Quando se pensava que o tempo das grandes goleadas já tinha passado, os quatro golos de Manuel Fernandes vieram refazer a História dos «derbies». Mesmo humilhado em Alvalade, o Benfica ainda foi campeão. Um dia histórico para o Sporting, 14 de Dezembro de 1986. Será, porventura, a data que nenhum adepto leonino, e talvez do Benfica, esquecerá, tamanha a vitória sobre o rival. Foi o maior resultado alcançado frente aos encarnados, sem antes ou depois. É o jogo dos galões exibidos nas lutas de argumentos, sejam na rua, no café ou no estádio.
Tudo foi, então, perfeito, pelo menos na perspectiva do Sporting: o jogo, a equipa, o adversário, a recordação. Uma história que se conta pelos golos, oito, um sonho nos dias de hoje em Alvalade. Mas o 1-0 ao intervalo jamais seria prenúncio para a goleada da segunda parte, um golo consumado à terceira tentativa, para luta inglória de Silvino. O guarda-redes do Benfica defendeu um remate forte de Manuel Fernandes, mas a bola sobrou para Mário Jorge, que ao segundo pontapé, uma recarga com o pé direito, inaugurou o marcador.
Quando Vítor Correia anunciou o descanso, nas bancadas os adeptos leoninos esfregavam as mãos de contentamento, enquanto nos balneários as lições eram revistas. Afinal, o Benfica, além de máximo rival, era o líder do campeonato. E a perspectiva de uma vitória, ainda que pela margem mínima, era por si só satisfatória.
Mas o segundo tempo trouxe o melhor do Sporting e o embaraço do Benfica. Manuel Fernandes, que terminaria como o melhor jogador em campo, com quatro golos e um hat-trick, fez das suas logo aos cinco minutos (50), com um cabeceamento para o 2-0. Os encarnados responderam imediatamente por Vando, aos 59, também de cabeça. Entre os 65 e os 71 minutos, os leões marcaram três golos: remate de Meade, nova recarga de Mário Jorge (68) e segundo cabeceamento de Manuel Fernandes. Foi a sentença para o adversário, que se até então não se tinha encontrado acabou por perder-se.
Os últimos minutos foram, exclusivamente, de Manuel Fernandes. Num ressalto de bola, o capitão do Sporting aproveitou a dádiva, entrou sem pedir licença pela grande área, ganhou aos defesas e chutou rasteirinho à baliza de Silvino (82). Foi a sexta explosão de alegria em Alvalade, que viveu o último momento de euforia (86) sem descansar do anterior. Manuel Fernandes, com tempo para tudo, fechou a contagem em 7-1 e foi ovacionado de pé por mais de 50 mil adeptos. A bola do jogo, a «sua» bola, ficou para a filha, que fazia nove anos.
Ficha de jogo
Época 1986/87 I Liga - 14ª jornada 14 de Dezembro de 1986 Estádio José Alvalade, em Lisboa
Árbitro: Vítor Correia (Lisboa)
Sporting - 7 Damas; Gabriel, Virgílio, Venâncio e Fernando Mendes (Duílio, 79); Oceano; Litos (Silvinho, 79), Zinho e Mário Jorge; Manuel Fernandes e Meade Treinador: Manuel José (português)
Benfica - 1 Silvino; Veloso, Dito, Oliveira e Álvaro; Shéu (cap.) (Nunes, 58); Diamantino (César Brito, 72), Carlos Manuel, Chiquinho Carlos e Wando; Rui Águas Treinador: John Mortimore (inglês)
Marcadores: 1-0, Mário Jorge (15); 2-0, Manuel Fernandes (50); 2-1, Wando (59); 3-1, Meade (65); 4-1, Mário Jorge (68); 5-1, Manuel Fernandes (71); 6-1, Manuel Fernandes (82); 7-1, Manuel Fernandes (86).
In maisfutebol.iol.pt
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