DERROTAS NA LUZ E COM O FC PORTO NÃO ABALARAM PRESIDENTE
R – Os resultados desportivos estão a corresponder ao maior investimento feito este ano?
FSF
– É cedo para falarmos sobre o êxito dessa política. Ganhámos a
Supertaça e o torneio do Guadiana; se a fase de qualificação da
Champions terminasse hoje estávamos apurados; o campeonato ainda está
no começo e a Taça de Portugal e da Liga não arrancaram. No fim,
veremos se o esforço compensou e se a política seguida nas
contratações, que de forma unânime a administração da SAD apoio, deu
resultado.
R – As derrotas com o Benfica e o FC Porto não o deixam apreensivo?
FSF
– É claro que os resultados não são bons. Não peça ao presidente para
ficar contente com duas derrotas com o Benfica e o FC Porto. Não põem é
em causa a época nem vão, de maneira nenhuma, abalar a estrutura, a
moral, a vontade e a dinâmica de trabalho da equipa.
R – Na permanente avaliação que faz tem de admitir que o Sporting está abaixo dos seus rivais?
FSF
– Nestes jogos entre os grandes, o Sporting fez zero pontos. O Benfica
e o FC Porto fizeram 4. É uma realidade. É sempre bom ganhar. Embora os
resultados entre os três grandes não definam normalmente a
classificação final, ganhar é sempre uma almofada para os desaires que
se registam durante a época. O objectivo continua a ser o mesmo: ser
campeão. E estes resultados não afectam esse propósito.
R – O que lhe tem agradado mais no Sporting esta época?
FSF – O que me agradou no Sporting dos outros anos.
R – O quê concretamente?
FSF
– Agrada-me sobremaneira o brio profissional da equipa técnica liderada
pelo Paulo Bento. O esforço e a dedicação, a personalidade, a forma
aberta como trata dos temas e a preocupação que tem tido sempre nas
suas decisões em servir os interesses da Sporting SAD. E agrada-me o
espírito de missão que ele tem e a forma como ele pretende cultivar o
espírito de grupo competitivo e vencedor.
R – Corta a direito, é isso?
FSF
– Para se caminhar num determinado sentido e incutir um conjunto de
princípios, valores e metas há momentos em que é preciso tirar algumas
pedras do caminho. E às vezes custa fazer isso. Ele, porém, toma as
decisões e elas são inabaláveis.
R – Não o sente no entanto mais fragilizado na relação com os adeptos?
FSF – Não sei fazer essa avaliação.
R – Mas sente seguramente o pulsar da massa associativa?...
FSF
– O que sinto, hoje, é o mesmo que senti o ano passado, há duas épocas
ou até há três. Infelizmente por um lado e felizmente por outro, o
futebol é um negócio de emoções. Assim sendo, quando se trilha um
caminho vitorioso a emoção é sempre de grande satisfação. Quando há um
abanão, a emoção é de não satisfação.
R – Logo...
FSF
– Se fizesse um inquérito, após os jogos com o Benfica e FC Porto, era
natural que a satisfação fosse menor do que quando ganhámos a
Supertaça. Não tenho qualquer dúvida. Mas eu tenho uma enorme admiração
por Paulo Bento e particularmente numa vertente: ele confessa os seus
objectivos. Traça uma linha de rumo e coloca-a cá fora. Não se acanha
nem amedronta e diz claramente: nós estamos aqui para sermos campeões
este ano! E esse, de facto, é o objectivo.
R- Essa firme convicção mantém-se.
FSF – Mantém-se nele e em toda a administração da SAD e no presidente. Não há qualquer razão para ser ao contrário.
R – O que é que já lhe desagradou esta época?
FSF
– O maior abalo que tive foi o resultado com o Real Madrid, na 1ª
parte. Não pergunte porquê, mas tinha uma enorme esperança que íamos
fazer um grande jogo e um óptimo resultado em Madrid. Tive por isso um
enorme desânimo. Ao intervalo, o resultado era humilhante e nada servia
para honrar o emblema do Sporting. Isso afectou-me.
R – O
Sporting tem falhado nos grandes jogos. Difícil de aceitar depois de
ter havido a preocupação de dotar a equipa com mais experiência?
FSF
– Essa avaliação faz-se no final da época. Jogos melhores e piores
todos fazem. Ainda na última jornada, o At. Madrid, que tem um
orçamento três vezes superior que o Sporting, saiu enxovalhado de
Barcelona. Mas certamente que não é por causa disso que os seus
objectivos vão ser afectados. Logo, os comentários que hoje se fizerem
não são os mais adequados na altura certa.
R – Diverte-se a ver os jogos do Sporting?
FSF – Sim, embora às vezes com excessiva ansiedade.
R – O que lhe pergunto é se o futebol do Sporting o diverte?
FSF
– De uma forma geral, sim. Sinto muito o jogo e o resultado. Nem sempre
tenho a lucidez de olhar para a qualidade técnica do jogo tal é a
intensidade com que vivo o resultado, pois ele está directamente
relacionado com a minha actividade de presidente.
R – Lamentou a fraca afluência de público ao estádio. A fraca qualidade do espectáculo oferecido pode ser uma das razões?
FSF – Sim.
R – Admite que isso acontece em Alvalade?
FSF
– Às vezes oferecemos um fraco espectáculo. Há encontros em que jogamos
bem e outros mal. E o que é mau... é mau. Ninguém gosta de ver um mau
filme ou um mau teatro. Por muita paixão que tenham, as pessoas não
gostam de ver maus jogos de futebol. Só que isto não é uma ciência
exacta. É um jogo.
R – Neste negócio também tem, como
presidente, uma acção importante: a capacidade de dotar a equipa de
jogadores que entusiasmem os adeptos. O FC Porto roubou Rodriguez ao
Benfica e o Benfica contratou estrelas como Reyes, Aimar, Suazo. Isso
ajuda...
FSF – E nós trouxemos jogadores com elevado potencial
já demonstrado no mercado para se juntarem aos jovens jogadores que o
Sporting tem no seu plantel para fazermos uma equipa muito mais forte
dentro dos condicionalismos que temos. E já agora acrescento: essa sua
observação faz-me lembrar a opinião dos comentadores que ouvimos ao
longo da época. Quando as empresas apresentam as contas e os resultados
são negativos referem que o futebol português gasta mais do que pode;
quando chega a pré-época, dizem que as sad’s não investem aquilo que
devem investir para darem sustentabilidade aos seus sócios e por isso é
que as pessoas não vão aos estádios; depois classificam muitas vezes a
participação nas provas da UEFA como um flop, esquecendo que o futebol
português é aquilo que pode ser e compete com um futebol muito mais
rico e que tem outras potencialidades e maiores capacidades que o nosso.
R – Insisto na comparação com os seus rivais internos e não europeus.
FSF
– O Sporting em relação ao FC Porto e ao Benfica tem uma concepção
diferente. Nós apostamos na formação, enquanto o FC Porto tem uma
filosofia que passa pela rotatividade de alguns activos. O Benfica
passou por vicissitudes no futebol que o impeliu para uma política de
enorme investimento. No final, veremos qual é o que tem mais sucesso.
Soares Franco: «Não gostei do que ouvi de Moutinho»
AINDA O DESEJO DO CAPITÃO EM SAIR...
R – O desejo de sair de João Moutinho desiludiu-o?
FSF
– Na altura, não gostei. Depois procurei entender o problema e dentro
de alguma relatividade tentei percebê-lo. Hoje, é um assunto arrumado.
O João Moutinho também percebeu e aceitou muito bem as razões que a
administração da SAD lhe comunicou pelas quais as suas palavras não
podiam ter qualquer tipo de acolhimento. Está completamente integrado.
É um profissional de mão cheia e um excelente capitão do Sporting.
R – No final da época, pode negociar o Moutinho abaixo da cláusula de rescisão?
FSF – O Moutinho não é questão.
R - ...
FSF
– Se me perguntar se algum jogador do Sporting pode sair nessas
condições, então eu respondo: depende muito das circunstâncias e do
jogador que for. As clausulas de rescisão têm dois efeitos. Um: marcar
um preço para uma negociação. Dois: marcar o período da negociação. Mas
uma cláusula de um jogador de 20 ou 21 anos, que vai renovando o seu
contrato e depois chega aos 26 ou 27 anos, não é a mesma coisa de
quando tinha 20. O impacto, o valor e a margem de progressão são muito
diferentes. Depois também depende do sucesso e do comportamento ao
longo do ano e da importância que esse activo tem para a equipa técnica.
Soares Franco: «De nada vale desenterrar cadáveres»
PRESIDENTE CONSIDERA QUE AINDA EXISTE ESTIGMA DO PASSADO
R - Tem havido uma maioria que o apoia, mas também existe uma minoria que o crítica. Tem sentido algum bloqueio?
FSF
– Não, mas tenho acusado algum desgaste. Há um sentido crítico muito
apurado dentro do Sporting, mesmo quando as ideias são sistematicamente
votadas por uma maioria muito qualificada, ainda que não chegue aos
66.6 por cento. Mas é uma larga maioria que tem sempre apoiado estes
projectos.
R – E então a minoria?...
FSF – Tem de
ser respeitada, mas é preciso que essa minoria perceba que se ela
também apresentar projectos eles só serão aprovados se conseguir
conquistar a maioria. O bom senso é fundamental na vida e é importante
não esquecer que os interesses da organização Sporting têm de estar
acima de quaisquer outros interesses, sejam de grupos organizados ou
não. O fundamental é que o Sporting ande para a frente e seja um clube
vencedor.
R - O Congresso pode dar um contributo nesse sentido. Em que moldes?
FSF
– O Congresso pode dar um enorme contributo, embora deva ter matérias
específicas seleccionadas para o efeito. Não se pode querer debater
tudo num congresso. O Sporting, que estatutariamente está obrigado a
fazer congressos de xis em xis tempo, nos últimos dez anos nunca o fez.
É, pois, logo à partida mais uma iniciativa que vamos corporizar.
Espero que seja um local de debate com os olhos no futuro. Ainda existe
no Sporting um estigma sobre o passado.
R – Como assim?
FSF
– Ainda existe muita gente que quer apurar e ajustar contas do passado
e imputar responsabilidades. Não contem comigo nesse filme. Não entro
nele nem como actor nem como espectador. Importante é saber analisar o
presente e trabalhar para o futuro ser melhor, mesmo que tenhamos
ideias diferentes sobre os assuntos. A realidade está cá. Ir agora
desenterrar cadáveres para mostrar que este é o responsável por isto ou
por aquilo, não serve para nada.
Soares Franco: «Sporting TV não é negócio possível»
EM CAUSA DÚVIDAS SOBRE RETORNO
R – Sporting TV é um projecto viável?
FSF
– É um dos temas que está sobre a mesa para ser estudado. Tenho no
entanto a percepção que no Sporting ainda não deve ser um negócio
possível e ideal a ser montado. Os sportinguistas não gostarão do que
vou dizer, e percebo que não apreciem, mas a verdade é que há mais
clientes-Benfica do que clientes-Sporting. E isto é claramente um
negócio de clientes. Quando avançarmos para um negócio destes temos de
garantir que ele tem retorno.
Soares Franco: «Paulo Bento é excepcional a gerir recursos humanos»
OS CASOS STOJKOVIC E VUKCEVIC NA ÓPTICA DO PRESIDENTE
R – O sociólogo Paquete de Oliveira comentou
que Paulo Bento gere mal os recursos humanos, referindo-se
concretamente aos casos Vukcevic e Stojkovic. Concorda?
FSF –
Com todo o respeito, estou em total desacordo. Aliás, para alguém
pronunciar-se sobre temas tão delicados como este, é preciso ter
conhecimento e informação séria para fazê-lo. Digo-lhe claramente: o
Paulo Bento tem grande qualidade e que é precisamente a forma como gere
os recursos humanos. Não é boa, é excepcional!
R – Não lhe
causa espécie ver um guarda-redes como Stojkovic, que custou 1 milhão
de euros e é titular da Sérvia, estar completamente à margem?
FSF
– Vamos ser sérios. Stojkovic teve a liberdade total da administração
da SAD para durante a pré-época sair do Sporting. Foi informado que a
equipa técnica não contava com ele. A partir daí, não é da nossa
responsabilidade que ele não tenha encontrado clube. Não pretendíamos
um euro de mais valia e estamos a cumprir religiosamente as nossas
obrigações com o Stojkovic. Por isso...
R – Mas a verdade é
que a cada momento que o Rui Patrício tem uma intervenção menos feliz
as pessoas perguntam-se: porque não joga Stojkovic...
FSF – A
responsabilidade dessa matéria é totalmente da equipa técnica (ET) e
não do presidente. Não faço por isso mais comentários além daqueles que
fiz para explicar porque razão Stojkovic está integrado no plantel do
Sporting. Inclusivamente tem o seu nome na lista que enviámos para a
UEFA por causa da Liga dos Campeões o que quer dizer que não
marginalizamos o jogador. Agora, há questões de ordem técnica e de
integração de grupo que tem de ser a ET e gerir e não o presidente.
R – Não questiona em nenhum momento a acção do treinador?
FSF
– Não e digo-lhe mais: uma a administração da SAD e o seu presidente
têm ou não confiança na ET. Se têm, devem manifestar e dar essa
confiança. A partir daí, o treinador tem legitimidade para seguir pelo
caminho que considera ser o mais correcto. Mesmo que eu eventualmente
não estivesse de acordo com uma determinada decisão da ET, nunca a
comentaria e muito menos em público.
R – Não vai sequer admitir que houve dois pesos e duas medidas no tratamento de Moutinho e Vukcevic.
FSF – De todo, até porque isso não é verdade. Nem pouco mais ou menos.
R – Apreciou a troca de galhardetes entre jogadores como aconteceu entre Caneira e Moutinho e Derlei e Vukcevic?
FSF
– São questões que têm de ser totalmente geridas pelo grupo e dentro de
casa. Repito: mesmo que não gostasse, não comentaria.
R – Se avançar para a recandidatura, Paulo Bento vai voltar a ser a sua aposta?
FSF – Odeio falar em ses. Quando tomar uma decisão, responderei a essa pergunta.
R – Reformulo: pela forma como fala de Paulo Bento, até hoje só tem razões para convidá-lo a continuarem juntos?
FSF – Se tivesse que decidir hoje, obviamente gostaria que ele ficasse por cá.
Soares Franco: «Passivo podia estar nos 120 milhões»
COM PROJECTO INICIAL E SEM PROBLEMA COM A CML
R – Em que pé está a reestruturação financeira?
FSF
– Está praticamente fechada. Falta aprovar no Conselho Directivo e
eventualmente ir a nova AG, a aprovação da emissão dos Valores
Imobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC). Mas há outras
decisões que os sportinguistas têm de tomar.
R – Nomeadamente...
FSF – Por exemplo, uma que foi chumbada na última AG que dificultou o fechar da equação da reestruturação.
R – Refere-se à passagem da Comércio e Serviços para a SAD. Admite voltar a colocá-la à aprovação da AG?
FSF
– Sim. É importante perceber o seguinte: existe o Sporting Clube de
Portugal – que é o Sporting das modalidades, do museu, do jornal, etc
-- e o Sporting do futebol -- que é a SAD. Esta paga tudo o que está
directa e indirectamente relacionado com o futebol. Isso implica que
tudo o SAD utiliza para a sua actividade deve ser suportado por essa
mesma empresa.
R - O que acha que pode levar os sócios a mudar de opinião?
FSF
– O impacto que o ano 2008 teve nas famílias portuguesas que perceberam
que ter dívida sai muito caro. Percebem que para governar a casa é
preciso racionalizar de forma a libertar verbas para honrar os seus
compromissos ou para compras algo extra. Numa instituição como o
Sporting, passa-se o mesmo: tem de dever menos para poder investir mais
no seu negócio.
R – Com a questão da Câmara resolvida, como fica o passivo do Sporting?
FSF
– Sem o problema dos VMOC’s, o endividamento deveria situar-se à volta
dos 190/200 milhões de euros. Daqui a 5 anos, com a conversão dos
VMOC’s em capital, poder estar nos 140/150 milhões. Era o valor que
tínhamos estimado há dois anos para o endividamento saudável do
Sporting. Se a reestruturação tivesse ficado fechada de acordo com o
projecto inicial e se o dossier da câmara não tivesse demorado mais
dois anos a resolver, diria que a dívida do Sporting neste momento
estaria nos 120 milhões.
Os telefonemas de Pinto da Costa
EM RELAÇÃO A MOUTINHO E VUKCEVIC
R – Pinto da Costa disse que Moutinho é jogador
à Porto e Vukcevic dói desejado pelo FC Porto. Agradou-lhe o comentário
e confirma os telefonemas do presidente portista?
FSF – Confirmo
que falei com o presidente do FC Porto depois de ele ter encontrado o
Moutinho num restaurante. E que me voltou a falar há dias por causa de
uma notícia que dizia que o FC Porto tinha sondado o Vukcevic. Desta
última vez, disse mesmo a Pinto da Costa que ele escusava de me ter
ligado, pois partia do princípio que o FC Porto não teria aquela
postura para com o Sporting. Disse-lhe mesmo, e ele concordou, que se a
notícia fosse verdadeira não valeria a pena falar-me, pois as relações
teriam terminado ali. Espero, aliás, que não voltemos a conversar por
causa de situações destas pois o Sporting nunca agiria desse modo e
naturalmente parto do princípio que o FC Porto, ou qualquer outro
clube, também não.
Soares Franco: «Queiroz é assunto arrumado mas sem desculpas»
CONFLITO COM O SELECCIONADOR "ESTÁ MORTO"
R – O que fez mudar de ideias relativamente à sua presença no Portugal-Dinamarca por causa da má relação com Carlos Queiroz?
FSF
– O facto de ser o anfitrião e da minha relação institucional com a FPF
a isso me obrigar. Não seria uma questão que se passou com o prof.
Carlos Queiroz, quando ele não se encontrava ao serviço da selecção,
que poderia ter influência na decisão de estar ou não em Alvalade no
dia do Portugal-Dinamarca.
R – O que é que Carlos Queiroz tem de fazer para deixar de ser persona non grata?
FSF
– É um assunto que já morreu. Prof. Carlos Queiroz fará aquilo que
entender se quiser aproximar-se do Sporting. Mas é um tema que está
ultrapassado.
R – Então já não é persona non grata?
FSF
– Não disse isso, o comunicado está como estava. Não mudámos de
posição. Lastimo que as coisas tenham chegado a esse ponto, pois não
sou pessoa de conflitos na vida. Aprendi, quanto mais não seja por ter
passado por uma escola de formação fantástica que é o Colégio Militar,
que na vida se deve saber enfrentar as responsabilidades, analisar os
actos e pedir desculpa quando é preciso fazê-lo. Se há coisa que não me
custa fazer é pedir desculpa quando não tenho razão.
Um novo conceito de clube
ESFORÇO DE ADAPATAÇÃO AOS TEMPOS MODERNOS
AS IDEIAS PARA UM NOVO SPORTING
REFERENDO
R – Para um novo ciclo que novas propostas?
FSF
– Tenho ideias mas não quero que pensem que são condições para me
recandidatar. Vou tomar uma decisão antes do congresso que deverá
realizar-se no primeiro trimestre. Uma organização como o Sporting deve
olhar para o futuro e pensar num novo conceito de clube onde as pessoas
participem mais.
R – Por exemplo?
FSF – O Sporting tem
de chegar mais longe e portanto tem de activar os sportinguistas
adeptos que estão espalhados pelo país e pelo mundo fora. Não se pode
pedir que sejam sócios efectivos do Sporting, uma vez que não podem
desfrutar de serem membros efectivos do Sporting, pois não tem a
possibilidade de participar na vida associativa do clube e porque não
vêm a jogos. Temos de levar o Sporting mais perto dos associados. É
necessário criar uma dinâmica enorme para o sócio correspondente. Mas
além de captá-los tem de fazer com que participem na vida do clube.
R – Como?
FSF
– Alterando o modelo das assembleias. Não podemos esperar grande adesão
dos sócios quando as assembleias realizam-se às quintas ou
sextas-feiras à noite, terminando às duas da madrugada. Devíamos, por
isso, alargar a um referendo uma série de matérias, permitindo que os
sócios correspondentes votassem e sentissem ter um papel importante na
vida do clube. É também a única maneira de darmos vida aos núcleos do
Sporting que sentem a sua vida muito limitada. Pretendemos que os
núcleos, além de pólos de desenvolvimento e de representatividade nas
diversas regiões e países, sejam participativos.
CONSELHO LEONINO ALARGADO
R – Outras medidas?
FSF
– Deveríamos criar um novo figurino do Conselho Leonino. Em vez de ser
50 sócios poderia ser formado por 200 ou 300 associados com poderes
instituídos para aprovar um conjunto de operações, designadamente as
mais correntes e banais da vida do clube, designadamente orçamentos, as
contas do clube e outras matérias.
R- Acredita que essas propostas seriam bem aceites?
FSF
– Tenho a consciência de que uma série de sportinguistas vão estar
totalmente em desacordo com as minhas ideias. Não vem mal ao mundo por
isso. Mas se não procurarmos inovar, as organizações ficam paradas.
Temos pois a obrigação de pelo menos fazer com que as pessoas debatam
os temas para saber se as ideias são boas ou más.
R – O Sporting não tem tido medo de assumir rupturas. Será mais uma?
FSF
– Não acho que deva ser considerado uma ruptura. Tem de ser visto como
evolução que vai no sentido de acompanhar o progresso da sociedade,
descobrindo como é que pode estar mais próximo das pessoas.
R – Isso mexeria com os estatutos?
FSF
– Claro e nada disto pode ser feito sem ser aprovado numa assembleia
geral normal. Nada é feito contra a vontade dos sócios. Mas estas são
meras ideias que nasceram da reflexão que tenho feito sobre o que é
esta organização hoje em dia e que resultam das obrigações naturais de
um presidente.
O MODELO DA SAD
R – No modelo de
gestão do clube não encontra outras falhas que com medidas imediatas
poderia ser capaz de colmatar? Falo por exemplo do distanciamento que
existe entre as diversas sociedades da organização, sendo evidente que
o futebol é um mundo à parte.
FSF - Já disse que o Sporting tem
de perceber que há um Sporting clube e modalidades e um Sporting
profissional que está organizado numa SAD. Essa SAD deve gerir todo o
contexto do futebol profissional, gerindo também todos os activos que
tem do futebol profissional. Uma mudança substancial, relativamente ao
modelo que hoje está montado, é a SAD deixar de subcontratar quase
tudo. Se calhar, era melhor encaixar tudo lá dentro.
CONSELHO DIRECTIVO E EXECUTIVO
R – O órgão de topo não mereceria adaptações?
FSF
– O Conselho Directivo do Sporting também deveria ser reduzido, talvez
para cinco elementos, pois não faz sentido que seja composto por onze.
Ou então optar por um conselho directivo mais alargado mas composto por
elementos executivos e não executivos. Os elementos do CD executivos
deveriam ser administradores das sociedades do Sporting e até poderiam
ser profissionais e pagos. Não há razão nenhuma para que elementos do
CD que dedicam 50 ou 60 por cento do seu tempo à actividade do
Sporting, que não é do Sporting amador mas sim do Sporting
profissional, vivam em amadorismo. Só agora me apercebo que o Sporting
ganharia muito se todas as sociedades tivessem sempre administradores
elementos do CD.
R – Mas o que é que o impede de avançar já para essas medidas?
FSF
– Parti para este mandato com uma determinada realidade e acho que
assim devo conclui-lo. São ideias que deixo eventualmente até como
legado se porventura não me recandidatar.
MODALIDADES
R
– Falou das modalidades amadoras. Nesse novo Sporting admite voltar à
ideia primitiva: encarar o ecletismo numa óptica não-profissional?
FSF
– Mais do que isso. Sejamos honestos: não há modalidades amadoras. Não
há nenhum atleta de atletismo, andebol, futsal que não seja
profissional e até os jogadores de ténis de mesa são semiprofissionais.
O que acontece é que o custo e o profissionalismo dessas modalidades
não se encaixa com os proveitos que têm. Logo, são sistematicamente
deficitárias. Só deviam de viver das receitas que o clube tem: os 25
por cento da quotização e os patrocínios que angariam. Quem não se
enquadrar nestes parâmetros não pode existir, porque cada euro que aqui
gastarmos a mais é um euro que tiramos na competitividade da modalidade
nobre que é o futebol. Não é possível que só o futebol é que se
autosustenta e ainda sustenta todos os outros. Isso não impede que o
Sporting esqueça do seu lema de ser uma escola de fomento e formação do
desporto. Por isso, o Sporting deve encarar com naturalidade o regresso
de modalidades que já perdeu desde que as enquadre na área da formação
e que comecem por aí. Podemos inclusivamente trazer para casa outros
desportos que actualmente não praticamos, como os desportos radicais:
os 29 mil metros quadrados onde não vamos poder fazer nada pode ser um
parque de desportos radicais.
R – É então possível ao Sporting voltar a ter basquetebol, por exemplo?
FSF
– Temos hóquei em patins mas só de formação. Queremos voltar a ter
volei e basket de formação. E parar aí! No dia em que passar para o
profissionalismo tem de encaixar no modelo que não pode custar
dinheiro. Não pode ir roubar dinheiro à actividade fundamental que é o
futebol que é o motor de todo este clube.
PAVILHÃO
R – E quando é que haverá um pavilhão?
FSF
– É um tema que deve ser muito bem debatido e equacionado, nomeadamente
no Congresso. É preciso esclarecer quanto é que custa fazer um
pavilhão, para que serve, quais são as receitas que podemos obter e
quais os custos de manutenção.
R – Pelos vistos, o melhor é não pensar nisso...
FSF
– Não digo isso. Mas vale a pena sermos confrontados com a equação,
enquanto não temos fundos próprios para fazer esse tipo de
investimento, e perceber outra vez se queremos gastar euros em activos
que ficam activos ou euros na competitividade e na promoção do desporto.
In www.record.pt
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