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Futre. "Ainda não consigo viver tranquilo em Madrid" PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Sábado, 25 Julho 2009 17:08

Março de 1981. Com 15 anos, Futre é o terceiro em pé a contar da esquerdaCraque deixou o futebol em 1998. Onze anos, onze histórias

 

Há 11 anos, o futebol ficou de olhos em bico. No dia 25 de Julho de 1998, depois de um Yokohama Flugels-Consadole Sapporo (2-2), para a 13.a jornada do campeonato japonês, Futre disse adeus. Com a categoria de sempre. E com um golo. Que não foi o último do jogo, porque Maradona (o Hugo, não o Diego) fez o 2-2. Paulo aceitou o desafio do i: onze anos, onze histórias. Aqui estão elas:


1. A estreia "Quando fui do Montijo para o Sporting, só tinha 11 anos e ia todos os dias de barco. Demorava uma hora para ir e outra para voltar. Com 14 anos, passei um ano inteiro no centro de estágio, em Lisboa. Naquela noite de Agosto de 1983, o Venglos lançou-me e entrei na segunda parte. Difícil imaginar um palco mais emblemático e perfeito que Alvalade para me estrear pelo Sporting. E também pela selecção nacional."

2. ADEUS SPORTING "Ganhava 70 contos [350 euros] por mês no Sporting e o FC Porto ofereceu--me 27 mil contos em três anos [134 mil euros] mais carro e casa. Falei com o Sporting e pedi-lhes 18 mil contos em três anos, 6 mil por ano. Eles disseram-me que estava louco e eu fui para o FC Porto, alegando falta de condições psicológicas. Aquilo que ainda hoje questiono é se o dirigente a quem pedi o aumento, Armando Biscoito, chegou mesmo a falar com o presidente João Rocha sobre as minhas exigências."

3. Olá FC Porto "Os meus pais é que sofreram com a troca Sporting-FC Porto. A sua privacidade era constantemente ameaçada. Partiam vidros das janelas, batiam à porta, telefonavam a horas escandalosas. Talvez por isso, não sei, estou a especular, a minha mãe nunca me viu jogar ao vivo. E eu no Porto, uma cidade pequena, onde não podes sair à noite regularmente, se não estás marcado. O Octávio Machado [adjunto de Artur Jorge] ia lá a minha casa bater-me à porta muitas vezes à meia-noite."

4. Porsche Amarelo "Grandes recordações. Olha, foi um presente do Gil y Gil, quando ganhou as eleições presidenciais do Atlético em 1987. Mas não o utilizava muitas vezes. Uma vez por semana, saía com ele para evitar que ficasse parado, mas era uma máquina."

5. Real Madrid nem vê-lo "Antes, os jogadores do Atlético e do Real Madrid nem se podiam ver na rua ou num restaurante, numa guerra também patrocinada pelos presidentes dos clubes: o Ramón Mendoza e o Gil y Gil. Nem imagina! E o Hugo Sánchez [avançado mexicano do Real] morava no mesmo bairro que eu. Era uma pressão enorme e isso reflectia-se no campo. Daí que os dérbis de Madrid tenham assumido aquela importância gigantesca nos anos 90. Sem esquecer que o meu melhor jogo de sempre foi a final da Taça do Rei, no Santiago Bernabéu, com o Real Madrid. O Atlético ganhou 2-0 com um golo meu e outro do Schuster e eu, como capitão, recebi a taça das mãos do rei Juan Carlos."

6. Rei dos Fiteiros Em Janeiro de 1988, o jornal espanhol "El País" inquiriu 22 dos 30 árbitros da Liga, na votação do mais fiteiro. Ganhou o português, por unanimidade, enquanto Quique Flores, então defesa do Valência e treinador do Benfica na época passada, era eleito o jogador mais limpo do campeonato. "Ninguém mergulhava como eu, isso é verdade, mas também fui dezenas de vezes prejudicado. Quando era penálti e o árbitro não apitava, ficava fulo. E alguns até me mandavam levantar, o que me irritava mais."

7. Balneário do Benfica "Os problemas económicos do Atlético Madrid eram imensos e a ideia era sair para Portugal, devido ao limite de estrangeiros em Espanha. Apareceu o Sporting e chegámos a acordo, mas o Sousa Cintra [presidente dos leões] não apareceu com o dinheiro. Então concretizou-se o negócio com o Benfica. Mas aquele balneário, uuui, era muito complicado. Cheio de grupinhos e muito tenso. Quatro meses de salário em atraso e eu transferido do Atlético [Futre ganhava 150 mil euros/mês]."

8. Almofada do Milan "Sabe o engraçado desse clube? Só fui convidado para fazer a digressão de pré-época. Fomos à Ásia e eu aproveitei para visitar o Pedro Xavier, que joga em Hong Kong, no South China. Foi lá que eles me disseram que ia ficar toda a época. O treinador era o Capello e tu nem podias abrir a boca nos almoços e jantares. Era uma disciplina notável." E o Milanello? "Em 1995, aquele centro de estágio já era uma estrutura de perder de vista, com todas as condições possíveis e imaginárias. Mas era o pessoal quem me surpreendia. Certa manhã, o Boban disse que tinha dormido mal, com pesadelos. Nada de mais mas caíram-lhe logo dois empregados do Milan a perguntarem-lhe se estava bem, se tinha problemas pessoais, se era a almofada, se era o colchão..."

9. Férias no Algarve "Quando cheguei a Londres, o meu número era o 16. Não gostei, claro. Queria o 10, que pertencia ao Moncur. Entrei no gabinete do treinador Harry Redknapp, que era um homem impecável. Disse-lhe de minha justiça e fiquei com a 10... mas só depois de garantidas umas férias ao Moncur na minha casa no Algarve."

10. Os quatro presidentes "Já viste a minha colecção de presidentes? Pinto da Costa [FC Porto], Gil y Gil [Atlético Madrid], Bernard Tapie [Marselha] e Silvio Berlusconi [Milan]. Só ases. Ganhava-te ao póquer, qualquer que fosse a tua mão. Que comunicadores! Aqueles quatro podiam falar, falar horas a fio sem nenhum papel à frente. E convenciam-te. Com estes quatro, o Fidel estava bem arranjado... O Gil y Gil foi o que mais me marcou. A nossa relação era de amor-ódio. Quando soube que estava no hospital, era noite em Lisboa. Saí de casa no meu carro e cheguei a Madrid de madrugada. Mal pus um pé no hospital, ele morreu."

11. Cigarros "É o meu maior vício. Comecei aos 12 anos. Quando era jogador, tinha um calendário. Fumava 12 na terça, dez na quarta, oito na quinta, seis na sexta, quatro no sábado e um no domingo, depois do almoço, antes do jogo."

Futre, 43 anos, autodefine-se como ibérico, tem dois filhos (Paulo é baixista do grupo musical Fr1day; Fábio joga nas camadas jovens do Atlético) e vive em Madrid. "Todos os dias, abraçam-me, assino autógrafos e camisolas, ainda não vivo em tranquilidade. Em Portugal, é muito raro alguém dizer-me alguma coisa na rua."
In ionline.pt


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