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Quinta, 28 Março 2024
Stanley Matthews. Como o mago do drible recusou treinar o Sporting PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Quarta, 22 Dezembro 2010 22:57
101222_stanleyDe repente, o descalabro. Moralizada pelas vitórias sobre a Espanha e a República da Irlanda, a selecção portuguesa organizou o quinto particular do ano, em 1947, frente à poderosa Inglaterra, que até vinha de uma derrota comprometedora com a Suíça, em Zurique (0-1), a 18 de Maio. Uma semana depois, o Estádio Nacional encheu como nunca para ver os mestres ingleses. E, de facto, foi só isso que viram. A Inglaterra dominou do princípio ao fim e infligiu a pior derrota de sempre a Portugal: 10-0. Aos 15 minutos, já havia 3-0; ao intervalo, 5-0! O guarda-redes Azevedo, sem culpa do descalabro, é substituído por Capela ainda antes da meia hora. No fim, o 10-0 é marcado aos 85 minutos por um tal Stanley Matthews, a quem os ingleses chamam o mago do drible.


Os jornais portugueses também fazem eco desse génio, relegando para segundo plano a dupla Lawton-Mortensen, com quatro golos cada. O verdadeiro herói é Matthews, que encanta a plateia com as suas jogadas de requinte técnico e subtileza táctica. Os defesas Álvaro Cardoso e Francisco Ferreira, já naquela altura jogadores de craveira internacional e capitães de Sporting e Benfica, respectivamente, andam às voltas com ele, juntamente com Feliciano, uma das Torres de Belém. Em 1947, Stanley Matthews ainda só tinha 33 anos. E reforçamos o só, porque Matthews só acabou aos 55, a jogar em Malta, numa equipa (Hibernian) que também treinou, vencendo só isto: o treble (Taça, Taça da Independência e Taça dos Filhos de Malta) em 1970-71. Só visto, porque contado nem se acredita.

É nesse Maio de 1947, dos 10-0 no Jamor, que Matthews troca o Stoke City pelo Blackpool, equipa que representaria até 1961, altura em que regressou à base (Stoke) para mais quatro épocas de intenso fulgor futebolístico. Nesse período, Matthews recebeu um convite de Portugal. Mais concretamente, do Sporting, que só o queria como treinador, uma vez que não tinha dinheiro para pagar a carta de desobrigação, avaliada em 20 mil libras. Entre algumas goleadas (9-1 ao Lusitano Évora, 7-2 ao V. Setúbal e 6-0 à CUF), o Sporting perdera em casa com a Académica e fora com o Benfica. O empate na Covilhã (2-2), a 12 de Dezembro, foi a gota de água que transbordou o copo da paciência dos dirigentes leoninos relativamente aos resultados de Joseph Szabo. O chicote estalou e procurou-se um substituto.

O presidente Góis Mota - conhecido por um dia ter entrado no balneário do árbitro com uma pistola, no intervalo de um Atlético-Sporting, que os leões haveriam de perder (já aqui, o Sporting sem força junto da arbitragem...) - falou e disse "Stanley Matthews". O convite foi-lhe endereçado numa carta registada, em nome do Sporting com destino à sede do Blackpool. A resposta foi um eloquente "vou pensar", ao que se seguiu uma segunda carta a recusar o convite, sempre em tom cortês, com muitos agradecimentos pelo meio, que isto nos outros tempos era assim.

Nesse dia 22 de Dezembro de 1954, o Sporting passou então à segunda escolha (o argentino Alejandro Scopelli), que aceitaria o desafio de viajar para Lisboa, entregando até o título de campeão nacional dessa época 1954/55 ao Benfica, em detrimento do Belenenses, com quem os leões empataram nas Salésias na última jornada, a quatro minutos do fim (2-2). Matthews, esse, continuou a encantar plateias e até foi eleito o primeiro Bola de Ouro de sempre, em 1956, ano em que o Blackpool não perdeu um único jogo oficial. Se ele tivesse aceitado o convite do Sporting (só treinador), Di Stéfano seria o Bola de Ouro-56. E não é que o hispano argentino também recebeu um convite do Sporting, em 1974! Aí, já Matthews pendurara as botas, quiçá sem se esquecer de Portugal. Dos 10-0 no Jamor, claro.

 

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