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Futsal, Orlando Duarte: «Vamos ser campeões» PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Domingo, 15 Maio 2011 12:46

110515_orlando_duarteRegressou ao futsal do Sporting depois de 10 anos como selecionador nacional, porque tinha vontade de trabalhar diariamente; já conquistou a Supertaça e a Taça, além de se ter sagrado vice-campeão europeu, e agora vai lutar pela revalidação do título nacional.

RECORD – O Sporting acabou de conquistar a Taça de Portugal, o que faz com que a época esteja a correr de forma muito favorável. A sua equipa foi mesmo superior e podia ter evitado o prolongamento?

ORLANDO DUARTE - Não foi assim tão linear. Na primeira parte fomos muito superiores e, se estivéssemos a golear, não seria anormal. Na segunda parte, o Benfica, equipa forte, reagiu. Sofremos um golo logo no início e isso mexeu connosco, baixando em demasia as nossas linhas. Em termos comparativos, quando jogámos uma semana antes a Liga dos Campeões do futsal, se assim lhe pudermos chamar, porque são as melhores equipas da Europa, jogámos com uma equipa defensiva que nos ganhou bem. Fomos burros, e se calhar não abordámos esse jogo da melhor maneira. Defrontámos uma equipa que defendeu o jogo todo e contra-atacou. É engraçado ouvir dizer agora que defendemos na segunda parte com o Benfica. É evidente, mas isso reflete qualidade no trabalho. Sabemos sofrer quando é necessário, somos organizados a atacar e a defender, com princípios bem definidos. Mas parece-me que o Benfica quase não teve ocasiões de golo. Podíamos de facto ter evitado o prolongamento por aquele erro do árbitro, que certamente não foi propositado. Mas nós também não reagimos da melhor maneira. Um canto a nosso favor foi transformado em lançamento de baliza e fomos apanhados com as calças na mão. Quando tentámos recuperar, fomos por ali acima, mas já não fomos a tempo, ficámos em inferioridade numérica e sofremos o golo. Isto tudo aconteceu a 50 e tal segundos do fim.

RECORD - O jogo com o Montesilvano, na final da UEFA Futsal Cup, serviu de alerta para a final da Taça?

ORLANDO DUARTE - Serviu de alerta para não cairmos nos mesmos erros quando tivermos de defrontar equipas que joguem daquela forma. Sabemos o que queremos e os jogos não nos afetam. Não mudamos a nossa forma de jogar em função do adversário, embora com um ou outro pormenor, mas temos muitas soluções para abordar os jogos. Não mudamos por mudar.

RECORD – Foi uma grande desilusão não ter ganho a que chamou de Liga dos Campeões?

ORLANDO DUARTE - Foi. Até terça-feira ninguém mostrava os dentes, porque ninguém conseguia sorrir. Quarta já rimos um bocadinho, quinta um pouco mais, porque vinha aí um jogo importante para a Taça de Portugal. A seguir ao jogo ainda nos rimos mais porque ganhámos. Passámos de um fase de tristeza grande para uma alegria. Nós temos 4 objetivos definidos porque são 4 as provas em que competimos. Mas o nosso objetivo é outro: é sermos cada vez mais competentes, com maior qualidade de trabalho, sermos melhores e mais fortes. Esse é o caminho e o nosso real objetivo. A partir daí, as competições que nos aparecem, se o objetivo estiver atingido, mais facilmente ganhamos. É assim que falo com os jogadores. Em público dizemos que queremos ganhar provas. Ganhámos a Supertaça, a Taça e somos vice-campeões europeus. Não me parece que seja assim tão mau, apesar de achar que queríamos ter sido campeões europeus, e ficámos desiludidos por não termos conseguido, ainda por cima porque somos melhores que eles. Se calhar em 10 jogos eles ganhavam-nos um ou dois, e foi logo aquele. Mas também já perguntei em quantos setores da nossa vida é que somos segundos na Europa em alguma coisa. Olho para o lado e não vejo nenhum caso. E no futsal somos. Portugal tinha um campeão europeu, que era o Benfica, e nós fomos segundos no ano seguinte, além de sermos vice-campeões europeus também de seleções. O futsal está muito lá em cima e ficamos satisfeitos com isso.

RECORD - A juntar a estes dois títulos e ao segundo lugar europeu, há agora mais um objetivo para lutar, que é o campeonato. Mais uma competição para ganhar?

ORLANDO DUARTE - Sim, mas o verdadeiro campeonato só vai começar agora, porque não há campeões de fases regulares. Não nos preocupámos muito com isso até agora, embora tenhamos tentado os primeiros lugares para podermos jogar mais vezes em casa. Só que, para chegarmos à final, vamos ter muitos jogos difíceis pela frente. Chegámos a três finais temporizando o nosso trabalho e seguindo os nossos princípios, e agora vamos dedicar-nos ao playoff.

RECORD – O facto do campeonato ser a única competição que o Benfica, principal rival do Sporting, pode conquistar esta época, faz com que tenham de estar ainda melhor preparados?

ORLANDO DUARTE - Em primeiro lugar, o Benfica tem de chegar à final, para poder discutir o título. E nós também. Acho que as 8 equipas que lá estão podem ser campeãs. Nós ficámos em segundo e acredito que vamos acabar em primeiro. Vamos ser campeões. É evidente que há equipas fortes e bem organizadas. São 2 jogos e um 3º se for necessário. Falhando o primeiro, temos obrigatoriamente de ganhar o segundo e o terceiro para seguir em frente. Pode acontecer. O Belenenses, o Instituto, o Fundão são muito fortes e organizados. Mas tenho a convicção que somos a melhor equipa e os melhor organizados. Só que no futebol há sempre que contar com os fatores aleatórios.

RECORD - Acredita que vai ser campeão nacional?

ORLANDO DUARTE - Se fosse por pontos, como na ginástica, acredito que sim. Se fizermos o mesmo que na primeira parte com o Montesilvano, não seremos campeões; mas se jogarmos como na primeira parte do jogo da Taça com o Benfica, estaremos muito perto de ser campeões nacionais. Vamos ter escolhos pelo caminho, claro. Se passarmos o Boticas teremos o Fundão ou o Belenenses, que são equipas fortes, até chegar à final. Mas agora é que está a começar o campeonato.

RECORD - É difícil gerir a pressão e a responsabilidade constante, tendo em conta os objetivos?

ORLANDO DUARTE - É fácil. Se a minha motivação for constante, é fácil transferir isso para os jogadores. Numa ou outra vez, por me distrair um pouco ou por não estar no treino, por estar a tratar de um assunto qualquer, acontece o mesmo com eles. Mas como isso raramente se passa, eles percebem e entusiasmam-se. Temos um grupo excecional, com gente aplicada e que quer ganhar. Agora falta o campeonato e também é para ganhar. Mas não é difícil. Quem jogou, e eu joguei muitos anos, se pudesse jogava até aos 80 anos. É isso que nos dá gozo. Quando as pernas já não ajudam, há a segunda opção, que é ser treinador. E foi o que me aconteceu. Mas tudo com paixão e determinação, sempre a tentar ganhar qualidade. Este entusiasmo tem de ser permanente. Quando deixar de acontecer, reformo-me.

RECORD – Esteve praticamente 10 anos na Seleção Nacional. Deixou o Sporting campeão e regressa com o Sporting campeão. Detetou muitas diferenças neste período temporal?

ORLANDO DUARTE - Éramos amadores na altura e agora a estrutura é profissional. É a grande diferença. Ao nível dos jogadores, lembro que vinham do trabalho ou da faculdade, e treinavam bem, empenhavam-se. Neste momento já não é diferente. Temos jogadores profissionais, e treinamos quando queremos. As facilidades são maiores. Ganha-se mais também e a estrutura por trás também nos ajuda bastante. Há 10 anos também éramos profissionais naquilo que fazíamos, apesar de cada um ter o seu trabalho. Não é o que se recebe ao fim do mês que faz de nós melhores ou piores. É qualidade que se dá ao trabalho.

RECORD - Como correu essa readaptação? Foi fácil ou difícil?

ORLANDO DUARTE – Era o que eu queria e por isso é deixei a Seleção. Estava farto de ter um emprego e queria trabalho. O trabalho de seleção é de 2 em 2 meses, ou uma vez por mês, e até houve uma fase de 6 meses sem atividade. Gosto de treinar diariamente. Comecei a ficar farto, mas não tem nada a ver com as pessoas, mas comigo próprio. Quando fiz o primeiro contrato com a FPF, em 2000, embora antes já fosse adjunto do coronel Fernando Lopes e treinava o Sporting ao mesmo tempo, foi-me prometido ter várias seleções, com trabalho mensal, com os sub-21 e os sub-18. Numa primeira fase ainda fizemos um ou outro estágio, mas depois acabou tudo.

RECORD - E acabou porquê?

ORLANDO DUARTE - Isso é de perguntar à federação, não a mim. O que me justificaram é que não havia provas internacionais. Tem sido sempre essa a justificação. Agora não sei, porque já não estou lá. Gostei muito de trabalhar com aquelas pessoas. A questão é a estrutura. Compreendo mas não aceito essa orientação. Não há provas, não há seleções. Depois há um Europeu de sub-21 em S. Petersburgo, em 2008, e nós não fomos.

RECORD – Como vê o trabalho que tem sido feito na Seleção Nacional desde que saiu?

ORLANDO DUARTE - A minha satisfação quando deixei a seleção foi que aceitaram a minha opinião, fazendo com que o Jorge Braz se mantivesse lá. É uma das pessoas mais competentes que conheço. Além disso, é meu amigo, e pode contar comigopara tudo. O sucesso da Seleção é o de todos nós. Dá-me prazer perceber que ele é competente e que a seleção está bem entregue. Com a qualidade de trabalho, a Seleção tem o futuro garantido.

RECORD – Ainda há muitos passos que o futsal tem de dar para se impor definitivamente?

ORLANDO DUARTE – Há uma coisa importante. Os clubes deixaram de olhar para o umbigo deles e começaram a olhar para o futuro imediato. Reuniram-se todos e a intenção é muito boa. Espero que vão em frente e lutem por esta modalidade. Há outra coisa: quando havia uma federação internacional, foi mais ou menos desativada pela FIFA. Aglutinou-se o futsal mas não foi para o desenvolvimento do futsal. Foi mais para o controlar. Não se percebe, por exemplo, como é que a UEFA organizou um Europeu de sub-21 há 3 anos e agora não se sabe quando e sequer se vai haver próximo. Não há competições para jovens nem para equipas femininas.

RECORD – Acha que isso é uma estratégia da FIFA e da UEFA?

ORLANDO DUARTE – A intenção é a de controlar o crescimento do futsal. Assumindo que não queriam que se desenvolvesse muito. Todos os anos na confederação sul-americana há um campeonato feminino e outro de sub-20. Na Ásia a mesma coisa. Só na Europa e em África é que não existe nada. E em África percebe-se, pela enorme desorganização. Na Europa, que é a confederação melhor organizada, não se percebe. E a FIFA também não se preocupa com nada disto.

RECORD - O que se espera que os clubes façam com estas reuniões?

ORLANDO DUARTE - Espero que marquem posição em relação ao que todos nós queremos, que é traçar uma estratégia futura para a modalidade. Por exemplo: é importante que haja gente que se ocupe com o futsal na FPF. Há lá pessoas que trabalham para o futebol, desalmadamente, mas também para o futsal, e o caminho não pode ser esse. Tem de haver uma estrutura só para o futsal, e foi por isso que lutei durante todos estes anos.

RECORD – É hoje impossível ignorar que o futsal está num plano invejável. Acha que há um medo qualquer da FIFA e da UEFA em relação à modalidade?

ORLANDO DUARTE – É fácil perceber. No desporto escolar é de longe a modalidade mais praticada. As outras modalidades juntas não chegam ao futsal. Isto parece-me mais uma questão geracional. Há pessoas mais antigas que se calhar pensam que isto vai tirar gente ao futebol. Mas não é esse o problema. Temos muitos jovens que não saem de casa e do quarto e ficam agarrados às play stations. Saiam de casa, pratiquem futsal, futebol ou outra coisa qualquer! Só que há pessoas que não entendem bem isto, porque o futsal não vem tirar espaço ao futebol. Vamos dar condições àqueles que não fazem nada, ao contrário de nós, que jogávamos na rua. Tudo isso quase desapareceu. Essa atividade é o que os miúdos hoje não têm. Nas escolas o que é que temos? Só conheço duas que têm campos de futebol. As outras milhares tem campos de futsal. O desporto escolar é futsal, não é futebol. Depois, é tudo uma questão de saber canalizar para uma modalidade ou a outra. Isso é com eles, ou com os pais ou os professores. Eu joguei futebol, fui internacional, vejo alguns jogos, principalmente do Barcelona; mas também adoro futsal e reparo que ninguém retira espaço a ninguém. Só que tudo isso começa na FIFA. Enquanto estiverem lá esses cacos velhos, seremos sempre o parente pobre do futebol.

RECORD – Sente que a modalidade está preparada para travar esse combate?

ORLANDO DUARTE - Claro que está. Isto é uma bola de neve. Cada vez os jornais têm de dar mais espaço ao futsal, porque as pessoas gostam. No jogo de Oliveira de Azeméis, na final da Taça, havia 4 mil lugares no pavilhão, mas se calhar eram muito mais os interessados em ver o jogo. Houve jogos de futsal no Pavilhão Atlântico com 10 mil pessoas. E depois, sem querer com isso fazer comparações, vemos jogos de futebol com 500 pessoas na liga principal. No fundo, há que ver o que as pessoas gostam e ir ao encontro delas.

RECORD - Uma possível entrada do FC Porto poderia melhorar ainda mais a modalidade?

ORLANDO DUARTE - Acredito e espero que sim. Diz-se que tudo se decide entre as 3 equipas de Lisboa: Benfica, Sporting e Belenenses. Se o FC Porto aparecer pode ter uma equipa fabulosa. Conheço jogadores das melhores equipas que saltavam para lá imediatamente e acredito que ainda aumentava mais o interesse por esse país fora. Um clube de camisola é sempre importante. Se o FC Porto entrasse aumentava ainda mais o interesse no futsal.

«Apoio extraordinário da direção do Sporting»

RECORD - Que feedback tem recebido da nova direção do Sporting em relação ao futsal?

ORLANDO DUARTE - Temos tido um apoio extraordinário desta direção do Sporting. O presidente telefona constantemente. No Cazaquistão acompanhou tudo o que fazíamos, e já almoçámos juntos. Sentimos um apoio enorme e acredito que seja para manter. É gente muito capaz, e percebo que é uma direção que vai colocar o Sporting no seu devido lugar.

RECORD – Já ouvimos várias vezes o presidente dizer que o objetivo prioritário do Sporting é o futebol. Sente que o futsal vaicontinuar a ser apoiado como até aqui?

ORLANDO DUARTE – O Sporting é um clube eclético. Mas a mola real é o futebol. Já percebemos, pelo interesse demonstrado, que o futsal é para continuar e até para evoluir.

«Sentimos que gostam de bater no Sporting»

RECORD - Como vê a situação atual da arbitragem no futsal? Tem melhorado ou estagnou?

ORLANDO DUARTE - Nós queremos ser tratados da mesma forma que os outros. Nem melhor nem pior. Sentimos muitas vezes que gostam de bater no Sporting. Não sei se tem a ver comigo, por lá estar. É que sou demasiado frontal e honesto. Não gosto de paninhos quentes e o que tiver de dizer digo. No jogo da Taça, por exemplo, além daquele lance, que podia ter-nos custado o troféu, há agressões a 3 atletas nossos, que toda a gente viu, e os árbitros não viram. Peço igualdade de tratamento. Veja o caso do Cardinal: no jogo com o Benfica em Loures, atirou uma garrafa de água para a bancada; aliás, devolveu-a para onde veio. Um mês de castigo e nem reclamámos. No último jogo, um jogador do Benfica fez um gesto obsceno para a claque do Sporting, na cara do árbitro, a 5 ou 6 metros, e não acredito que não visse. Não foi castigado. Temos as imagens, que vão ser públicas, para que se perceba a diferença de tratamento. O nosso jogador mereceu o castigo, porque não devia ter feito aquilo. Passa impune o outro jogador que fez um gesto obsceno? Há que não ter medo de atuar, pela cor da camisola. Regras iguais para toda a gente é o que peço.

In record.pt


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