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Paulo Sérgio vira um touro no ar PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Quarta, 21 Abril 2010 14:35
100421_paulo_sergioNem só de bola é feita a vida de Paulo Sérgio. O homem que aos 42 anos entrou em contagem decrescente para comandar os leões é um aficionado, amante confesso de toda a arte taurina, ou não tivesse ele sido ocasional forcado pelo Grupo Amador de Vila Franca de Xira, mantendo ainda hoje uma forte ligação ao "amigo-irmão" Carlos Teles, o popular Caló, figura emblemática da tauromaquia portuguesa. Quem passa por Vila Franca e não conhece Caló, decerto passou sem parar. Paulo Sérgio não foi um desses casos. A passagem como jogador em 1987/88 pelo Vilafranquense marcou o, hoje, técnico de forma indelével. Ali retorna a cada oportunidade, e da areia das arenas, da festa brava, continua a retirar inspiração.



A galhardia, o espectáculo vivido com fervor, a coragem, o sangue manchando rostos e fardas, o espírito de entreajuda presentes em cada pega causaram profundo efeito no então jovem futebolista, que treinava semanalmente ao lado do filho adorado de Vila Franca, Caló. Considerado melhor forcado nacional em 1988, coleccionando prémios em 20 anos de actividade, conta a O JOGO como tudo começou... falando sobre Paulo Sérgio mais do que como amigo. Fala dele como alguém seu. "O gosto dele por touros nasceu um pouco ao mesmo tempo que a nossa amizade. O 'meu' Paulo via-me treinar ao lado da equipa aqui no clube da terra, porque eu preparava-me fisicamente para cada corrida. Um dia, depois de uma corrida, começámos a falar e... olha, até hoje. Tem sido uma amizade intensa desde então", adianta Caló que, sem se deter, conta como foi a participação especial do futuro líder dos leões na qualidade de membro activo do grupo de forcados vilafranquense: "João Dotti era o nosso cabo e fomos pegar à Tolosa. Fiz questão de fardar o 'meu' Paulo à forcado. Disse-lhe que para o futebol não prestava e que nos acompanhasse. Foi só dessa vez. Depois passou a só andar com o grupo. Faz parte desta família de 'forcadagem'. Ele é de outro mundo, uma pessoa maravilhosa, mas não o piquem, porque aí vira um touro no ar!"

E se há quem recorra ao já lendário discurso do ficcional técnico Tony d'Amato, interpretado por Al Pacino no filme "Um domingo qualquer", Paulo Sérgio recorre a outro vídeo - este bem real - para mostrar aos seus jogadores o que faz um grupo. Caló tem novamente a palavra: "Houve uma pega do nosso grupo em que o touro agarrou o nosso amigo Carlitos pela face e fê-lo desmaiar em plena praça. Todo o grupo saltou para o proteger duas vezes das investidas do touro. O 'meu' Paulo ficou muito impressionado e ainda hoje gosta de dar esse exemplo de entreajuda aos jogadores."

Quando não dominadas por futebol, as conversas de Paulo Sérgio passam pelos touros. Antes de cada jogo, é normal receber o telefonema de incentivo de Caló. Benfiquista de nascimento, o antigo forcado deixou para trás as preferências e submete-as ao treinador. "Sou do clube que ele treina! Agora sou sportinguista desde pequenino." Os diálogos pré-jogo, esses só podem ter analogias taurinas. "O 'meu' Paulo fala comigo aí uma meia hora antes de cada jogo. Como não percebo nada de futebol, relaciono os jogos com as corridas. Por exemplo, antes de ele jogar em Alvalade, digo assim: 'Pá, olha que isto é como se fosse uma corrida na Praça de Sevilha, tens de cortar uma orelha!' Contra o Benfica é como se ele fosse para outra praça grande, estilo Madrid", graceja Caló, que aplica o remate final: "Quando os avançados dele no Guimarães não marcavam golos, eu bem que lhe gritava ao telefone: 'Esses gajos não sabem cortar a orelha ao bicho.'" Aconteça o que acontecer, uma certeza: Paulo Sérgio será sempre nome grande na terra que o adoptou.

Curiosidades

O JOGO e não só

Caló abriu o baú de recordações... e O JOGO, do qual é leitor. "Leio-o sempre, não é tanga", exclama folgazão, exibindo fotos do que o ex-forcado chama "a seita do Paulo", que levava lá "o Mauro Airez, o Fernando Mendes e o Sérgio Cruz".

Alentejano de... Lisboa

A família de Paulo Sérgio é oriunda do Alentejo, mas o técnico nasceu na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, e cresceu nos arredores da capital, em São João da Talha. A família regressou entretanto à terra, e tanto os pais como o irmão (Nélson) têm casa em Fronteira (Portalegre).

Casado e com duas filhas

Filho de Catarina e José Brito, reformados a viver em Fronteira, o próximo técnico sportinguista vive com a mulher Sandra e com as duas filhas.

Formação em Educação Física

Paulo Sérgio seguiu a tradição desportiva e enquanto jogava futebol começou a preparar o futuro formando-se em Educação Física, em Lisboa. A formação académica foi, mais tarde, complementada com o curso de treinador, imprescindível para o exercício da actual carreira.

Forcados até foram ao Jamor

No ano de estreia na Liga Sagres, Paulo Sérgio conseguiu qualificar-se para as competições europeias, via Taça de Portugal. A orientar o Paços de Ferreira, foi à final do Jamor, onde se bateu com o FC Porto, e teve algumas dezenas de amigos de Vila Franca (alguns forcados amadores) a darem-lhe apoio.

Trio certo... e um leão

Ao longo da sua ainda curta carreira de treinador, Paulo Sérgio foi auscultando o mercado e recrutando elementos que com valências distintas para compor o seu "staff" técnico, que o acompanhará na etapa que se avizinha em Alvalade. Paulo Sérgio lidera assim um quarteto já definido (juntamente com Alberto Cabral, Sérgio Cruz e José Herculano) que ficará completo com a definição do quinto elemento, que será um técnico com fortes ligações ao emblema leonino, ou seja, uma pessoa da casa que possa manter a mística e a filosofia do clube.

O mais antigo, e braço-direito dos adjuntos de Paulo Sérgio, é Alberto Cabral. "Fazem uma dupla espectacular. O Alberto Cabral era treinador de guarda-redes no Santa Clara e foi sugerido por nós para se integrar na sua equipa técnica", explica Paulino Pavão, ex-presidente dos açoreanos e responsável pela sua contratação em 2006. Actualmente, dado o seu conhecimento e experiência, Alberto Cabral colabora com Neno no Vitória de Guimarães na preparação dos guarda-redes, funções que poderá também desempenhar em Alvalade, em cooperação com outro adjunto ou mesmo a tempo inteiro, se for necessário...

O segundo adjunto e também preparador-físico é Sérgio Cruz, com dois anos de trabalho com Paulo Sérgio. A vertente da preparação física e planificação dos treinos, cargas de trabalho, períodos mais ou menos intensivos, de recuperação ou de descanso, vai passar pela organização conjunta entre Sérgio Cruz e Paulo Sérgio, embora o próprio departamento médico tenha uma palavra a dizer.

José Herculano foi o último a juntar-se a Paulo Sérgio, designadamente esta temporada, já no Vitória de Guimarães. É o mais jovem dos três, aquele mais virado para as novas tecnologias (PowerPoints, estatísticas...), que utiliza para complementar as observações e análise de adversários, à semelhança do que, por exemplo, André Villas-Boas fazia com José Mourinho, ou Pedro Caixinha com José Peseiro, em Alvalade.

Por último, tal como José Lima com Carlos Carvalhal, uma pessoa da casa completará a equipa técnica.

Um gajo giro e... áspero

Caló conhece Paulo Sérgio como poucos. Juntos viveram aventuras próprias da juventude, trocaram segredos, juraram amizade até ao fim. Nenhum quebrou a promessa. De olhos fixos, mostrando a marca de guerra na forma da longa cicatriz que tem junto ao pescoço, o antigo forcado vilafranquense traça, rápido e certeiro, o perfil ao treinador que os leões esperam: "Ele é um gajo muito giro, mas atenção que quando não gosta é áspero. Com ele, é assim: ou gosta muito ou não gosta nada! Mas estamos a falar de uma pessoa equilibrada, respeitadora, não é nenhum maluco. Maluco era eu, que passava a vida a atiçar e o Paulo é que me servia de travão. Ele sempre teve ideias fixas quanto ao que tinha a fazer. Sabia quando divertir-se ou preservar-se. Não facilitava nem brincava com as obrigações."

Amigo até no luto

Orgulhosamente gitano, Caló só deixa para trás o rasgado sorriso quando se lembra da mãe, recentemente falecida e pela qual segue um ano de luto, seguindo a tradição cigana. Ao lado do pai António, o agora funcionário da Cimianto esforça-se por não derramar lágrimas e recorda quão importante foi o amparo de Paulo Sérgio. "Quando morreu a minha mãe, ele deixou tudo para trás e veio ter comigo. Nunca me vou esquecer. Só peço a Deus e à minha mãe que lá está em cima, que ele seja feliz em tudo o que fizer. Faço esse pedido todos os dias, acredite! Espero que ele vá ainda mais longe e um dia treine aquele que é o clube dos meus sonhos, o Real Madrid!"

Maldade pelo Olivais

A história de amor entre Paulo Sérgio e Vila Franca de Xira até nem começou nada bem. Afinal, é quase sempre assim em todas as histórias com final feliz. O então vivaço avançado do Olivais e Moscavide realizava a sua primeira época de sénior e foi até ao Ribatejo desfeitear o Vilafranquense com um só golo de seu autoria. Brilhou e isso valeu-lhe o interesse do emblema que acabara de derrotar. Quem não achou piada nenhuma foi... Caló, que lá acabou por lhe perdoar a desfeita. "Lembro-me bem desse jogo. De ficar a olhar para o avançado que nos marcou o golo e fazer a festa. Mais tarde, quando o nosso então presidente Mário Cerejo o foi buscar, eu topei-o logo nos treinos e aí nos cafés. Mas abençoado dia em que ele veio para cá. Ele agora faz parte da nossa terra, é quase como um filho", comentou.

17 anos de jogador após nega aos juniores do Sporting

A veia desportiva surgiu muito cedo na vida de Paulo Sérgio. Era líder da sua equipa na escola D. Dinis, em Lisboa, aos sete anos já jogava em São João da Talha e, anos mais tarde, chegou a tentar a sorte na formação leonina. No entanto, ao aperceber-se de que o seu destino seria a equipa B dos juniores do Sporting, decidiu recusar o convite e começou mesmo a carreira de profissional no Olivais e Moscavide, na temporada 1986/87. No total, jogou durante 17 anos, embora nem sempre ao mais alto nível, não tendo conseguido chegar a qualquer dos três grandes de Portugal. Depois do Olivais, foi para o Vilafranquense e a seguir para o Belenenses, clube que representou durante cinco temporadas e pelo qual venceu uma Taça de Portugal (1988/89). Seguiram-se ainda Paços de Ferreira, Salgueiros, Setúbal, Feirense, Santa Clara, uma curta experiência no Grenoble, de França, e finalmente Estoril e Olhanense (até 2002/03). Dos emblemas que representou como jogador, três deles também os defendeu como técnico (Paços de Ferreira, Santa Clara e Olhanense). No final da última temporada como jogador, no Olhanense, foi desafiado a pendurar as botas e a abraçar a actual carreira.

Carreira como jogador

ÉPOCA EQUIPA PROVA

2002/03 Olhanense II B

2001/02 Olhanense II B

2001/02 Estoril II B

2000/01 Estoril II B

1999/00 Estoril II B

1998/99 Grenoble II B

1997/98 Santa Clara II B

1997/98 Feirense II H

1996/97 Setúbal I

1995/96 Setúbal II

1994/95 Salgueiros I

1993/94 P. Ferreira I

1992/93 Belenenses I

1991/92 Belenenses II H

1990/91 Belenenses I

1989/90 Belenenses I

1988/89 Belenenses I +

1987/88 Vilafranquense II

33% de vitórias a treinar na liga sagres

Paulo Sérgio vai na sua oitava temporada como treinador principal, mas só na época passada conseguiu orientar uma equipa no principal escalão do futebol português. Acumula 257 jogos como treinador, dos quais apenas 57 são na Liga Sagres... e dos quais apenas venceu 33% (19 vitórias, 15 empates e 23 derrotas). A estreia como treinador foi auspiciosa, subindo o Olhanense da II B à II Liga em 2003/04. Nos anos seguintes não voltou a conseguir uma promoção, apesar de mais duas tentativas no Olhanense, no Santa Clara e no Beira-Mar. Em 2008/09 foi contratado pelo Paços de Ferreira, onde conseguiu o seu maior feito: ao estilo de Carlos Carvalhal, levou o Paços à final da Taça de Portugal e esta época à Liga Europa. Brilhou tanto na Mata Real que foi puxado pelo Guimarães à 7ª jornada para render Nelo Vingada, que caíra por causa dos maus resultados.

Carreira como treinador

ÉPOCA EQUIPA PROVA J LUGAR

2003/04 Olhanense II Liga B 38 1º

2004/05 Olhanense II Liga 34 9º

2005/06 Olhanense II Liga 34 4º

2006/07 Santa Clara II Liga 30 4º

2007/08 Santa Clara II Liga 18 9º

Beira-Mar II Liga 11 6º

2008/09 P. Ferreira I Liga 30 10º

2009/10 P. Ferreira I Liga 7 10º

Guimarães I Liga 20 5º

TOTAIS

Jogos

257

Vitórias

110

Empates

66

Derrotas

81


Leão puro à moda do Ribatejo apanhado de surpresa pelo pulo

O ribatejano Mário Cerejo não cabia em si de contente ao ser colhido de surpresa pela notícia: Paulo Sérgio é mesmo o futuro técnico do Sporting. Duplamente feliz pelo sucesso de um amigo e de o ver ao comando do seu clube de coração, o empresário de restauração vilafranquense recebeu O JOGO no seu bar onde conversas sobre futebol (muitas delas indizíveis) também se servem ao balcão. "Não esperava isto, mas reconheço valor ao Paulo. Tenho lugar em Alvalade, sou sócio há mais de 30 anos e o pessoal dizia-me a brincar que eu ia apanhar lá com o Paulo Sérgio. Claro que bem sei do seu mérito, mas sinceramente não esperava que desse o pulo tão cedo. Tem tido uma carreira meteórica, à Mourinho." Olhando bem para trás, Mário Cerejo - sobrinho do ex-presidente do Vilafranquense que contratou o agora técnico quando jogava -, até nem se sente tão surpreso. "Quando era novo, o Paulo já tinha objectivos bem traçados, em especial quando percebeu que como futebolista não iria mais além. Como se diz no Ribatejo, quando ele aponta ao cavalo, vai até ao fim. Vai ter sucesso!"

Forcados de Vila Franca querem pegar na próxima Corrida Sporting

O Sporting é, porventura, o clube nacional com maior número de personalidades afectas à arte de lidar touros. Consciente do que considera uma evidência, Caló - que pegou um pouco por todo o Portugal, andou pelo México, Colômbia, Grécia, sempre de cara feita e peito aberto para o touro -, não perdoa e, com um sorriso malandro no pré-aviso reclama: "Sinceramente, não sei se o Paulo Sérgio já assinou contrato com o Sporting, mas devia ter já como cláusula no contrato a participação do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira na próxima edição da Corrida Sporting. Isso devia estar lá escrito para o Paulo depois poder assinar. Vou já falar sobre isso com o meu amigo Maurício do Vale [n.d.r. director de Relações Públicas dos verdes e brancos e figura intimamente ligada à tauromaquia nacional]." Para acabar, ficou uma promessa a ser cumprida sempre que o Sporting jogar: na casa dos forcados de Vila Franca, ali à Travessa do Espírito Santo, todos vão torcer pelos leões de Paulo Sérgio.

 

In ojogo.pt


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