Arnaldo Abrantes não se lembra do pai atleta. Mas viu bastantes fotos dele e ouviu-o falar da sua carreira e, em especial, da sua presença nos Jogos Olímpicos de Seoul'1988. Só não contava é conseguir ultrapassar tão cedo os seus recordes nem obter os mínimos olímpicos logo aos 20 anos.

O pequeno Arnaldo começou a praticar atletismo aos 9 anos, no Núcleo do Laranjeiro. Mas só começou a dar nas vistas uns anos mais tarde, como juvenil, já treinado por um outro antigo velocista olímpico, Pedro Agostinho, colega de pistas do seu pai.

 Nas Jornadas Olímpicas da Juventude Europeia, uma espécie de Campeonato da Europa de Juvenis, ganhou a medalha de prata nos 110 m barreiras e foi quarto nos 200 metros. Ingressou no Benfica (o prof. Moniz Pereira falara com o pai, mas não mais insistira), onde foi campeão júnior e só dois anos depois (finais de 2005) concretizou o sonho de vestir a camisola do Sporting que se habituara a ver (em fotos) o pai envergar. Passou a ser treinado por Anabela Leite e rapidamente se confirmou como o segundo sprinter nacional, a seguir a Francis Obikwelu.

Em Julho passado, depois de sofrer uma pequena desilusão ao não conseguir chegar às finais dos 100 e 200 metros do Europeu de Sub-23 (calhou duas vezes na pista 1 nas meias-finais ), foi surpreendido com o mínimo para o Mundial de Osaca, ao conseguir 20,74 nos Campeonatos de Portugal, sendo segundo depois de Obikwelu.

Após uma hesitação inicial, desistiu das férias (já pagas ) com a família, em Moçambique, e em tão boa hora que no Mundial não só passou a primeira eliminatória como conseguiu 20,48, melhor marca europeia Sub-23 do ano, "recorde nacional sem Obikwelu" e mínimo para os Jogos.

Bom estudante de medicina, resolveu fazer uma semipausa nos estudos para melhor preparar este ano olímpico. Arnaldo Abrantes está a cumprir os sonhos de criança bem mais cedo do que contava.

Atleta olímpico 20 anos depois do pai nos Jogos de Seoul

 
Arnaldo Abrantes, pai do actual atleta com o mesmo nome, foi olímpico em Seoul, em 1988, precisamente 20 anos antes do filho estar em Pequim. O pai foi atleta do Sporting, igualmente velocista, chegando mesmo a recordista nacional de 100 m, com 10,44, marca que o filho já ultrapassou, com 10,31. Nos 200 m, o pai chegou a 20,91 e o filho já vai em 20,48. Para grande alegria do progenitor, que acompanha a carreira dos filhos de perto. O jovem Arnaldo tem ainda um irmão, João, prometedor varista do Sporting.

3 Perguntas

RECORD - Ao fazer, de forma inesperada, o mínimo para o Mundial de Osaca, prescindiu de férias em Moçambique com a família. Não se arrependeu?
ARNALDO ABRANTES - Claro que não, apesar de os meus pais terem gostado muito e de já ter visto fotos e vídeos sensacionais. Mas Moçambique não foge.

R - Que metas, em termos de marcas, traçou para 2008?
AA - Embora os 200 m sejam a prova principal, é bom ter uma meta nos 100 m e essa é o mínimo olímpico A (10,21). Nos 200 m, bater o meu recorde pessoal (20,48) seria óptimo mas começa a ser difícil. Quero tornar-me consistente.

R - Que espera dos Jogos Olímpicos?

AA - É cumprir um sonho de criança, influenciado pelo que o meu pai me contava a sua experiência. Quero viver estes Jogos com alegria, sem nervosismo, como no Mundial. Até os resultados poderão sair beneficiados

In record.pt