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Salomão: Como a vida fez homem do menino Salomão PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Domingo, 24 Outubro 2010 21:54

101002_salomao485x400A ladeira que todos os dias subia a pé, sozinho, desde a Reboleira até ao campo do Damaiense, terá sido a menor das dificuldades que Diogo Salomão enfrentou ao longo dos seus 22 anos. Ter de fazer esse caminho, por atalhos, para chegar ao pelado que fica encostado ao IC19 e a uma passadeira de distância da escola onde Rui Costa estudou, já era consequência de uma dessas adversidades: por volta dos 12 anos, na passagem do escalão de infantis para o de iniciados, foi inesperadamente dispensado do Estrela da Amadora. Por ser franzino, apesar de o relatório do treinador dos infantis, Raul Silva, alertar para o desperdício que seria libertar um pé esquerdo assim. "Destacava-se muito dos outros, desequilibrava. Faltava-lhe corpo, mas tinha tudo o resto, um talento nato que só podia dar no que deu", recorda Raul Silva.

Obrigado a deixar o clube que ficava literalmente do lado de lá da estrada, Salomão, um orgulhoso habitante do subúrbio da Reboleira - embora há cerca de cinco anos more uma avenida abaixo, já na Falagueira -, encontrou no Damaiense um local de refúgio, um espaço para continuar a jogar - e recuperar a auto-estima. "Ele é que tomou a iniciativa de nos procurar. Chegou desanimado, mas facilmente recuperou a alegria", conta Joaquim da Conceição, presidente do clube da Damaia. Sozinho, Salomão fazia depois das aulas cerca de 15 minutos a pé, vindo da Reboleira, para treinar num campo que hoje tem um digno relvado sintético, mas que antes era pó no Verão e lama no Inverno, sem as condições dos tricolores - as torneiras nem sempre deitavam água quente, os banhos às vezes eram gelados.

Os sacrifícios pareciam até fazer sentido: depois de três anos a confirmar-se como potencial craque, começando até a chamar a atenção dos principais clubes da capital, Salomão, filho único de um guineense e de uma portuguesa, era recuperado pelo Estrela, que o tinha visto (e aprovado) em treinos de captação abertos a quem tinha seguido para o campo lá do alto. "Fizemos um protocolo entre os dois clubes, e eles decidiram, e bem, ver todos os miúdos que aqui estavam. Foi assim que o recuperaram, na altura como juvenil de segundo ano", explica José António Salvado, antigo dirigente do Estrela, que já conhece o jovem futebolista desde pequeno e chega a chorar, comovido, enquanto fala de Salomão, que em pequeno todos na sua rua se lembram de ver agarrado à bola de futebol e equipado a rigor, fosse com camisolas do Arsenal ou do Barcelona.

Acidente do pai e nova dispensa

Fã da cultura rap e de um estilo marcadamente suburbano que só recentemente deixou de ter tão visível, libertando-se de piercings e brincos, Salomão voltava assim ao ponto de partida, ao clube onde se iniciara com apenas seis anos. Longe de imaginar, porque as tragédias não se imaginam nem se fazem anunciar, que a vida ainda o obrigaria a subir uma ladeira bem mais íngreme, a mais íngreme de todas. O pai sofreu um brutal acidente de viação e ficou tetraplégico. Filho único, o jovem Salomão, na altura com cerca de 16 anos, aguentou-se, apoiou-se em si próprio, suportando assim a maior dor que sentiu na vida e ganhando ainda mais força para encarar o futuro, fosse este qual fosse, enquanto conseguia resistir aos maus caminhos e até dar corpo aos estudos no secundário - tem o 11º ano incompleto, na área de Desporto.

O destino pregar-lhe-ia, porém, nova partida. Um ano de bom nível nos juvenis do Estrela não bastou para convencer o treinador dos juniores, Miguel Quaresma - agora adjunto de... Jorge Jesus no Benfica -, que o dispensou. Um choque a seguir a outro, mas uma vez mais sem que Salomão conjugasse o verbo desistir. Por sugestão de José Viriato, que já o conhecia do Damaiense, foi jogar para o Casa Pia, etapa fundamental da sua ascensão. Em Pina Manique, para onde se deslocava sozinho de autocarro, esteve dois anos de júnior e um de sénior. Ali ganharia o primeiro salário, de 713 euros, dinheiro que o ajudou a tirar a carta e comprar um carro, o Seat Ibiza que ainda hoje conduz, partindo em definitivo para uma história que se antevê de sucesso, sendo certo que, se tiver dificuldades, ele estará preparado para as enfrentar.

Chamavam-lhe Simãozinho da Reboleira

O cabelo encaracolado, o estilo eléctrico e empolgante de Diogo Salomão fazem nalguns momentos lembrar... Simão Sabrosa, antigo jogador do Sporting, formado no clube de Alvalade, que, no entanto, se veio a destacar mais no Benfica. E, coincidência ou não, já em pequeno o jovem da Reboleira era comparado ao futebolista que actualmente representa o Atlético de Madrid (não fosse o facto de o segundo usar preferencialmente o pé direito, as semelhanças seriam quase absolutas). "Quase toda a gente lhe chamava Simãozinho. Era muito rápido e eléctrico, como o Simão", revela Raul Silva, um dos treinadores que Diogo Salomão teve nos infantis do Estrela da Amadora e que hoje faz parte da estrutura do Damaiense.

Trio Odemira do Casa Pia

Dispensado pela segunda vez do Estrela da Amadora na transição de juvenil para júnior, Diogo Salomão encontrou consolo no Casa Pia. Dava duplamente nas vistas: usava uma quantidade invulgar de piercings e desequilibrava os jogos todos. O estilo irreverente, porém, só se notava mesmo em campo. "É uma jóia de miúdo. Portou-se sempre bem, sempre educado, respeitador de colegas e treinadores. Muito tranquilo, nunca deu qualquer tipo de problemas", observa José Luís Pereira, vice-presidente do clube casapiano.

Nos gansos, Salomão ficou dois anos na equipa de juniores, antes de uma temporada como sénior que lhe permitiria prender em definitivo a atenção de emblemas de maior dimensão. Nesse ano, o esquerdino passou a fazer parte do... Trio Odemira. Assim era designado o talentoso tridente ofensivo que formava com Zeca (agora jogador do Setúbal, à direita na foto) e Pedro Santos (que se transferiu para o Leixões). "Andavam sempre juntos. Entendiam-se dentro e fora do campo. Não davam hipóteses aos adversários", conta José Luís Pereira.

Na época seguinte, o jovem da Reboleira reforçou o Real de Massamá, e foi então que o seu nome começou a circular com insistência nos bastidores, sobretudo depois de Oceano o chamar para a Selecção de sub-21. Com clubes portugueses e europeus ao barulho, o Sporting acabou por ganhar a corrida garantindo o seu passe por uma verba a rondar os cem mil euros. "Uma pechincha. Vão vendê-lo por milhões. E ainda nem viram metade daquilo que ele vale. Quando ele se sentir mais à vontade, sem aquele medo natural de errar, então é que vão ver o talento que este miúdo tem. É um futebolista de corpo inteiro", indica, convicto, o dirigente dos gansos.

Novo craque leonino é primo direito da estrela televisiva Daniel Oliveira

Diogo Salomão não é o único famoso da família. O jovem futebolista do Sporting é primo direito do apresentador televisivo Daniel Oliveira. A mãe de Salomão é irmã da mãe do conhecido comunicador, que neste momento apresenta o programa "Alta Definição", na SIC (curiosamente, o convidado da edição de ontem foi o novo seleccionador nacional, Paulo Bento). E também Daniel Oliveira tem uma vida em que subiu a pulso, em condições agravadas pelo facto (assumido abertamente pelo próprio, em livro) de os seus pais serem toxicodependentes - cresceu com uma tia e com os avós também nas ruas da Reboleira e da Amadora. Diz quem sabe que, apesar da sua proximidade com algumas figuras de renome no futebol, o apresentador nunca caiu na tentação de meter cunhas para o primo. Que assim chegou onde chegou simplesmente pelo seu mérito. E talento.

Paulo Sérgio
"Tem cabeça e vai fazer melhor"

Desempenhos arrebatadores e elogios unânimes da crítica têm marcado os últimos jogos de Diogo Salomão. No entanto, avisado, profiláctico, pedagogo, Paulo Sérgio faz questão em colocar um travão na euforia que de um momento para o outro envolveu o extremo, por isso tem "falado com ele" e mostra-se... confiante: "Tem cabeça e mentalidade para suportar a fama. Acredito que vai fazer melhor, e não está a superar as minhas expectativas. Agora abrimos as páginas dos jornais e vemos as parangonas... Tenho falado com ele, acho que tem cabeça para aguentar, mas, se não tivesse, era perigoso." O técnico assegura apoio total ao explosivo 33. "Vamos saber protegê-lo. Estou satisfeito com o seu crescimento e acredito que ele vai fazer melhor do que até aqui", sublinhou.

Ainda a morar com a mãe

Salomão continua a comer os pratos da mãe - adora bacalhau -, com quem vive num apartamento na Falagueira. Encontra-se frequentemente com os amigos de infância e no Verão são vulgares as idas em grupo até à praia.

Rap e hip-hop no topo dos gostos

Música e cinema são dois dos passatempos preferidos de Salomão. O jovem futebolista sportinguista adora rap e hip-hop, em particular o ritmo de Ferry, um rapista também da Reboleira que até faz questão de divulgar na sua página no Facebook.

Já jogou um ano a... lateral

No ano em que voltou ao Estrela, como juvenil, Salomão jogou a época toda a lateral-esquerdo. Ele que tem como ídolos Giggs, o brasileiro Ronaldo (Fenómeno) e... Nani, jogador com o qual é comparado, até por terem passado ambos pelo Real.

Ganha agora dez vezes mais

Diogo Salomão tem agora um salário de cerca de dez mil euros mensais. No Casa Pia, ganhava exactamente 713 euros (valor definido pelos regulamentos) e, do Real, levava para casa 850.

30 mil são para o damaiense

A transferência de Salomão para o Sporting ficou orçada em cem mil euros, dos quais 30 mil são para o Damaiense. Os clubes, que têm boas relações, estão neste momento a acertar o pagamento da verba.

 

In ojogo.pt


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