Defesa abdicou de dinheiro e reputação para acabar carreira no clube do coração mas agora luta apenas para treinar com o plantel principal

As três vitórias seguidas fizeram bem ao Sporting. Apesar das ausências devido a compromissos das selecções nacionais, o grupo, mesmo desfalcado, tem evidenciado uma boa disposição e tranquilidade raras nos últimos tempos em Alvalade. João Pereira até chama Messi a Valdés enquanto Paulo Sérgio, o treinador, vai dando indicações para corrigir o posicionamento de Torsiglieri em campo. E agora há Timo - nome pelo qual Hildebrand é tratado - e Tales, jovem brasileiro que trabalha para ser a coqueluche dos mais velhos. Final do treino, hora de banhos e massagens.

E os jogadores recolhem a casa, reencontrando amigos e família. Mas não são todos: é também nessa altura que Marco Caneira chega à Academia para se equipar no pequeno balneário utilizado pelas equipas de arbitragem em Alcochete e subir a um relvado secundário onde, na companhia de um preparador físico, tenta manter a forma com corridas e exercícios durante meia hora. De segunda a sexta, no fim--de-semana é folga - afinal, nem sequer está inscrito por nenhuma equipa...

Segundo o i apurou, chegou mesmo a haver conversas entre Costinha, o director do futebol dos lisboetas, e o jogador, acompanhado pelo seu representante. Ainda assim, e além de não ter sido apresentada nenhuma alternativa futura ao defesa, a hipótese de rescindir contrato nunca passou de uma mera intenção do Sporting: ciente de tudo o que tinha abdicado para voltar a Alvalade e aí acabar a carreira (dinheiro, porque veio ganhar cerca de metade do que recebia em Valência tendo outras ofertas, e a reputação de jogar na liga espanhola), Caneira nunca admitiu quebrar o vínculo aos leões. E, nesta fase, poderia mesmo fazê-lo.

Desde o arranque de temporada que o Sporting não tem pago parte do ordenado mensal do internacional português, mais concretamente a fatia que diz respeito aos direitos de imagem. Há mais: os próprios dirigentes têm noção de que estão a incorrer numa situação ilegal - colocar um trabalhador com contrato à parte e sem hipótese de fazer aquilo para o qual foi contratado - mas, mesmo assim, não parecem dispostos a aceder ao único pedido de Caneira: integrar os trabalhos com os restantes atletas do plantel.

"Caneira está a ser tratado como uma maçã podre mas não vai rescindir. Estão a incorrer numa situação ilegal e, após 15 anos de clube, não merecia este tratamento... É uma coisa de garotos", comentou Paulo Barbosa, empresário do jogador. "Sempre sentiu o clube e, por isso, quando é preciso dar murros na mesa, ter voz activa no balneário e mostrar discordância com aspectos com os quais não concorda, fá-lo. E se calhar o problema e receio das pessoas que estão lá agora é esse", ressalva um ex-jogador, "dos muitos que lhe têm ligado para dar força numa fase menos boa da carreira".

Nesta fase, e à excepção de meia dúzia de olheiros com duas décadas de clube, Caneira é o elemento com mais anos de ligação ao Sporting. Como tem no nome, é um Marco. Mas que, como tantos outros ali, arrisca-se a sair pela porta pequena.

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