Categoricamente. «Conduzi inteligentemente a minha corrida, tendo começado calmo, sereno, tranquilo. Nem eu próprio esperava de mim este autocontrolo. A certa altura, vendo Rono, Mora e José João da Silva na dianteira lançados doidamente na subida da Consolação, percebi que eles não aguentariam aquele ritmo infernal e foi então que, pouco depois, joguei a minha cartada. Senti que ninguém poderia sequer discutir comigo, a partir de então.»

E foi uma cavalgada apoteótica até à meta. Apenas com um instante de... dúvida. E medo. A meio da subida da Consolação, sentiu ligeira dor na virilha, vacilou, mas o polícia da moto que seguia a seu lado gritou-lhe: «Não desiste, vai meu chapa que esta é tua». E foi. Henry Rono, recordista mundial de 10 mil metros, à passagem pelo seu hotel... parou e foi para o quarto, desiludido, vencido pelo «foguete» português que por ele passara, quando lá se arrastava, desfalecido. Estava já no pódio quando Rosa Mota, ouvindo os acordes de «A Portuguesa», se desenvencilhou das demais candidatas, disparando para a sua segunda vitória consecutiva.

«Quando entrei na avenida Paulista e ouvi o hino parece que ganhei ainda mais força, feliz pelo Lopes, feliz por Portugal. E esta vitória foi muito importante para mim, porque se ainda havia dúvidas sobre o que eu valho devem ter ficado, definitivamente, destruídas...» Atracção na corrida, sobretudo antes dela, foi a participação, tão badalada como a presença de Rono, de 14 índios xavantes que, durante a peleja, se perderam, sem sinal de si – não surgindo um só deles entre os mil primeiros classificados.

In abola