- Que balanço faz da temporada do Sporting, até agora?
- O primeiro objectivo foi alcançado, a conquista da Supertaça. No campeonato temos tido algumas irregularidades com que não contávamos. Conseguimos apenas 4 pontos em 4 jogos: vencemos o Odivelas, perdemos com o Alpendorada, empatámos ante o Benfica e sofremos outra derrota diante do Belenenses. O balanço em termos de objectivos está a 100 por cento. Quanto ao campeonato, já estamos com algum atraso.

- Qual a principal razão para esse atraso?
- A irregularidade. Em três jogos começámos a ganhar. Não tirando o mérito ao adversário, por alguma displicência acabámos por pôr em causa os objectivos traçados, que eram a vitória. Em Alpendorada sofremos 5 golos que foram cinco ofertas. Com o Benfica a 22 segundos do fim perdemos a possibilidade de amealhar os 3 pontos e ante o Belenenses a 25 segundos passámos de vencedor a derrotado. É caso para dizer que se os jogos tivessem menos 25 segundos estaríamos em 2.º lugar.

- O que falou com os jogadores sobre estes dois últimos jogos?
- Se analisarmos as estatísticas desses jogos, fomos superiores em remates, posse de bola e ocasiões de golo. Os guarda-redes do adversário tiveram sempre um maior número de defesas. Não podemos pôr em causa a qualidade que temos demonstrado só pelos minutos finais dos encontros. A sorte não nos tem acompanhado, criamos oportunidades e os jogadores tudo têm feito para vencer. Por alguma falta de concentração eles próprios admitem que podem pôr em causa todo o projecto de uma época.

- Na sua opinião admite-se que jogadores com a experiência que têm no campeonato nacional tenham esse problema?
- A equipa não tem a experiência que parece ter. Se tirarmos o Zezito a média de idades da equipa baixa para 23 anos.

- Mas a maioria dos jogadores já tem experiência no nosso campeonato.
- Daí eu estranhar o que se tem passado, tal como os adeptos. Trabalho com eles diariamente e sei a capacidade que têm. Estão num clube que tem cumprido com tudo o que promete e às vezes até demais. Se tivessem salários em atraso, como temos conhecimento todos os dias, se fossem chamados pela direcção a pedir para renegociar contratos ou se os treinadores os obrigassem a jogar lesionados, era mais desculpável. Os jogadores são os primeiros a sentir tristeza, falta de confiança e a querer inverter o rumo dos acontecimentos. A única forma de alterar esta situação é demonstrar a quem confia em nós que é apenas um momento mau. Podem manter a confiança, vamos fazer tudo para não defraudar as expectativas.

- Tem sentido o adeptos desiludidos?
- Não de forma directa. Ninguém vai aos pavilhões para ver a equipa perder. Se queremos o recinto cheio e as pessoas a acompanhar a equipa para todo o lado, chegou a altura de retribuir com melhores resultados a confiança que sempre depositaram em nós.

Paulo Fernandes quer equipa só com “prata da casa” dentro de 5 anos

Há alguns anos o Sporting era o maior fornecedor de atletas à Selecção Nacional, hoje tem sobretudo atletas brasileiros. A que se deve esta descaracterização?
A partir de certa altura, como em todas as instituições, tivemos de pensar no futuro. O Sporting, com as dificuldades económicas que atravessa, não pode ombrear com alguns orçamentos. Tendo em conta os escassos recursos financeiros e a necessidade de manter o nível competitivo, a alternativa foi recorrer ao mercado brasileiro, que não tem tantos custos.
O Sporting tem poucos jogadores que sirvam os interesses da Selecção Nacional, mas deu espaço a atletas como o João Matos ou o Djo, que têm já o seu lugar na equipa. Temos ainda o Eder e o Diogo, dois jovens prontos a dar o seu contributo.

Então a aposta no mercado nacional está apenas na formação?
Apostar em jogadores nacionais experientes seria incomportável para o nosso orçamento. Assim, é preferível contratar um brasileiro e apostar em portugueses que sejam da formação.
O Sporting é o único clube que luta pelo título com 50 por cento de jogadores formados no clube.
Se olharmos para os nossos principais adversários e para a Selecção Nacional, veremos que muitos atletas já passaram por este clube, tendo saído por razões financeiras.

Qual é o futuro da equipa sénior leonina, em termos de aposta na “prata da casa”?
O grande objectivo é fazer uma equipa só com jogadores oriundos da formação. Penso que no máximo dentro de 4 ou 5 anos teremos condições para isso. As bases estão lançadas, o caminho deve ser entendido como um rumo a seguir por outros clubes.

Paulo Fernandes: «A pressão é imposta por mim próprio»

Alguma vez sentiu o seu lugar em perigo?
Não. A pressão é imposta por mim próprio. Ninguém me mandou falar com os jogadores ou me obrigou a ter uma atitude de ditadura com eles.
O trabalho diário que faço há anos obriga-me a ser melhor do que no dia anterior e essa é a verdadeira pressão. Quando escolhi esta carreira sabia que não era possível prever o dia de amanhã. Não estou agarrado ao lugar.
Sei o trabalho que faço e fiz. Em 5 épocas vencemos dois campeonatos, duas taças de Portugal e duas supertaças.
Não penso que esteja com o lugar em perigo, mas do passado vivem apenas os museus e antiquários...

As saídas do plantel foram colmatadas?
A equipa perdeu dois atletas com muita força no colectivo, Evandro e Nenê. Foram substituídos pelos jovens João Matos e Djo vão demorar a ter a experiência que eles tinham.
Por outro lado, também ainda não podemos contar com o único reforço desta época, o Paulinho. Pusemos muitas expectativas nele, no entanto, devido a uma lesão, acabou por jogar apenas uns minutos na Supertaça. Espero que com o seu regresso se assista a uma subida de rendimento no jogo e que consigamos atingir o patamar habitual.
Acredito que o Sporting estabilizará e partirá de peito aberto para conquistar os objectivos.

Então este ano o Sporting está à espera do playoff?
O Sporting já ganhou a Supertaça. Estamos na 4.ª jornada, já defrontámos o Benfica e o Belenenses, que são tão candidatos quanto nós. Além disso, Alpendorada também é um campo tradicionalmente difícil.
Se à 4.ª jornada começamos a equacionar os objectivos, então está tudo mal no desporto. Quando a equipa adquirir hábitos de vitória, níveis de confiança e concentração, o Sporting vai voltar a ombrear com os principais candidatos na disputa pelo título.

Daqui a pouco mais de 3 semanas defrontam o Benfica para a Taça de Portugal. É um bom adversário para este momento?
Se calhar é o adversário ideal. Sabemos que o Benfica faz elevar os níveis de confiança em qualquer equipa e joga de igual para igual com o Sporting.
Há dois anos, por altura da Taça Ibérica, também passávamos por um momento complicado. O empate com o El Pozo em Loures, quando todos pensavam que seríamos cilindrados, foi o jogo que nos catapultou para o resto da época. Ficámos em 3.º lugar na Taça Intercontinental (só com o Boomerang e o Malwee de Falcão à nossa frente) e ficámos em 3.º no campeonato.
Contudo, antes do Benfica temos mais 3 jogos, com adversários que vão tentar agarrar-se a este momento menos bom do Sporting. Tenho a certeza que os jogadores vão dar uma resposta ao principal critico, que sou eu, para mostrar que posso continuar a confiar neles. O que nunca deixou de acontecer, pois sei bem com quem trabalho.

Qual a vantagem de fazer o próximo jogo, sábado com o Sassoeiros, em Ansião (distrito de Leiria)?
O único senão é o piso, que não nos favorece. De resto, Ansião traz-nos boas recordações, é de onde partimos todos os anos, com a realização do estágio de pré-temporada. Agora é como se partíssemos outra vez do ponto zero.

Apesar de voltar a partir do zero, os objectivos mantém-se?
As metas são as mesmas do inicio da época. Estamos e queremos vencer no campeonato, Taça de Portugal e Recopa, prova similar à antiga Taça das Taças em futebol, que nunca foi vencida por formações portuguesas.

In www.record.pt