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Sexta, 26 Abril 2024
Aurélio Pereira: "Faço aquilo de que gosto, com paixão e no Clube certo" PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Terça, 31 Março 2009 21:44
090331_aurelio_pereira.jpgOs cibernautas perguntaram e Aurélio Pereira respondeu. Das mais de 100 questões feitas, a redacção do jornal Sporting seleccionou perto de 20, às quais o responsável máximo pelo Departamento de Recrutamento «leonino» respondeu.


Luís Monteiro
Sócio n.º 42 625
Castelo de Paiva

– Já foi equacionada a construção de uma Academia Sporting na zona Norte de Portugal, dos mesmos moldes/dimensão que existe em Alcochete?
– Temos um projecto de Escolas Academia que são da responsabilidade de Diogo Matos, um projecto muito bem liderado e com grande êxito. É um projecto de franchising, com o nosso know-how e, neste momento, temos 21 Escolas Academia em vários pontos do País, mas continuamos a trabalhar no sentido de que outras se sigam.

João Carlos Antunes Oliveira
Idade: 35 anos
Sócio n.º 22 480

– Gostaria de saber quais os critérios que o sector do futebol de formação segue na escolha dos seus treinadores, ou seja, se valorizam todos os aspectos de formação do indivíduo, incluindo o amor pelo nosso Sporting?
– Existe um perfil para os treinadores do Sporting que, logicamente, é traçado pelo coordenador técnico. Neste perfil, existe um conjunto importante de qualidades, não só técnicas, como humanas e de liderança que ao coordenador técnico diz respeito.
A estrutura técnica tem, ao longo de todos estes anos, mantido grande estabilidade e, por isso, não têm acontecido grandes alterações, sinal de que as escolhas têm sido correctas. Posso dizer que cerca de cinco treinadores que agora estão no futebol jovem, entraram pela área do recrutamento. Todos eles se candidataram a uma entrada no Clube, ou seja, foram alguém que se interessou, entregou um currículo e a quem foi possibilitada a integração na rede de observadores, numa primeira fase, sem qualquer compensação financeira. Investiram no trabalho de recrutamento durante dois, três anos, numa tarefa que exige paixão e sacrifício. Mais tarde, quando surge uma oportunidade para integrar algum treinador, o coordenador técnico, com o seu sentido de responsabilidade e em sintonia com o responsável do Recrutamento, opta por uma solução encontrada dentro do Clube, porque aí é mais fácil seleccionar, na medida em que já se conhece, não só a pessoa, como a sua qualidade de trabalho. As alterações que aconteceram foram mais na equipa de juniores, uma vez que o Paulo Bento foi promovido aos seniores e o Luís Martins, que esteve bastantes anos ligado ao Sporting, onde fez um bom trabalho, saiu porque quis abraçar um projecto ao nível de seniores, neste caso, no Portimonense. O substituto encontrado foi o José Lima, formado como jogador nas escolas do Sporting, que foi internacional em todas as categorias, inclusivamente na selecção «A», que se formou na Faculdade de Motricidade Humana e tem um perfil adequado. Tem-se revelado uma pessoa extremamente competente e encaixou perfeitamente na estrutura. É um sportinguista convicto. Portanto, acho que a escolha feita pelo coordenador técnico, Jean Paul, foi perfeitamente acertada.

Nuno Faria
Idade: 37 anos
São Bartolomeu do Sul, Castro Marim

– Como se consegue educar crianças e jovens para a bondade da prática do futebol e para a justeza da competição, quando depois, ao vivo ou em frente ao televisor, estes são colocados perante um espectáculo que não é pautado por nenhum destes valores, ou seja, não têm verdade, nem dignidade, nem honra?
– Este nosso sócio coloca o dedo na ferida e aqui vou falar como adepto. Vou dar uma opinião pessoal de adepto. Na realidade nós todos, dirigentes, treinadores, comunicação social, governos e pessoas de todos os quadrantes, deveríamos deixar para os nossos jovens melhores exemplos. Se não, vejamos: em Portugal, a meu ver, as pessoas gostam pouco de futebol, mas têm paixão pelos clubes e são essas as únicas pessoas que hoje vão aos estádios. Se verificarmos os programas de televisão, da rádio, as declarações dos jornais, todos nós assistimos à forma apaixonada como as pessoas do desporto, da cultura ou de todos as classes sociais, com maior ou menor cultura, todas elas, aqui e ali, defendem acerrimamente os seus clubes. Até aqui, é compreensível, porque essa paixão faz parte do futebol. O problema é quando esta paixão se transfere para dentro dos organismos que tutelam o futebol e, nesta fobia completa do «controlar tudo», se escolhem pessoas especializadas para gerir esses organismos, tais como a disciplina, justiça, arbitragem, entre outros, vestindo de uma forma exagerada a camisola do seu clube. Esta realidade tem sido a grande culpada da falta de credibilidade que nós hoje encontramos, mesmo ao mais alto nível de responsabilidades, o que é lamentável. Vimos escrito em jornais coisas como: «Prefiro alguém com influência na Liga, do que um ponta-de-lança», ou "Eu não quero a Federação Portuguesa de Futebol, quero é o Conselho de Arbitragem" e, nesta ânsia de total controlo das instituições que deviam ser credíveis, se instalou no futebol um clima de total suspeição e desconfiança. Ora, quando nós sabemos que esta paixão existe, quando nós sabemos que essa paixão, muitas vezes, passa para as instituições que lideram os organismos que tutelam o futebol e, quando essas paixões são utilizadas por pessoas que lá são colocadas e que vestem a camisola do seu clube, não podemos estar à espera de imparcialidade. E porquê? Porque quem controla quer continuar a controlar. E ninguém, neste momento, acredita no que quer que seja. Nem aqueles que têm ganho todos os anos, acreditam que é possível ganhar de outra maneira. Esses são os que acreditam menos. E, na minha perspectiva, vejo que ao longo dos meus 40 anos de Sporting e de futebol, as pessoas preocupam-se com os lugares, com as escolhas das pessoas certas para o controlo, vimos as guerras que existem Norte-Sul e Sul-Norte promovidas por várias pessoas, e vemos comentários públicos que são lamentáveis. Isto é o modo como se tem pautado o futebol português. A meu ver, e não é para puxar a brasa à minha sardinha, o Sporting tem sido o único Clube dos mais representativos a não utilizar essa pressão que é de todo lamentável. Actualmente, o presidente Hermínio Loureiro, que é sportinguista e escolheu bem, não veste a camisola e não é pressionado pelo seu Clube. Vítor Pereira, que é sócio do Sporting, não veste a camisola e também não tem sido pressionado. Isto não é uma crítica, é apenas uma constatação. As pessoas do futebol têm, efectivamente, de fazer alguma coisa que os dignifique aos olhos dos nossos filhos para que os jovens, amanhã, nos possam olhar de outra maneira.

Vítor Ferreira

– Com resultados mais do que provados na formação, por que razão não existe um elemento na SAD para esta área?
– Existe um elemento que é fundamental, o professor Pedro Mil-Homens que dirige a Academia do Sporting de uma forma extremamente organizada e, como tal, isso é determinante no nosso dia-a-dia.

Filipe Jorge
São Miguel, Açores

– A formação do Sporting é vista aos olhos do Mundo como sendo um exemplo a seguir. Muitos são os jogadores que saíram da «cantera leonina» e hoje estão em grandes clubes da Europa. Desta forma, como é feita a captação de um jovem, desde a observação inicial ao ingresso na Academia do Sporting?
– Há várias formas dos jogadores chegarem à Academia, mas aquela que é mais frequente tem a ver com a informação que chega pela estrutura dos coordenadores de zona e sua equipa em todos os distritos. A partir daí, a informação é trabalhada e depois, o passo seguinte tem a ver com a intervenção da estrutura central do Recrutamento e, finalmente, a última decisão que pertence à estrutura técnica. A entrada na Academia é aos 13 anos, em quase todos os casos. É uma estratégia nossa e, o que acontece, é que esse jovem escolhido é acompanhado dois ou três anos antes de entrar na Academia, normalmente já trabalhando debaixo da nossa orientação, inclusivamente, integrado nas nossas equipas de escolas ou infantis, que desenvolvem a sua actividade no Estádio Universitário. Depois de entrar na Academia, segue o trajecto normal, ou seja, até aos juniores de segundo ano, seguindo uma avaliação contínua no seu percurso de formação.


Paulo Sérgio Alves
19 anos
Sócio n.º 36 087
Queijas

– Existe realmente uma proporcionalidade de qualidade/valor de um jovem, isto é, se observar um jogador de grande qualidade, é interesse do Sporting contratá-lo, mesmo que esteja valorizado em milhões de euros por um clube que admita vendê-lo?
– Cada caso é um caso. Se realmente a qualidade do jovem atleta for perfeitamente suportada por informação técnica, a Administração da Sporting, SAD, normalmente, procura resolver o assunto, mas sem entrar em loucuras.

Francisco João Range Prates

– Se tivermos dois jovens praticantes de futebol com, por exemplo 14 anos, um com puberdade tardia, mas com talento evidente e outro com puberdade precoce, mas com talento apenas razoável, a qual o treinador dará preferência quando tiver de optar por um deles?
– Esta pergunta é pertinente e lógica e é um assunto que já foi discutido várias vezes por nós, em tempo certo. Não temos dúvidas de que, nesse caso, vamos escolher quem está mais atrasado, embora nos revele um futuro mais promissor. Só temos de ter paciência e também aconselhar e amparar o jovem nesse processo mais complicado da sua formação, dado que naquele momento o seu rendimento pode ser menor e poderá ser menos utilizado, o que, em muitos casos, não é muito compreendido, às vezes até pelos próprios pais.


Fernando Alvega
47 anos
Lisboa

– Que significado tem para si pertencer aos quadros do Sporting Clube de Portugal?
– Um significado muito especial porque foi neste Clube que me ensinaram valores que sigo e que, para mim, são fundamentais. Esta cultura que o Sporting tem e que sempre me apaixonou e que a bebi com 14 anos, foi importante para que eu, ao longo destes anos de trabalho com jovens, a pudesse transmitir com a maior seriedade.


Carlos Silva
61 anos
Membro da Direcção do Núcleo Sportinguista da Caixa Geral de Depósitos
Queluz/Lisboa
Sócio n.º 5358

– Depois de observado e escolhido o jovem atleta (futuro futebolista), o que é que impressionará mais o Aurélio Pereira ao longo dos primeiros anos de carreira deste jovem: a sua habilidade nata para a modalidade ou o seu comportamento educacional e cívico?
– Uma coisa está aliada à outra e nós não descansamos para juntar as duas. Também somos educadores. Acima de tudo, quero dizer que a nossa estrutura está preparada para que, em conjunto com os pais, possamos encontrar a melhor solução para a sua formação global.



José Carlos
46 anos
Alverca
Sócio n.º 20 011

– A formação é cara e tem vindo a encarecer por ser cada vez mais competitiva. Que comentário ou leitura lhe merece esta observação?
– A formação não é cara, desde que ela seja considerada não como uma despesa, mas, sim, um investimento. Se efectivamente o investimento é bem feito, com rigor, transparência, com cabeça, então teremos o objectivo conseguido.

Ricardo Silva
23 anos
Castelo Branco

– Podemos observar, desde cedo, muitas crianças a jogar futebol, mas a partir de que idade (se é que este é um factor importante) podemos dizer que uma determinada criança tem potencial, tem um futuro enquanto profissional de futebol?
– A primeira qualidade que encontramos na detecção de um jogador para o Sporting é, sem dúvida alguma, a sua relação com a bola, a sua habilidade natural. À medida que ele vai crescendo e vai desenvolvendo todas as suas capacidades, num programa de avaliação gradual, poderemos, por volta dos 17 anos, perceber melhor se realmente esse atleta tem capacidade para integrar o futebol profissional.


João Coutinho

– Por que razão a famosa escola do Sporting praticamente só produz extremos de grande qualidade?
– Não me parece que seja assim. Afinal, actualmente, temos um guarda-redes titular que veio das escolas do Sporting, temos um central que tem sido titular e também foi formado no Clube, enfim, não me revejo nessa observação. Aliás, se verificarmos nos escalões de formação da selecção nacional, vamos encontrar cada vez mais jogadores que ocupam várias posições. Evidentemente que esta é uma pergunta que tem cabimento e a que nós estamos atentos, mas também devo dizer que os jogadores que cita (Futre, Figo, Quaresma, Simão, Cristiano Ronaldo, Nani) são normalmente jogadores que jogam no último terço do campo, são jogadores explosivos, de uma capacidade de improvisação muito forte e que, de alguma maneira, na sua formação, muitas vezes não jogaram como extremos. Só que, quando chegam aos seniores, acabam por ser mais aproveitados nessa vertente porque resolvem, apaixonam o público, têm magia e, por isso, também são muito mais fáceis de lançar numa equipa profissional.

Paulo Ribeiro

– Não acha que estar a procurar e referenciar jovens em idades tão precoces apenas contribui para o envaidecimento das famílias, e em nada contribui para o desenvolvimento da personalidade dos jovens, este, sim, um factor determinante no seu comportamento futuro?
– A nossa estratégia passa por detectar cedo, ou seja, achamos que o facto de um atleta estar mais tempo ligado à nossa formação terá mais probabilidades de chegar ao sucesso. Acontece que o futebol, nos primeiros anos de idade, pode ser aproveitado de uma forma pedagógica para o incentivar na prática desportiva e nas outras vertentes. E é lógico que o facto de uma criança jogar no Sporting não pode, nem deve afectar qualquer tipo de envaidecimento. Logicamente que se esse envaidecimento for despropositado e mal acompanhado pelos pais, aí, sim, é preocupante. Mas, cada caso é um caso e nós estaremos cá para ajudar, porque somos um verdadeiro Clube formador.

Nuno José Machado
Sócio n.º 83 430
Cascais

– Considera que o Sporting está devidamente seguro contratualmente a fim de evitar «roubos» de jogadores da nossa formação, tal como aconteceu em tempos com os jovens que foram para o Chelsea?
– O Sporting está organizado nessa matéria. De qualquer maneira, estamos sempre sujeitos a que outros grandes clubes da Europa se possam interessar pelos nossos jogadores. Aliás, sentimos que, em todos os jogos, os nossos atletas são observados por emissários de grandes instituições, o que só nos valoriza. É bom que se diga que, neste momento, já existe um respeito muito grande pela nossa escola e pelo nosso Clube e não temos notado que, ultimamente, esse assédio seja feito de forma menos correcta. Os próprios jogadores hoje sabem que estão num dos melhores clubes de formação do Mundo e, por isso, já não se sentem muito motivados para sair. No caso dos três jogadores que cita e que foram, de uma forma muito pouco ética, abordados pelo Chelsea, nós, estrutura da formação, demos o mesmo conselho aos três. Dois não aceitaram e já regressaram a Portugal e, infelizmente, desvalorizados. O Adrien Silva aceitou o nosso conselho e hoje está na equipa principal do Sporting. Isto diz tudo.

Rui Murta
Professor/coordenador TIC
Agrupamento de Escolas da Sé, Faro

– Será possível, dentro de 4 a 5 anos, ter um plantel com mais de 50 por cento de jogadores formados na Academia? É esse o caminho que está a ser seguido?
– A vontade é sempre a de ter o maior número possível de jogadores da formação na equipa principal, por isso é que o Sporting investiu na Academia. Claro que não é muito fácil, com as responsabilidades competitivas que o Sporting tem, ter uma equipa completamente composta à base de jogadores da formação, sem ter pelo meio jogadores experientes e que os façam crescer. Mas, logicamente que temos sempre a secreta esperança de que subam jogadores da formação à equipa principal, e, acima de tudo, de os poder manter o maior número de anos no Clube. Nós sentimos que os talentos são muito difíceis, por razões várias, de segurar, mas os bons jogadores que nós transformamos em grandes jogadores, fazem-nos pensar que, no futuro, possam ficar mais tempo no Clube.

João Manuel Rodrigues Claro
Idade: 38 anos
Sócio n.º 26 811
Aveiro

– Que conselhos tem para pais e para os jovens atletas, antes de se decidirem por integrar um projecto como futebolistas numa Academia de futebol?
– Os conselhos, na minha óptica, são: em primeiro lugar, numa primeira fase da sua vida de atleta, quando eles estão nos escalões de sete e oito anos, deixar que os jovens pratiquem futebol à vontade, sem grandes preocupações, sem grandes pressões, deixar que eles consigam estabilizar todo o gosto e prazer pela modalidade. E, se ele crescer nestes primeiros anos, sem esse tipo de pressões, que, infelizmente, os próprios pais e até treinadores influenciam de uma forma negativa, esse atleta, quando chegar aos 12, 13 anos, provavelmente pode ter mais vantagens quando entrar numa Academia, porque aí o processo de formação contínuo é mais fácil de gerir. O que é importante é que os pais se preocupem com a sua formação escolar e educativa, deixando para o Clube a formação desportiva. Quando assim é, o sucesso é mais fácil.

Filipa Carvalho

– Há, neste momento, algum jovem com capacidades técnicas, tácticas e psicológicas para integrar o plantel da equipa principal na época que se avizinha?
– Sim, há jogadores com essas capacidades, mas a integração no futebol profissional tem um conjunto de pressupostos que têm de ser ponderados. Temos sempre de pensar que, na maioria dos casos, o jogador quando acaba o último ano de júnior, que é como se acabasse o 12.º ano de escolaridade e entra no primeiro ano da faculdade, futebol profissional, deverá compreender que, na sua escalada para uma carreira difícil, tem de saber que a sorte dá muito trabalho. Se pensar assim, com disciplina, entrega e profissionalismo e acreditar que o Clube pode orientar a sua carreira de uma forma sustentada, mais tarde ou mais cedo, poderá ter sucesso.

Alexandre Dias
36 anos
Carnaxide

– Dos seus longos anos de trabalho junto dos jovens portugueses que sonham com a glória do futebol, qual é a memória que guarda do contributo longínquo do professor Rodrigues Dias?
– Vem-me à memória um homem com quem tive o privilégio de privar, uma figura fantástica. Embora se fale muito pouco deste grande homem, devo dizer que foi treinador da equipa principal do Sporting, foi treinador de juniores e lembro-me, com saudade, das horas a fio que falava do Clube e da formação de jogadores. Acima de tudo, foi, para mim, uma grande honra trabalhar com um homem deste carácter.


Carlos Oliveira Pinto
Sócio 5759

– A par do desenvolvimento físico, técnico e até escolar proporcionado pela Academia, está também a ser ministrada a necessária preparação psicológica para as futuras «estrelas» enfrentarem os aspectos da mudança que acontecem cada vez mais cedo nas suas vidas?
– Claro que isso é um tema que nos preocupa e, nessa vertente, na Academia Sporting, aquilo que às estruturas de apoio dizem respeito, como o Gabinete Psico-Pedagógico e todo o envolvimento da estrutura técnica e do director da Academia, tudo é discutido nessa matéria. Sentimos que, na passagem para o futebol profissional, este sente, muitas vezes, grandes dificuldades em controlar um conjunto de influências exteriores perniciosas a que estes jovens estão sujeitos numa altura de maior evidência pessoal. Muitas vezes, até pelo facto de um técnico ser exigente com os aspectos disciplinares, tal possa merecer reparos de muitos opinadores, com o que, pessoalmente, não estou de acordo. Nem sempre se pode ser contemplativo quando um jovem mal aconselhado não se adapta às regras de grupo implementadas no Clube.

Carlos Silva
Porto

– Conheceu várias realidades, várias equipas directivas e várias lideranças no futebol do Sporting. O que pensa da actual organização do futebol de formação, comparando-a com as outras realidades que conheceu?
– Essa pergunta é importante para podermos clarificar dois contextos completamente diferentes. Só quem trabalhou no futebol juvenil, no passado, pode valorizar o que é hoje ter uma Academia da nossa dimensão. Nessa altura e, num contexto que era usual, o futebol juvenil funcionava normalmente de uma forma semiamadora, a partir das 18 horas, o que quer dizer que quer dirigentes, quer treinadores, funcionavam no futebol juvenil depois de já terem desenvolvido, nas suas empresas, o normal horário de trabalho. Foram tempos difíceis, de muito voluntariado, de muita gente que, durante muitos anos, deu o seu contributo com condições pouco consentâneas com a grandeza do Clube. De qualquer maneira, essa entrega de tanta gente terá de ser devidamente reconhecida. Aproveito para, em jeito de homenagem a todas essas pessoas, e numa prova de sentimento profundo relativamente à partida de um grande dirigente desse tempo, relembrar Manuel Petronilho, figura de antes quebrar que torcer, em que sempre me revi.
Mas, aquilo que verdadeiramente condicionava o nosso trabalho era, efectivamente, a falta de infra-estruturas (campos para treinar) em comparação com os nossos rivais. Dei conta, muitas vezes, de quanto os nossos dirigentes se queixavam da falta de apoios governamentais, em comparação com outros emblemas. Mas, as suas reivindicações não tinham sucesso. Recordo com alguma nostalgia o facto de, no meu último ano de treinador, trabalhar com 50 jogadores (juvenis), sozinho, em meio campo e, no outro meio campo, ter o Carlos Pereira com mais 50 iniciados. Por acaso, até fomos campeões nacionais os dois, em finais com o FC Porto. Mas não era por isso que eu poderia dizer que se tinha feito um grande trabalho. Tínhamos, sim, jogadores de grande qualidade e que faziam a diferença.
Mais tarde, todos os treinadores eram obrigados a treinar em campos fora do Estádio José Alvalade, de acordo com protocolos que estabelecemos com clubes vizinhos e que nos deram uma boa ajuda. Mas, o facto de andarmos com a «casa às costas», não nos favorecia absolutamente nada.
Evidentemente que se muita coisa não se pôde fazer, por razões citadas, há uma coisa que ninguém pode por em causa: trouxemos para o Clube jogadores de grande nível, que se notabilizaram quer em Portugal, quer no estrangeiro e que, provavelmente, foram eles os culpados de que alguém pensasse num outro contexto, mais profissional, com condições de infra-estruturas de acordo com um processo de formação global modernizado. O jogador é a matéria-prima e o elo principal da cadeia futebolística. Surge então o projecto Roquette, ambicioso, que apontava para uma nova era relativamente à realidade dos clubes. É construída a Academia, debaixo da gestão do dr. Dias da Cunha, seguida pelo dr. Filipe Soares Franco, numa política virada fundamentalmente para a formação. Este projecto, inovador em Portugal, requeria da parte do Sporting uma mudança completa naquilo que ao futebol juvenil dizia respeito. Não era pelo facto de termos uma Academia, uma infra-estrutura desta envergadura, que o futebol de formação poderia evoluir se continuássemos a trabalhar a partir das 18 horas. Tudo teria de ser diferente. E é aqui que, pelo facto de termos duas pessoas que geriam, ao mais alto nível, o futebol SAD, que tudo se inicia. Eles não vão levar a mal que os cite, o dr. Miguel Ribeiro Telles e o dr. José Eduardo Bettencourt, mas foram eles um factor decisivo na construção de um modelo organizacional aliado a uma estrutura orgânica que fizesse nascer uma Academia de sucesso. Foi isso que aconteceu. Foi feito um documento que considero histórico e que ainda hoje é a «Bíblia» orientadora, baseado numa experiência de gestão empresarial destes dois dirigentes que, aqui e ali, com alguns retoques, foi o motor de arranque fundamental. Havia várias questões em cima da mesa. O que fazer? Como fazer? Com quem fazer? Esses dois grandes dirigentes traçaram e escolheram o director da Academia, o homem da Direcção de futebol e o coordenador técnico, elementos que se podem considerar chave para este processo, nas pessoas do prof. Pedro Mil-Homens, José Manuel Torcato e Jean-Paul, respectivamente. Nos valores que defendo, revejo-me sempre em pessoas competentes, sérias e transparentes. E é disso que estamos a falar. No que ao Departamento de Recrutamento, que é a minha área, diz respeito, foi-me feito o convite para que pudesse, de uma forma profissional, ingressar neste projecto. Foi um momento difícil da minha vida, pois estava numa empresa de que muito gostava, mas não tinha outra alternativa: ou abraçava este projecto, ou não podia continuar no Clube. E disso eu fazia questão. Não poderia sair às seis da tarde e ir para Alcochete para estar lá, apenas, duas horas e marcar presença. Este projecto merecia muito mais do que isso. Confiei muito nas pessoas e não estou nada arrependido porque faço aquilo de que gosto, com paixão e no Clube certo. Em jeito de balanço, hoje o Sporting tem uma Academia moderna, organizada, onde tudo se discute porque as mudanças no Mundo são a uma velocidade incrível, numa estrutura altamente solidária e com uma linha directa para a administração através do próprio director.
Visando a permanente vontade de modernizar, o Conselho de Administração da Sporting, SAD decidiu candidatar a Academia Sporting à Certificação de Qualidade ISO 9001, como modelo de excelência. Esta candidatura obrigou todos os elementos desta SAD a uma auto-avaliação, para que todos possam melhorar os seus desempenhos. Portanto, considero que isto é extremamente importante. É mais um passo gigante naquilo que o Sporting pensa relativamente à visão. E dentro da visão/missão que a Academia tem como objectivo, ela traduz o seguinte: produzir jogadores para o mais alto nível competitivo, capazes de integrar a equipa profissional do Sporting, promovendo uma sólida formação baseada em valores desportivos, sociais e pessoais. Esta é a nossa missão para a Academia do Sporting, num futuro próximo.
Apetece-me terminar, parafraseando o nosso director, professor Pedro Mil-Homens que diz: "Todos os dias devemos fazer os possíveis para merecer esta Academia".

Rafael Marcelino
Sócio n.º 64 862

– Gostaria de saber o que foi feito de um jovem que tanto foi noticiado nos «media», de origem romena, e que foi contratado como um futuro craque?
– O jovem a que se refere chama-se Cristian Ponde, está na Academia há já duas épocas. Antecipámos a sua vinda um ano e, neste momento, não só é um jogador que está a evoluir de uma forma extraordinária, como também é considerado, pelo Gabinete Psico-Pedagógico, um possível residente do Quadro de Honra. É um aluno que está no 8.º ano de escolaridade, é dos melhores alunos da escola (média de 4 e 5), de grande responsabilidade. Aquilo que mais pesou na sua vontade de ingressar no Sporting, apesar dos convites do Benfica, Chelsea e FC Porto, foi ser um sportinguista convicto. Ele joga nos iniciados de primeiro ano e é um dos melhores marcadores da equipa.

Mafalda Pereira
Odivelas

– Gostaria de colocar uma pergunta ao meu pai, por quem tenho um comovente e imenso orgulho: tu que conheces o nosso Sporting como poucos! Que dedicaste e continuas a dedicar toda a tua vocação, paixão e entrega ao serviço deste grande Clube, qual achas que é o caminho certo para o teu Sporting?
– É uma grande surpresa, mas é também um prazer enorme responder a uma pergunta feita pela minha filha Mafalda, convicta sportinguista. O caminho certo para o Sporting, acho que tem a ver com a continuação de um projecto credível que consiga dar ao Clube a manutenção dos valores que definiu desde a sua fundação – Esforço, Dedicação, Devoção e Glória, que é nisso que todos nos devemos rever. É para todos nós, sportinguistas, um orgulho a forma como o Clube se posiciona no futebol e na sociedade, que tanta necessidade tem de melhorar os conceitos de vida e procedimentos éticos. Gostava de apelar a todos os sócios para que se mantenham unidos e não se deixem influenciar por factores externos que, muitas vezes, só servem para nos dividir. Considero extremamente importante que os nossos sócios queiram sempre ser convocados para cada jogo e isso quer dizer que, sem eles, as vitórias são mais difíceis. Se os sócios tivessem a noção daquilo que um jogador sente quando é apoiado, estariam 90 minutos ininterruptamente a apoiar a equipa. É só lembrar que jogos, que todos pensavam perdidos, foram os sócios, com o seu incentivo, que fizeram os jogadores mudar de opinião, ultrapassando assim um adversário que se tinha mostrado superior até então.

 

In www.sporting.pt


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