Peter Schmeichel estreou-se há dez anos pelo Sporting e guiou a equipa ao campeonato que fugia desde 1982.

"Já tens as mãos vermelhas? É de esfregar e dizer: para o ano é que é." Entre familiares, amigos ou companheiros de trabalho, ser sportinguista era sinónimo de gozo. A partir de Dezembro, a cadência era quase diária. Até que chegou a Alvalade um Grand Danois para acabar de vez com as graçolas da ordem: chamava-se Peter Schmeichel e fez a estreia pelos leões há dez anos.

"Tínhamos grande respeito por ele, pelo currículo. Mas os adversários ainda tinham mais", recorda Rui Jorge ao i. Gamboa, avançado do Santa Clara, foi uma das excepções: bisou no primeiro jogo do dinamarquês e os leões empataram nos Açores (2-2).

Nessa altura, ainda havia algumas piadinhas sobre o gigante de 1,93 metros e 95 quilos. Tinha acabado de se sagrar campeão europeu pelo Manchester United - outro clube onde conseguiu quebrar o jejum de campeonatos, neste caso de 26 anos - mas, de forma frontal, assumiu que estava cansado de jogar de três em três dias. "Ah, agora também pagam férias a reformados, boa...", dizia-se. Em Maio, as piadinhas acabaram - com 37 anos, Schmeichel soube aproveitar o sol, a praia e o peixe mas retribuiu com a vitória no campeonato, que fugia há 18 anos.

"Tinha aquela imagem agressiva por gritar muito nos jogos com os defesas, mas era como todos os outros. Lembro-me que, ao contrário do que era normal, preferia ter jogadores no segundo poste a defender nos cantos, quando o normal era estarem no primeiro", frisa Rui Jorge.

Em 2001, decidiu regressar a Inglaterra, cansado dos longos estágios e da desorganização no clube. Hoje, confessa-se adepto dos leões e, quando vem a Lisboa, telefona a Pedro Barbosa e vão jantar. Mas a sua vida mudou: agora faz o programa "Dirty Jobs", do Discovery Channel, onde já tratou de porcos, andou por esgotos, nadou entre enguias, varreu ruas e foi taxidermista.

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