira e uma característica saltou à vista: a capacidade de falar com humor dos seus melhores momentos.

Como chegas aos seniores do Braga?

Lembro-me perfeitamente. Foi após a eliminação de juniores na 1.a fase. No primeiro treino da semana chamaram-me para a ala profissional. Era o Professor Neca o treinador e pronto, fui lá treinar. Ele gostou do que viu e nessa mesma semana fiz contrato profissional.

O primeiro jogo foi só dois anos depois.

A estreia na liga, a estreia na liga… foi contra o Benfica [0-3, 29.a jornada de 1995/1996 com um golo de Kenedy e dois de João Vieira Pinto]. Aqui há duas semanas não tinha a certeza disso. Lembro-me de ter feito quase um penálti [risos].

Há um penálti no minuto em que entras.

Sim, mas não fui eu, já estava 3-0. E ainda tive oportunidade de fazer um remate à baliza do Preud’homme. Um defesa central, hã? Fui por ali fora, tumba, tumba, tumba, toma lá, dá cá, vai buscá-la! E ele foi mesmo. Foi quase um passe.

E o que sentiste?

É um primeiro jogo no Estádio da Luz. Se não me engano estavam à volta de 60 mil pessoas. É sempre assinalável.

No segundo ano foste totalista nos últimos nove jogos. O que marcou a viragem?

É uma questão de aposta. O meu trabalho é sempre o mesmo. Tive a possibilidade de ir para outros clubes, onde podia jogar com regularidade. Não fui muito por culpa do Artur Jorge e do Sérgio Abreu, que curiosamente eram “colegas de repartição” e que me tiraram um pouco essa ideia.

No último jogo da liga, o que pensavas que estarias a fazer três meses depois?

Sempre me preocupei mais com o presente. Esse último jogo foi em Guimarães, empatámos, e a minha grande preocupação era o Sp. Braga conseguir o lugar na Taça UEFA. Conseguimo-lo e, curiosamente, na semana a seguir estavam a ligar-me de Itália.

Como é que eles chegaram a ti?

Esta história já é mais antiga que os tremoços. Pelo menos em Braga. Tinham vindo para ver o Rodrigão. Gostaram de mim e abordaram-me directamente.

Em Génova o cenário era diferente.

Sim, saí de Braga com uma média de assistências de sete, cinco mil pessoas. Chego a uma apresentação num pavilhão com 20 mil pessoas e com campeões do mundo [Klinsmann no Mundial-1990] ao meu lado. Para um miúdo de 20 anos, pode intimidar.

E nos treinos? Marcavas o Klinsmann?

Ah, tinha de marcar o Klinsmann, como tinha de marcar o Montella, como tinha de marcar muitos outros. Foi com eles que aprendi muito.

No segundo ano há muita instabilidade entre treinadores.

Se calhar foi também um bocadinho isso que levou a Sampdória à Serie B. Em Itália, as regras são para cumprir. O Spaletti começou a época e há a mudança para o David Platt, que não tinha habilitações para exercer em Itália.

Nesta altura já falavas bem italiano?

Per-fei-ta-men-te! [risos]. Ou falava ou italiano ou falava italiano. Fui para lá sozinho, ninguém falava português e não havia brasileiros. Nunca tinha vivido fora de casa e os primeiros tempos foram difíceis.

Alguma vez duvidaste?

É assim, eu não queria ir. Quando estava a discutir com eles, pensei sempre “Vou pôr isto nestes trâmites para eles não aceitarem”. Levei uma folha no bolso das calças com o que queria por cada ano. Mas o António Conceição, que tinha sido meu treinador nos juniores, teve uma palavra importante e pesou na minha decisão. Tinha-o ao telefone a dizer que aproveitasse o momento e depois a minha mãe a chorar a dizer que não queria ficar sem o filho. O comboio passa uma vez, mas a minha ideia inicial era não ir. E na primeira viagem que fiz para lá sozinho não ia muito contente.

O comboio só passa uma vez mas o que te traz de volta também não é mau.

Sim, se assim não fosse, não voltava.

Na altura, o Rui Miguel Tovar, do i, ligou--te para confirmar que ias para o Sporting e disseste que não sabias nada disso, quando se ouve ao fundo…

O aeroporto! Por acaso foi um barraca do cacete. As coisas ainda não estavam preto no branco. Na altura tinha outras possibilidades, como o Perugia, mas não queria ir para lá. Olha, podia ter ido para o Tottenham também, à custa do Platt.

Sentiste-te especial por fazer parte de um plantel que tinha o escudo de campeão?

Sim, já não acontecia há muitos anos. Foi uma época que deveria ter sido de afirmação. Havia muito a vontade de marcar posição e revalidar o título. Ali também havia nomes de peso: tinham chegado o João Pinto, o Sá Pinto, o Paulo Bento. Continuava lá o Schmeichel. Era mais um grupo de nomes, de individualidades, que infelizmente não se afirmou como colectivo.

Os jogadores costumam ganhar alcunhas. Tu passaste de Hugo Vieira a Hugo...

Quando saí do Braga já era Hugo. Mas eles em Itália não estão habituados a isso e juntaram o Vieira. Mas esse Hugo continua a ser o mesmo Hugo de agora, com mais alguns títulos…

És o único jogador que venceu o campeonato, a Taça, a Supertaça, a Taça da Liga e a II Liga em Portugal.

Sim, sei disso. É verdade. [Hesita.] Sabia sim, sabia sim, sabia sim. Esse acaba por ser o meu grande orgulho. Gostava de ter mais títulos, é claro, mas tenho um orgulho enorme por ter alcançado objectivos por todos os clubes por onde passei. [Risos.] Se querem conseguir alguma coisa, contratem o Hugo.

A estreia no Sporting é contra o Real Madrid. Como médio.

Não era uma posição completamente nova para mim, mas não era comum. Na altura o Paulo Bento estava castigado para as competições europeias. Fizemos um jogo amigável contra o Torreense, joguei a médio e as coisas correram bem. Consegui impressionar o Mister Inácio. [Risos.] Ainda por cima enganei-me e fiz um “granda” golo. Ia aliviar a bola e metia-o no sete [no ângulo superior, entre a trave e o poste].

O primeiro jogo oficial foi com o Real Madrid [2-2] e acho que as coisas me correram bastante bem.

Se tivesse acabado ao intervalo, seria melhor [2-0].

Ah, se quiser ser egoísta até posso dizer que quando saí estávamos a ganhar [risos]. Não, nem a brincar se dizem coisas destas. Mas foi um jogo fantástico. Alvalade estava cheio. Já tinha jogado no San Siro com 80 mil, mas foi um ponto marcante, Foi o primeiro jogo que estava a fazer na Champions.

O primeiro golo é no Porto contra o Salgueiros. Fica 5-2 e fazes o 2-1.

O campo estava uma lástima, muito pesado. Foi um ressalto à entrada da área, um tiro fortíssimo [risos]. Acho que ainda desviou em alguma coisa ou em alguém.

Depois fazes mais dois golos, um ao Beira-Mar e outro ao U. Lamas para a Taça.

Sim, mas estava a jogar a médio. É diferente. Não sou um central goleador.

O Polga faz poucos golos mas nas bolas paradas parece sempre no lance.

É verdade, ainda ontem [entrevista foi na terça-feira, a seguir ao Olhanense-Sporting] teve uma oportunidade ao segundo poste.

Foi um bom colega?

Foi, foi. Chegou no ano do Fernando Santos. Sempre com uma grande vontade de trabalhar, de evoluir. Essas pessoas têm de ser sempre bem-vindas e bem vistas.

Achas que por vezes ele pode ser incompreendido, como tu foste?

Depende do que é a incompreensão. Errar todos erramos. Mas há erros do Manel que são mais valorizados que os erros do Joaquim. Agora isso, o futebol é um mundo que move paixões e multidões. E depois, ainda por cima, quase todos percebemos muito de futebol e todos nós sentimos direito a dar a nossa opinião.

Karoglan, Klinsmann, Acosta e depois Jardel, nos treinos. E nos jogos? Quem era mais difícil de marcar?

O avançado mais difícil que apanhei até hoje, que esse sim pensava “epá, não me apareças mais à frente”… foi o Bellucci [Claudio Bellucci]. Que martelo, rapaz! É daqueles gajos que não param. Joguei contra grandes campeões. Contra Weah, Vieri, Ronaldo, Inzaghi, mas esse foi definitivamente o que não gostei de apanhar. Ele saltava, corria, chateava-me muito.

E ser campeão no Sporting?

É sempre um sentimento de satisfação e orgulho. Estive seis anos no Sporting e nesses seis anos consegui ganhar todos os títulos a nível nacional. Infelizmente, no Sporting isso não é muito usual. Num ano conseguimos ganhar os títulos todos e depois tive a oportunidade de chegar a uma final da Taça UEFA. Final essa e resultado esse que estão atravessados.

Foi o pior momento?

Sim, é a maior tristeza. Não é todos os dias que se chega a uma final europeia, que é no nosso país e no nosso estádio. E depois chegar ao final da primeira parte a ganhar e acabarmos com aquele tremendo sentimento de frustração.

Foi difícil para o plantel atravessar toda a crise do Jardel?

Com certeza. Depois de fazer tudo o que ele fez numa época em que somos campeões... Se não tivermos esse colega na melhor das suas capacidades, vamos sofrer. Se depois tivermos de sofrer com incertezas constantes que afectam a equipa, é natural que o plantel saia abalado. No meio disto tudo, a grande tristeza é ver o Jardel nos dias de hoje. Essa é que é a grande derrota.

E ver um miúdo…

[Interrompe, percebendo que a pergunta era sobre Ronaldo.] Que já na altura dizia que ia ser o melhor do mundo! E que depois se veio a confirmar. Naquela altura olhávamos para ele com um ar de “olha para este puto...” Há coisas que são um dom e que nascem connosco. Há coisas que só duas ou três pessoas é que têm. Ele foi um dos que nasceram com isso, mas aliou esse dom a uma vontade de trabalhar e a um profissionalismo que deveriam ser um exemplo para muitos dos nossos jovens. O Cristiano era aquele miúdo que no aquecimento já estava a competir com os colegas, não havia limites. Tanto não havia limites que lhe tiveram de fechar as portas do ginásio para não ir para lá à noite.

Os campos sintéticos são um terror ou foi só um azar?

Aquilo [campo do 1.o Dezembro, onde se lesionou gravemente] não era sintético, era uma alcatifa. Estava horrível. As coisas quando têm de acontecer acontecem. Mas não vou por aí, não vou por terrores. Não tenho esses fantasmas. Mas, se me perguntarem se gosto de jogar em sintéticos, não gosto.

E se houvesse um jogo fora em sintéticos?

Quando estava no V. Setúbal houve um e não fui. Aconselhado pelos médicos.

Aos 35 anos estás num dos melhores momentos fisicamente?

Tenho a sorte de nos últimos três anos não ter tido lesões significativas. Infelizmente, tive muitas lesões com paragens ao longo da minha carreira, que afectam muito. Tenho a perfeita noção disso. Quando as coisas pareciam estar a correr bem… pfff, toca a vir para baixo. E outra vez. E outra vez.

Não é a primeira vez que voltas a Alvalade como jogador. Esperas alguma coisa especial?

Especial é reencontrar pessoas com quem trabalhei e haver respeito dos dois lados. É uma casa onde conquistei algo.

Vais levar alguma garrafa de vinho para o Paulinho?

Não, espero é que ele tenha lá alguma coisa para mim. Não, estou a brincar, até porque não estamos em altura para celebrar.

 

In ionline.pt


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