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Quinta, 18 Abril 2024
Venâncio, Edel e Nélson Reis. Das quatro linhas às quatro paredes PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Sábado, 29 Maio 2010 17:09

100529_venancio_edel_reisJogaram os três no Sporting, mas o fim da carreira trouxe-lhes uma nova realidade e outra profissão. Agora vendem casas

 

A vida pós-futebol significa sempre uma mudança drástica nas rotinas de quem se habituou a um dia-a-dia preenchido com treinos e jogos. O rótulo de jogador é reforçado com um "ex" que nem todos conseguem aceitar bem à primeira. Mas depois é preciso seguir em frente, sobretudo quando a carreira não rendeu os milhões de euros que muitos conseguem arrecadar nos dias de hoje. E há casos de quem se conheceu a partilhar relvados e balneários e se reencontrou noutra realidade, como Venâncio, Edel e Nélson Reis: jogaram no Sporting, mas agora equipam-se de outra forma.


O i encontrou-os de fato e gravata, como verdadeiros homens de negócios. Agora trabalham na ERA, uma empresa de mediação imobiliária. Mas nenhum dos três cortou o cordão umbilical com o futebol. Porque - assumem - "é impossível".

A conversa começa com uma animada discussão entre os dois avançados: Edel e Nélson Reis. Em causa não estava a marcação de um penálti, mas sim a antiguidade na empresa. O primeiro tomou a palavra e passou a explicar. "Entrei como comercial, há 11 anos, através de uma pessoa que também estava ligada ao futebol." O amigo puxou o amigo e, depois de 11 anos como jogador e quatro como treinador, Edel trocou o negócio das quatro linhas pelo das quatro paredes. O mesmo aconteceu com Nélson Reis, com uma diferença: o futebol acabou mais cedo - aos 26 anos. De resto, foi a "malta da bola", que até está à frente de "sete ou oito lojas na Margem Sul" que o levou para a mediação imobiliária.

Hoje, estão à frente de duas das melhores agências da empresa. Recebem estagiários com frequência, mas também procuram aprender sempre mais. "Aliás, ainda outro dia falei com o Nélson [Reis] sobre a possibilidade de ir estagiar para a loja dele. Acontece diariamente porque temos muito a ganhar com isso", explica Edel.

Já a história de Venâncio escreveu-se de outra forma. Teve uma carreira mais recheada - com dez épocas no Sporting, duas no Boavista e 21 internacionalizações -, mas chegou à ERA há pouco tempo. Antes ainda foi treinador [adjunto de Mirko Jozic, Giuseppe Materazzi e Augusto Inácio, de 1998 a 2000] e sócio--gerente de uma loja em Setúbal. "A loja acabou por fechar e surgiu esta oportunidade. Antes já tinha feito um pedido ao Edel, só que não havia vagas para comerciais. Entretanto vi um anúncio no jornal e estou lá há 17 meses."

Apesar de lidar diariamente com os clientes, as pessoas nem sempre reconhecem Venâncio à primeira. "Muitos associam logo, o que é normal em Setúbal. Mas também há quem só chegue lá quando me apresento. E depois até começam a falar em futebol."

Os pontapés na bola O futebol, como o conheceram durante muitos anos, ficou para trás. Mas ainda está presente na vida de cada um deles. "É um bichinho terrível. Não dá para desligar. Eu continuo nos veteranos do Sporting. Às vezes até dedico demasiado tempo, em prejuízo do trabalho e da família", conta Edel. Nélson Reis também joga, nos veteranos do Fernão Ferro - "uma equipa criada com pessoas da empresa, das lojas ali da zona" - e até tem treinos às terças e quintas. "Mas vou ser sincero: raramente consigo ir. O envolvimento no trabalho é tão grande que se torna complicado. Atingimos um patamar equivalente à Liga dos Campeões da mediação imobiliária. À terça é mesmo impossível. Mas à quinta tento organizar as coisas para poder ir, porque esquecemos todos os problemas do trabalho. Chego ali ao pelado do Fernão Ferro para dar uns pontapés na bola e esqueço tudo. É como se voltasse à adolescência."

Venâncio não faz parte de nenhuma equipa de veteranos porque as mazelas dos tempos de jogador (foi operado quatro vezes ao joelho esquerdo e duas ao direito) não perdoam. Edel e Nélson Reis até o convidam para assistir a alguns jogos, mas custa-lhe acompanhar. "A velocidade é tão grande que chego a adormecer..."

Viagem ao passado As passagens de Edel (1989-1991) e Nélson Reis (1984-1987, dos juvenis aos seniores) por Alvalade tiveram um ponto em comum: Venâncio já lá estava. Por isso, quando o i tenta começar uma viagem ao passado, o antigo capitão faz questão de marcar a diferença. "[Eu e o Edel] não jogámos juntos. Ele é que jogou comigo!" Reposta a verdade, Venâncio lembra como chegou aos seniores do Sporting. "Tive a sorte de estar no sítio certo à hora certa. Jogava nos juniores, num pelado que existia em frente à antiga porta 10A, e os seniores, treinados pelo [Malcolm] Allison, tinham ido almoçar à Churrasqueira do Campo Grande [nessa altura não havia estágios antes dos jogos]. A minha sorte foi que o Allison reparou que estava a haver um jogo de juniores e decidiu ir lá ver. Devia estar a jogar bem, de certeza, porque logo na segunda-feira seguinte fui chamado para começar a treinar com os seniores."

Entretanto, Nélson Reis mostra uma foto do plantel de 1986/87, época em que subiu à equipa principal do Sporting. E eis que a entrevista passa para segundo plano durante alguns minutos, para dar lugar a uma amena cavaqueira sobre vários jogadores que aparecem na foto. Comentam-se cabelos, capacidades técnicas e relembram-se histórias antigas.

A certa altura, param para falar de um avançado loiro, inglês - embora com ar escandinavo -, chamado Rob McDonald. "Era impressionante", recorda Nélson Reis. "Uma vez fiquei no quarto com ele, na Islândia. Foi quando ganhámos 9-0 [ao Akranes, na 1.a eliminatória da Taça UEFA; McDonald entrou ao intervalo, ainda a tempo de fazer três dos cinco golos que apontou em dez jogos no Sporting]. O homem demorou uma hora na casa de banho a enrolar os caracóis. Ele adorava o cabelo. Até metia rolos na cabeça! Era um vaidoso."

Ainda assim, Nélson não é o único com recordações curiosas de McDonald. Agora é a vez de Venâncio. "Naquela altura, quando jogávamos em casa, estacionávamos o carro na garagem do estádio. Não era como agora, que há um espaço enorme no piso inferior para estacionar. E era também ali que ficava guardado o autocarro. Aquilo tinha uma escadinha que dava para uma fossa onde o mecânico se punha a tratar do autocarro. Houve um dia em que o McDonald, que andava sempre de óculos escuros, entrou por ali assim e enfiou o carro dentro do buraco sem saber como."

A conversa continua sobre rodas. Como as do carro de Edel, quando dava boleia a Figo e Amaral. "Nem mais. Eram rapazinhos novos, ainda nem tinham carta de condução. Eu saía da Charneca da Caparica, ia buscar os meninos - o Figo perto da Cova da Piedade e o Amaral a Almada - e depois íamos para o treino. No regresso, vinha mais um: o João Oliveira Pinto, que desorientava ainda mais aquilo."

 

In ionline.pt

 

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