Moniz Pereira reagiu assim:«Nunca acreditei em medalhas.» Nessa noite mágica choveu prata e Portugal redescobriu novos «fumos da Índia» só não foi ouro porque um... polícia finlandês, Lasse Viren, se fortalecera através de auto-transfusões de sangue. «Foi uma mafiosice que me roubou o ouro, mas paciência.» Moniz Pereira deitou ainda mais achas para a fogueira: «Não posso deixar de achar muito esquisito que os seis finalistas dos 400 metros barreiras tenham sido controlados e que na final dos 10.000 metros apenas o quarto classificado, o inglês Tony Simmons, tenha ido ao controlo anti-doping.»
Mas mais disse, clamando ainda por mais apoios:«Podem os economistas
ficar descansados que a medalha do Lopes foi a mais barata dos Jogos
Olímpicos. Tal como a do Armando Marques que estava a dar tiros e a
fazer contas ao dinheiro dos cartuchos, enquanto os atiradores dos
outros países pareciam... metralhadoras.»
No fundo, custara pouco mais do que a dispensa no Crédito Predial. E,
para Carlos, era a redenção de um passado de agruras e sacrifícios.
Mas, ainda em Montreal, desvendou:«Nunca passei fome, sou de origem
pobre, mas o pão nunca me faltou. Aliás, até aos 13 anos levava porrada
para... comer, porque passava o dia a jogar à bola e até me esquecia
das refeições. Depois dos 13 cheguei a levar porrada para... comer
menos, mas fome não, isso nunca passei.»
O seu futuro depois de Montreal? Quando lho perguntaram, encolheu os
ombros e disse apenas que era uma «incógnita», atirando: «A Teresa quer
que eu desista já do atletismo, viu algumas rebaldarias na Aldeia
Olímpica e julga que é tudo igual.» Na Aldeia recebeu uma montanha de
telegramas. Mas um sobre todos o sensibilizou muito: o de Mário Soares,
primeiro-ministro de Portugal. «Eles com tantas preocupações no Governo
e ainda se lembraram de mim...»
In "Bola"
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