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 E, de repente, um novo Zapater deu à costa. Um médio capaz de apontar quatro golos em apenas duas partidas, tantos quantos marcou em toda a última época ao serviço do Génova e, curiosamente, os mesmos que facturou nas quatro temporadas em que representou o Saragoça. Como é possível, de um dia para o outro, ter nascido um jogador tão diferente? Puro acaso? Nem tanto...
Quando, aos 18 anos, se estreou nos seniores do Saragoça, Zapater fez história ao ser o primeiro júnior da cantera a jogar pela equipa principal sem passar pelos bês. Foi chamado porque, para além de uma capacidade invulgar - sobretudo para aquela idade -, tinha um apetite especial pelas balizas contrárias.
Marcava 10/11 golos por época nas camadas jovens e, na última temporada de júnior, só de livre directo apontou cinco golos.
Só que, na companhia dos mais velhos - e numa equipa que tinha David Villa e Cani, actualmente no Villarreal -, o treinador destinou-lhe um papel eminentemente defensivo. Pegou de estaca logo de início, formando dupla de médios-defensivos muitas vezes com Movilla. Um médio que foi apanhado de surpresa com a revelação deste Zapater goleador. "É um jogador mais de contenção e se está a fazer muitos golos, é surpreendente", comentou, a O JOGO, este ex-colega no meio-campo dos blanquillos, hoje a actuar no Rayo Vallecano. Para ele, no entanto, existe uma explicação: o espanhol que o Sporting contratou ao Génova está a ser recompensado pelo trabalho diário. "É um jogador esforçado, que os treinadores de todas as equipas gostariam de ter ao seu dispor. É muito determinado e lutador. Os golos são uma forma de recompensa pelo trabalho que está a efectuar."
Na primeira época, foi uma das revelações da liga espanhola, a ponto de levar o Real Madrid a enviar um olheiro para o seguir atentamente no Mundial de sub-20, que se disputou no defeso de 2005. Aí, brilhou com a camisola de Espanha, mas os merengues não quiseram arriscar, pelo que se manteve no Saragoça.
Na temporada seguinte, foi Celades quem mais vezes jogou a seu lado. O médio que tinha jogado no Barcelona e no Real Madrid não esqueceu Zapater. "Lembro-me bem dele e, para mim, saber que fez estes quatro golos, mais do que uma surpresa é uma alegria. Não é uma surpresa porque ele é um jogador de grande qualidade e, como qualquer jogador de qualidade, é normal que marque alguns golos. Não é a sua especialidade, mas é de esperar que marque alguns golos", diz Celades a O JOGO, opinando que se trata de um jogador com uma virtude especial. "Dele, podem esperar um grande rendimento. Não vai marcar golos em todos os jogos, mas é um jogador muito completo."
Um ex-sportinguista que o conhece bem é Koke, ponta-de-lança que hoje actua nos gregos do Aris. Na sua opinião, Zapater nunca há-de marcar tanto como um avançado, mas lá que tem um bom remate, isso tem: "O Zapater chuta muito bem, colocado ou em força. Tem um bom tiro!"
Maradona chamou-lhe Toro no jogo contra Messi e Di María
No Mundial de sub-20 de 2005, disputado na Holanda, a Espanha - de David Silva, Llorente e... Zapater - passou sem problemas a primeira fase, com três vitórias em três jogos. Nos oitavos, despachou a Turquia por 3-0, mas, nos quartos-de-final, deparou-se com a Argentina de Di María, Aguero, Mascherano e... Messi. Zapater foi o melhor da selecção espanhola, apontando o único golo da Roja numa derrota por 3-1. O médio bateu-se bem frente a La Pulga, levando, inclusive, Diego Maradona - então a comentar para a TV - a lançar-lhe uma alcunha que perdura até hoje. "El Toro", disse El Pibe durante a transmissão, acertando em cheio num nome que se adequa na perfeição a um médio fisicamente possante.
Veia de matador "difícil de explicar"
Foi difícil para Zapater dar uma explicação sobre a súbita veia goleadora, ele que nos últimos dois jogos apontou quatro golos, dois ao Penafiel e outros tantos ao Marítimo. "Como profissional de futebol, isto nunca me tinha acontecido, e o ter marcado quatro golos em dois jogos é algo que não consigo explicar, mas que é muito bom. Dizem que a sorte é para quem trabalha, mas é também para quem a busca. É uma recompensa para o esforço, mas só foi possível graças à ajuda dos meus companheiros, que fizeram o trabalho antes de me fazerem chegar a bola. Outras vezes aconteceu ser eu a dar a bola...", disse em entrevista ao jornal "Sporting". E deixou o mote para o confronto com o Estoril: "Parece fácil, mas não é. O Estoril tem tudo a ganhar, e nós temos tudo a perder. Estamos a fazer tudo para ter êxito. O grupo é fenomenal."
Último bis duplo fora de Balakov
Zapater é o primeiro médio a bisar em jogos consecutivos com a camisola do Sporting desde que, em 1993/94, um dos melhores estrangeiros da história do leão fez o mesmo: foi Krasimir Balakov quem marcou dois aos Gil Vicente, em 24 Março de 1994, e outros tantos ao Guimarães, três dias depois.
Só Liedson é cliente habitual
No actual plantel do Sporting, apenas Liedson conhece o sabor de bisar em jogos seguidos. O 31, referência principal do ataque leonino desde o Verão de 2003, já alcançou o feito em 2008/09 (diante de Fátima e Roma) e 2005/06, época em que bisou, não em duas, mas em três partidas consecutivas.
Instinto pela baliza está lá
Zapater teve no Saragoça, em 2007/08, um dos mais credenciados treinadores espanhóis: Javier Irureta, técnico que sempre detectou instinto ofensivo no agora sportinguista. "Tiene gol", diz o treinador a O JOGO, numa expressão castelhana que significa precisamente o que ficou traduzido nas duas últimas partidas: instinto goleador. Para Irureta, o que também pode ajudar a esta veia é o facto de o atleta "estar agora mais amadurecido". Em Saragoça, diz o técnico, ele era sobretudo "um recuperador de bola", o que não significa que tenha ficado surpreendido. "Longe disso", afirma sobre um médio que "já na altura rematava muitíssimo bem". Outro atributo que não podia escapar à observação de Irureta é um pouco mais óbvio: "É um jogador com muita força."
In ojogo.pt
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