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José Eduardo Bettencourt: «Não somos uma organização vencedora» PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Sábado, 13 Fevereiro 2010 10:29
090606_jebFoi um José Eduardo Bettencourt desassombrado o que ontem enfrentou, na Academia, um lote de jornalistas para fazer aquilo a que chamou o "estado da nação sportinguista". Negou que estivesse tentado a demitir-se, apontou o caminho que preconiza para o futebol e para o clube e disse até que a desagregação de pessoas em seu torno não o surpreendeu, pois reconhece o desgaste que muitos anos sem ganhar provocam. E é isso que quer mudar, partindo primeiro do reconhecimento de uma realidade. "O Sporting não é uma organização vencedora, não tem tiques nem hábitos de uma organização vencedora", afirmou.



"Falta muito ao Sporting de hoje para ganhar", prosseguiu o presidente do clube. "E não são alguns entraves, sinais do estrebuchar do moribundo, que nos distraem. Estou muito empenhado em que o Sporting reuna as condições para ganhar. Não é fácil aguentar a pressão, nem física nem psicologicamente, mas a vida é assim. E vamos aguentar", concretizou, desmentindo rumores de que estaria pronto a desistir da tarefa que abraçou em Junho. Pelo contrário, Bettencourt procurou passar uma imagem de empenho não apenas na preparação da próxima época desportiva, que já começou com os reforços de Janeiro, mas também da restruturação do edifício empresarial do clube (ver peça na página seguinte). Tudo para contrariar o diagnóstico de belenensização do Sporting que o presidente reconhece ter sido "um dos primeiros a fazer". "Estamos numa fase crucial da vida do clube. O Sporting está na última fase em que ainda pode retomar o nível competitivo para voltar a lutar em pé de igualdade", reforçou.

O primeiro passo para ter um Sporting vencedor, alega o presidente, era ter "unidade de comando". "Um exército que não tem chefe é um exército menos preparado", diz. E, a essa unidade, Bettencourt quer acrescentar meios concorrenciais com o que fazem os principais competidores. "Não tenho capacidade para aumentar largamente o défice de exploração para contratar jogadores. Não vou passar de 25 para 50 milhões de custos. Mas posso ser mais agressivo", explica Bettencourt, que acredita na formação, mas apenas se bem enquadrada. "É completamente diferente integrar um Hugo Viana ao lado do Paulo Bento, do Rui Bento e do Pedro Barbosa, ou integrar o Adrien com o Pereirinha e com outros da mesma idade", exemplifica. E fá-lo sem receio de assumir que vai vender jogadores. "Estamos atentos ao que nos falta para fazer uma equipa mais forte. E estamos a avaliar diariamente questões técnicas, mentais, comportamentais, de resistência à pressão, para podermos construir um plantel mais competitivo."

A questão que se coloca é: tendo o Sporting um treinador e um director-desportivo a prazo, quem está a fazer isso? "Estou eu", diz Bettencourt, sem medo de assumir que gosta do modelo presidencialista do FC Porto. "Há assuntos que são da responsabilidade do presidente, independentemente dos treinadores." E ainda que não queira assumir o que vai fazer acerca do treinador, enquanto a equipa tiver objectivos pela frente, Bettencourt reconhece que já está à procura de um director-desportivo. "Para vir quanto antes", reforça, apontando o conhecimento de mercado e de um balneário como valências fundamentais. "O ideal é o dois em um, mas isso nem sempre é possível. Faz falta experiência de gestão de grupos, e muitas vezes isso pode não encaixar no perfil de alguém que se mexa no mercado."

Uma coisa Bettencourt tem como segura: "Não é possível ganhar com um governo de guerra." E, por isso mesmo, o futuro director do futebol leonino "tem de ser alguém distante dos séquitos que se formaram no clube, onde quem sai tem sempre três amigos e uma opinião, e quem entra depois sai com outra opinião."

 

"Sporting quer presidência da Liga"

Filipe Soares Franco, como foi noticiado? "Nunca me teria lembrado dele", responde José Eduardo Bettencourt. Miguel Ribeiro Telles? "Podia ser um bom nome, mas creio que nunca estaria disponível", acrescenta. Certo é que o presidente do Sporting entende ser chegada a altura de o clube "se responsabilizar por uma candidatura à presidência da Liga de futebol". Nem Hermínio Loureiro nem Rui Alves: Bettencourt quer um leão na cadeira do poder.

"O comportamento que o Sporting tem tido merece ser recompensado. Vejo com bons olhos o reconhecimento da postura de lealdade, de fair play, de colocação dos interesses do futebol sempre à frente dos seus próprios que o Sporting tem assumido", afirma o líder leonino, que acredita que de Alvalade possa sair uma condução "unânime" que ajude a combater a "estratégia de bipolarização do poder que está em curso no futebol nacional".

Quanto a nomes, diz Bettencourt que ainda não os tem, embora se perceba que veria com muito bons olhos o avanço do seu amigo Ribeiro Telles, que ainda por cima tem o indispensável "perfil de jurista".

 

"A notícia é que fui com a minha mulher"

A decisão de ir de férias para o Brasil com a família na semana em que o Sporting jogou com o FC Porto na Taça de Portugal não deixou remorsos a José Eduardo Bettencourt, que voltou ontem a dizer que marcou a viagem "antes do sorteio" e que aquela era a única data em que os afazeres do clube lhe permitiram repousar. "Ao fim de 25 anos de casado, fui de férias com a minha mulher. E isso é notícia. Se calhar, se tivesse ido com outra não era", ironizou.

"Estou de consciência tranquila. Cheguei ao Sporting depois de um semestre [n.d.r.: no banco Santander] muito difícil, com seis mil pessoas a meu cargo. Cheguei esgotado, pois ali trabalha-se muito. Vim para aqui e apanhei o barco como o apanhei. E não sou o Super-Homem nem faço milagres", explicou o presidente leonino. "Fui eleito em Junho e desde então tive de abarcar mais áreas do que as que assumi inicialmente, pois a estrutura desmoronou-se. E fui adiando as férias vezes sem conta", prosseguiu. "Sei como é que se passa a imagem de que se está a trabalhar muito - basta ir todos os dias aos 15 minutos do treino onde estão os fotógrafos. Mas não estou aqui para fazer uma gestão de parecer", finalizou.

 

"Objectivo é o quarto lugar"

A afirmação tem o seu quê de polémica, mas Bettencourt fê-la sem hesitar: "O objectivo do Sporting é o quarto lugar." "É o objectivo palpável que nos resta. Podem chamar-me o que quiserem, posso até fazer conversa de circunstância e dizer que vamos lutar para o primeiro. Mas o objectivo tangível é o quarto lugar", prosseguiu o presidente leonino, reconhecendo que, enquanto houver coisas em jogo, não vai pelo menos tornar públicas quaisquer decisões acerca do futuro de Carlos Carvalhal ou do nome do seu substituto. "Se admito renovar contrato com o Carvalhal? Admito tudo. Mas vai depender muito dos resultados, que, infelizmente para o treinador que apanhou este barco, têm sido maus", diz Bettencourt.

Apesar de tudo, o líder leonino não escondeu alguma nostalgia quando falou de Paulo Bento, chegando mesmo a dizer que, se ele tivesse ficado, agora seriam "dois a dar o peito às balas". Considerando "um absurdo" a ideia de que teria dado a Carvalhal os reforços que antes negara a Bento - "O Paulo sabia que, se cá estivesse, em Janeiro teria reforços" -, o presidente deu razão ao ex-treinador. "Ele teve um ciclo de quatro anos após o que, como ele me dizia, não ia ter condições, porque estavam marcadas não sei quantas manifestações para o deitar abaixo. E pude comprovar que as manifestações estavam preparadas", disse Bettencourt, alegando desconhecer por quem, nomeadamente se tinham sido patrocinadas por pessoas que vieram depois a integrar-se na estrutura leonina.

 

"O clube estava totalmente parado"

A mudança de rumo que preconiza, Bettencourt justifica-a com a concorrência. Se o Sporting vai ser mais agressivo no mercado, é porque os outros também o são. É que, reconhece, "o futebol é ganhar". "Não basta dizer que se é diferente. Alguns crimes compensam, porque o que fica é o resultado. O método é sempre bom, quando se ganha", desabafou.

"O Sporting poderia ter sobrevivido com receitas e custos operacionais equilibrados se os seus competidores tivessem optado por uma via parecida. Acontece que eles carregaram muito no acelerador, fizeram investimentos muito superiores aos nossos. E mesmo os que não conseguiram ter uma 'performance' condizente com esse investimento, que ficaram atrás de nós, foram capazes de criar um elã junto do mercado que lhes permitiu acelerar ainda mais", afirmou Bettencourt numa alusão clara ao Benfica.

Tudo para se queixar do estado em que encontrou o clube. "O Sporting perdeu três, quatro anos em que não aconteceu nada. Encontrei um Sporting completamente parado nos principais projectos, nas principais decisões, nos principais dossiês. Estava parado! E ao retomar alguns dossiês, muitas das condições negociadas à época já não estavam válidas. Foi preciso recomeçar tudo, se calhar a menos que do zero."

 

"O passivo? É igual ao dos outros"

José Eduardo Bettencourt voltou a defender que um dos problemas do Sporting tem sido a colocação permanente de questões como os passivos na praça pública. "As pessoas querem discutir futebol, não querem discutir passivos", alegou. Não espantou por isso que, quando lhe foi perguntado qual é exactamente o passivo do Sporting, tenha sido lacónico. "É igual ao dos outros. E mais baixo do que o da Grécia."

 

"Cumprimos níveis de custos"

O Sporting vai investir mais na equipa, mas não pretende ver os custos com pessoal disparar. "Em Janeiro fizemos contratações e não mexemos nos custos salariais", sustenta Bettencourt, satisfeito por o Sporting ser "dos poucos" clubes que já cumprem a recomendação que a UEFA vai transformar em obrigação a partir de 2013: quem gastar, em salários, mais de 60% das receitas, deixará de entrar nas provas continentais.

 

"Director tem outra responsabilidade"

O presidente do Sporting rejeita a visão segundo a qual o clube deixou cair Sá Pinto e foi brando com Liedson no conflito entre os dois que acabou ao soco. "Não se pode comparar cebolas com batatas", afirma na primeira vez que se manifesta sobre o assunto. "Os direitos e deveres de um jogador não são comparáveis com os direitos e deveres de um director. A bitola de análise é diferente", justifica.

 

"Gostava de ver o Braga campeão"

Agora que o Sporting já não pode chegar ao título nacional, José Eduardo Bettencourt não esconde que gostava de ver o Braga ser campeão nacional. "Sim, gostava", diz após um momento de reflexão. Mas quando se lhe pergunta porquê, só concorda que existem "duas razões" para tal, sem as identificar. Pelo sorriso, porém, não é difícil perceber que são o Benfica e o FC Porto.

 

"Transversalidade contra a blindagem do negócio"

O modelo de governo do Sporting vai ser mais transversal. "Do presidente e do Conselho Directivo do clube dependerá uma Comissão Executiva, que estará representada nos conselhos de administração das sociedades", explica Bettencourt. O presidente, que vai dirigir a Comissão Executiva, alega que o novo modelo será "uma estrutura integrada e homogénea", organizada "por funções onde há hoje uma organização por sociedades". "A blindagem do balneário é fundamental, mas a blindagem do negócio não pode existir", defende, farto do impasse actual em que "à sociedade a quem compete a gestão do futebol não são dados meios e, na sociedade a quem compete a gestão dos meios, não está o 'know-how' para o fazer." "Isto não funciona!", conclui.

 

In ojogo.pt


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