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 De 2003 até hoje pouco se falou dele. Até o seu nome ter aparecido nas eleições do Sporting. Em exclusivo ao i, Futre conta o que andou a fazer nestes oito anos
Paulo Futre foi apresentado esta semana como o grande trunfo eleitoral de Dias Ferreira, para gerir o futebol, na candidatura deste à presidência do Sporting. A partir de 2003 ''el portugués'' (a sua alcunha no país vizinho) deixou de ser director desportivo do At. Madrid e o seu nome desapareceu das manchetes. O que tem feito, nos últimos oito anos, um dos maiores ícones de sempre do futebol português?
Fomos à procura dele, sem sair do sítio, mas conseguimos que um dos homens mais ocupados de Espanha atendesse os nossos telefonemas e explicasse como tem sido a sua vida. Sim, porque questões sobre o Sporting terão de ficar para mais tarde, depois dos jogos importantes para a Liga Europa (Rangers) e Taça da Liga (Benfica).
"O que tenho feito desde 2003? Estive na sombra, não apareço. Faço a ligação entre os representantes dos jogadores e os clubes. Estudo bem o mercado. Por exemplo, ligam-me a dizer ''preciso de um lateral esquerdo'' e eu faço os contactos necessários", começa por dizer ao i. Futre é o homem dos contactos, não pára, está sempre agarrado aos telemóveis, bebe café e fuma tabaco a um ritmo difícil de acompanhar para a maioria dos mortais. E além do futebol, mantém os negócios imobiliários, pergunto rapidamente antes que o tempo disponível se esgote. "Agora trabalho mais com empresas de construção, pois o imobiliário estagnou um bocado com a crise, e temos de encontrar soluções. Por exemplo, ajudo empresas espanholas em Angola a desbloquear problemas. Entro em contacto com eles e resolvo o que for preciso", responde.
Ok, Futre, qual MacGyver, analisa e soluciona problemas num piscar de olhos. Com uma vantagem: pode estar a milhares de quilómetros de distância e só precisa de um telemóvel, enquanto a estrela de televisão tinha de juntar muitos ingredientes para fabricar uma qualquer bomba artesanal ou escapar de uma prisão. Para isso, Futre tem uma empresa de consultoria que "trabalha em várias áreas de negócio como a energia, a construção e o imobiliário". "Nos últimos dois anos estou a virar-me para os países árabes, além de Angola e Marrocos. Agora há ainda o Qatar, que com o Mundial-2022 vai ser uma óptima plataforma de negócio", diz, num português tão rápido como os seus arranques no FC Porto. Mas se os petrodoláres chamam por ele, Futre não esquece as suas origens. "Ainda tenho alguns terrenos no Montijo. Gostava de terminar o projecto que tenho para a Residence Paulo Futre (um complexo habitacional), um pátio no centro do Montijo, que fica na rua onde nasci, junto à Praça da República. Mas estou à espera da melhor altura", explica.
Madrid é o centro do mundo Aos 44 anos, Futre continua a viver na capital espanhola, depois de Montijo, Porto, Lisboa, Marselha, Reggio Emilia, Milão, Londres e Yokohama, tudo entre 1983 e 1998. E explica porquê: "A cidade tem um brilho especial. O Inverno pode ser frio mas não há três dias seguidos sem sol. O Figo voltou, o Zidane voltou... quem passa aqui não sai facilmente. Há pessoas de todos os lados a vir para Madrid. Por isso mantenho o meu escritório na Castellana [uma das principais avenidas de Madrid]". Apesar de já passar das 22h45 em Espanha, Futre está bem disposto e acede a responder a mais duas questões. Queremos saber como, no meio de tantos negócios, arranja tempo para se envolver no mercado de jogadores. "No Verão deixo sempre os outros negócios e viro-me para o futebol e as transferências. Está-me no sangue, não consigo evitar. Começa tudo a ligar-me e eu não consigo dizer que não...", afirma. Contudo, como não é empresário de jogadores, o seu nome nunca aparece. Apenas em 2009 se falou que Futre sugeriu a José Mari Bakero treinar o Sporting, após a saída de Paulo Bento, mas tal nunca se concretizou.
E por falar em Sporting, pergunta para queijo: "Como vai fazer, com todos os negócios que tem em Madrid, se o Dias Ferreira vencer as eleições?". Futre não dribla a questão e dispara de pronto. "Ainda nem pensei nisso! Recebi o convite para o Sporting, foi um orgulho enorme, e decidi avançar em apenas quatro ou cinco dias. Não sei como, mas se isso acontecer, a minha vida terá de levar uma grande volta!", conclui. Dias Ferreira é que parece não ter dúvidas. "O futebol do Sporting não pode ser dirigido à distância", disse esta semana ao "CM". Para bom entendedor...
Paixões "O Sporting foi a minha mãe, o meu pai. Tive que sair porque um treinador queria dispensar-me, mas o Sporting esteve, está e sempre estará no meu coração", voltou a dizer esta semana, quando se encontrou com o candidato à presidência dos leões, em Lisboa. Os sócios do Sporting nunca esqueceram a saída do jovem extremo, formado nas escolas do clube, para o rival FC Porto. Depois, em 1993, quando tinha tudo certo para regressar a Alvalade, assinou pelo Benfica ("ainda hoje, de vez em quando, me chamam traidor", admitiu à "Marca"). Como se não bastasse, o ano passado, no Estoril Open, saiu-se com esta pérola: "Espero ver o Benfica campeão, para bem de Portugal. Dizem que somos seis em cada dez, mas acho que somos sete". Será que a massa associativa leonina o vai perdoar para regressar pela porta grande? Só depois de 26 de Março se verá, caso Dias Ferreira vença as eleições.
Curiosamente, o demissionário presidente da AG do Sporting reuniu-se várias vezes com Futre, em 1997, para o antigo jogador fazer parte do projecto Roquette. Em 2003 foi Luís Filipe Vieira a convidá-lo para ser director desportivo das águias. O regresso nunca se concretizou. Como vai terminar este novo capítulo da novela Futre/Sporting? "Prognósticos? Só no fim do jogo", já dizia o outro.
In ionline.pt
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