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Quarta, 24 Abril 2024
O homem que não queria Knopfler no plantel chegou há 20 anos a Alvalade PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Quarta, 24 Junho 2009 17:18

Paulo Sousa e Pacheco foram duas "facadas" de Cintra ao rival BenficaSousa Cintra desafiava a lei do impossível. E até andou no meio da guerra dos Balcãs por Pancev

 

24 de Junho de 1989. As "unhas" do presidente Jorge Gonçalves, eleito no ano anterior, tinham arranhado o Sporting e feito meigas festinhas aos adversários. O clube volta às urnas e 15 354 associados decidem apostar em José Sousa Cintra, empresário que começara como ascensorista e vendedor de caracóis mas já dominava o império das águas Vidago. Duas décadas depois, o algarvio permanece ainda o derradeiro bastião do populismo na liderança do clube.



Santana Lopes e José Roquette já estavam na linha de sucessão mas tiveram de esperar até 1995. Em seis anos, Cintra fez de tudo: num estilo aventureiro mas pouco profissional, montava grandes plantéis mas nunca ganhava. "Culpa das arbitragens. Aí é que era mau", diz ao i. "Agora só quero paz e sossego mas sei que fizemos tudo. Tive pena do que aconteceu após a minha saída, mas voltámos a ficar entregues a um grande sportinguista, como é Bettencourt. Isso é que interessa!", acrescenta.

O que sobra então do reinado do empresário? Histórias, aventuras e mitos que ainda hoje são recordados. Como o dia em que, em vésperas de concerto dos Dire Straits, comentou que o guitarrista Mark Knopfler "era um bom jogador mas o plantel estava fechado". Ou como a ocasião em que, numa entrevista em directo para uma rádio, partiu o vidro do carro com uma garrafa de água que queria atirar para um arvoredo à beira da estrada. Duas gaffes entre três mandatos sem títulos mas com um clube ecléctico, com um pavilhão, com capacidade de promover jogadores da formação aos seniores, com sócios e com estádio cheio. E com Cintra nos cenários mais estranhos e improváveis.

Amunike negociado entre facas "Ninguém acreditava que era capaz de contratar o Amunike. Era um dos melhores do mundo", recorda. O nigeriano, eleito melhor jogador africano em 1994, pertencia aos egípcios do Zamalek, tinha estado no Campeonato do Mundo desse ano e era desejado por Queiroz. Problema: o interesse dos alemães do Duisburgo, que tinham minado o caminho leonino. Pelos vistos, não o suficiente.

Primeiro episódio: como conseguir um visto para o Egipto quase em cima das três da tarde, hora de fecho da embaixada? Multiplicaram-se os telefonemas. "É impossível", diziam. "Mas tem de ser, vou buscar o Amunike", pedia o ex-presidente. Meia hora depois estava tudo garantido - uma pequena delegação dos lisboetas estava a caminho do Cairo. Abdel Ghany, ex-avançado do Beira-Mar, serviu de cicerone na capital e levou Cintra às instalações do Zamalek. "A direcção estava dividida: o presidente e mais alguns queriam vendê-lo ao Sporting; outros, aliciados pelo Duisburgo, queriam colocá-lo na Alemanha. Começaram a discutir, alguns levantaram-se e fizeram ameaças com facas. No meio da confusão, Sousa Cintra saiu com contrato assinado", conta-nos uma fonte. O acordo foi fácil e o nigeriano já tirava, no hotel, fotografias com a camisola do Sporting. Mas a novela não acabara. Longe disso.

"O Duisburgo foi para o Egipto mas deixou-se ficar no aeroporto. Amunike tinha algum dinheiro na mão para despesas pessoais, estava pronto para viajar para Lisboa mas não queriam deixar. Na zona dos passaportes e vistos estava a ser agarrado pelo braço para entrar no avião mas os alemães puxavam-no para fora. Só no ar é que nos apercebemos de tudo o que se tinha passado", completa. 

O mau feitio de Rodolfo Rodríguez Sousa Cintra estava no Brasil e aproveitou para se reunir com o agente Juan Figger, na esperança de conseguir uma boa contratação, em 1991. Mas foi aí que enfrentou o momento mais delicado. Rodolfo Rodríguez, guarda-redes uruguaio que tinha sido contratado por Jorge Gonçalves, regressara ao Brasil, em 1989. No entanto, o anterior elenco deixara salários e prémios em atraso. Cintra caiu na cilada. "Nem me quero lembrar."

"Se saiu assustado com alguma coisa só pode ter sido por eu ser uma pessoa feia", diz Rodolfo Rodríguez. Mas a novela não é mito - o guardião ameaçou o ex-presidente do Sporting (que nem conhecia a existência da dívida) com um revólver. Cintra assustou-se. "Eh pá, não me faça lembrar disso..." Uma coisa é certa: Cintra está vivo e Rodríguez recebeu o dinheiro. Mas não naquela altura. Nem com este tipo de abordagem vacilou.

Guerra? não, primeiro Pancev Sousa Cintra fazia questão de tentar trazer grandes nomes para o Sporting. Romário, afinal, era Rosário, mas Darko Pancev, um dos melhores dianteiros da década de 90 - 94 golos em 91 jogos pelo Estrela Vermelha, que venceu a Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1991 - foi um dos alvos. E mais uma aventura.

"Lembro-me que toda a gente me avisava que a Jugoslávia estava em guerra. Mas, por onde andei, não vi nada. Nem bombas, nem tiros... Estava tudo pacífico", diz. A viagem, em virtude das dificuldades nas ligações aéreas e terrestres, foi tudo menos fácil mas Cintra chegou mesmo a falar com o avançado, que pediu dois milhões de contos (10 milhões de euros). O negócio acabou por não ser feito e Pancev assinou mesmo pelo Inter.

À procura de tradutor por "Cherba" A contratação de Bobby Robson chegou a estar em risco - o inglês veio para Portugal com tudo negociado mas depois os números tiveram de ser revistos - mas Cintra foi tentando fazer as vontades ao inglês. Juskowiak, por exemplo, tinha brilhado nos Jogos Olímpicos de 1992, inflacionou mas nem por isso deixou de vir. Tal como Cherbakov.

O médio ex-Shakhtar esteve no estágio de pré-época em 1991/92 (Lyon). Os jogos particulares não convenceram e os números eram elevados. Por isso Cherbakov esteve no táxi, com o empresário, para regressar. E num instante tudo mudou.

Cherbakov, já no aeroporto, voltou ao hotel porque a equipa técnica contava com o jogador. O empresário falava russo e francês. Solução? Alguns jornalistas foram chamados para fazerem a tradução. O esquerdino lá assinou e os jornais souberam, literalmente em primeira mão, todas as condições para a consumação do negócio com os leões.

Careca e as ondas de euforia "Careca é uma mistura de Eusébio e Pelé" - foi assim que Cintra apresentou o avançado ex-Cruzeiro em 1990. Foi um flop mas é paradigma das contratações de Cintra. E até da forma como motivava. "Tens de mostrar que não és nenhuma merda. És o melhor e Itália toda vai estar a olhar para ti", disse. "Vá, agora diz ao treinador o que vais fazer", completou. Pormenor: Careca entrou a três minutos do fim. Este é só um exemplo, mas "a verdade é que o Sporting jogava bom futebol, havia uma alegria que contagiava e Alvalade estava sempre cheio, mesmo sem ganhar troféus".

João Vieira Pinto e o verão quente "Ainda sou amigo do João Pinto mas tive pena de nunca o ter contratado", admite. Esteve quase. E mais de uma vez. "Fiz tudo. E já tinha tudo tratado com Valentim Loureiro", salienta. Foi aos EUA, inclusive, ter com o jogador mas o Benfica antecipou-se. Já Paulo Sousa e Pacheco mudaram mesmo. Antes de assinarem, jogou-se às escondidas, houve mudanças de casa nocturnas e pequenas avionetas a saírem de Tires para Espanha. O Sporting teve receio de ser obrigado a indemnizar o Benfica em quatro milhões de contos caso o jogador não tivesse justa causa para rescindir. E por isso, e só por isso, João Pinto não foi para Alvalade.

 

In ionline.pt

 



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