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Sexta, 29 Março 2024
O GOLO FOI SÓ UM E O JOGO FOI SÓ NADA: U.Tomar – Sporting – 0-1 PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Segunda, 08 Março 1976 11:31

760308_ut_sporting_smallA gente lia «A Bola» de sábado e, ao chegar ao fim daquela reportagem de Tomar, já o Sporting estava a ganhar por 3-0 ou mais, tal a penúria dos unionistas.

Começa o jogo e, pumba, logo aos dois minutos, Fraguito chuta de fora da área, é golo e a gente pensa «qu’ais três, vai ser 6-0 ou mais».

Depois, passam-se mais oitenta e oito minutos e não há mais golo nenhum, fica mesmo no 1-0 do início.

Sem mais, de aqui se poderia pensar que foi um jogo muito bom, os unionistas fizeram das fraquezas forças, conseguiram equilibrar a partida e o Sporting muito teve de se aplicar para defender até final a sua magra vantagem.

Só que… não foi nada disso.

As fraquezas dos unionistas foram sempre tão evidentes que os sportinguistas nem sequer tiveram de usar assim de um aplicação por aí além para defender uma coisa que ninguém atacava.

Portanto, golos ainda houve um e bom.

Jogo quase nada.

 

Quer dizer: o União confirmou a profunda crise que atravessa e que muito o ameaça de um regresso à Segunda Divisão, enquanto o Sporting não confirmou mesmo nada a sua inspiração de há oito dias que lhe valeu rotundo triunfo sobre o F. C. Porto. Pelo contrário, confirmou a sua falta de inspiração de há quinze dias, no bisonho empate de Setúbal.

Se quisermos entrar, porém, na procura das desculpas, de atenuantes, as do União ficaram por de mais evidenciadas na tal reportagem de sábado em que os jogadores davam conta das suas agruras, em todos os sentidos, incluindo as da sua própria subsistência.

Quanto ao Sporting, vejamos:

- a verdade é que a equipa ficou a ganhar o jogo logo de início e, se a margem não era tranquilizadora, o adversário era;

- o campo estava encharcado, traiçoeiro o piso e, portanto, mais a recomendar prudência do que grandes esforços;

- o estado do terreno provocou também umas quantas lesões nas fileiras «leoninas» e o jogo esteve interrompido para se prestar assistência a Manuel Fernandes, Chico, Marinho, Nélson, Fraguito e Inácio;

- …bom, não foi só o estado do terreno, houve também muito nervosismo da parte dos locais, mas também não se pense, agora, ao inverso, que se tratou de uma verdadeira caça ao homem, isto é, uma caça  ao «leão». Só num dos casos a má intenção foi evidente: uma entrada de Bolota a Chico, sem ligar à bola, só mesmo para dar. Claro que era caso mesmo para cartão vermelho, mas nem amarelo houve;

- a verdade é que Manuel Fernandes, ainda na primeira parte, e Chico, pouco depois do reatamento, tiveram de ser substituídos e, de certo, não se fez terceira substituição (de Fraguito, por exemplo), por já não ser possível;

- assim, a breve trecho, o ataque do Sporting estava praticamente reduzido a Marinho, porque Vitor Gomes (substituto de Manuel Fernandes) jogou mais recuado (todo um hábito) e Libânio (substituto de Chico) jogou em ponta, mas não ganhou um lance, uma vez que a sua fragilidade mais ressaltou perante a rudeza de Calado e a moleza do terreno.

Em suma, com todas estas atenuantes invocadas para o Sporting, parece que estamos quase a defender a sua apatia, mas não é o caso, evidentemente. Tratando-se do Sporting, «leonesse oblige».

 

Balizas poupadas


Para o União de Tomar, tem de se ser menos exigente e a equipa até foi simpática, não se acantonou na defesa, não se barricou. É difícil saber qual seria a sua intenção, porque o jogo começou praticamente com o golo do Sporting, mas já se tem visto, muita vez, muita equipa continuar remetida a porfiada defensiva, quando já está a perder por um e até por mais.

Das intenções tácticas ressaltou apenas que o «capitão» Faustino não jogou como habitualmente no quarteto defensivo, mas sim mais adiantado; não se sabe se seria para marcar Fraguito, sabe-se que não marcou, parecendo sempre desfasado nessa tarefa. Lá atrás, não se deu pela sua falta, porque o quarteto deu boa conta do recado e a verdade é que o próprio Silva Morais não se viu assim muito assoberbado de trabalho, embora se desse, assim mesmo, pela sua insegurança.

Se Silva Morais não teve um dos seus dias mais trabalhosos, Damas esteve de folga, por assim dizer – e uma coisa e outra confirmam a ideia da falta de emotividade do encontro, pois é sempre junto das balizas que os lances se tornam mais quentes e marcam mais um jogo. As balizas foram poupadas e… foi pena.

Essa folga já não aconteceu para Tomé, por exemplo, porque não se conformou com a sua (fácil) tarefa defensiva, jogando em todo o seu flanco e sempre com a-propósito. Bem ao contrário de Inácio que não só se confinou como pareceu fora de «forma». Mendes folgou e Amândio pareceu capaz de ganhar o lugar: muito bem, sobretudo em cortes de cabeça.

 

Do mesmo modo Baltasar pode fixar-se no meio-campo, de modo que Fraguito voltou a estar bem acolitado. O ataque «leonino», como vimos, não existiu. Existiu Marinho, mas pouco. De Chico ressalve-se a generosidade que lhe custou caro, tão chicastigado foi.

Mais inoperante foi ainda, como é óbvio, o ataque (?) tomarense. Camolas, de início ainda deu uns «nós», mas o proveito foi nulo. À nulidade de Bolota junte-se o seu azedume. É de crer que tenha razões, mas os camaradas do Sporting não têm culpa. Os demais fizeram o que puderam, só que puderam pouco.

Do árbitro nada haveria a dizer «em desabono», se tivesse punido como se impunha o tal mau humor de Bolota, mormente naquele lance com Chico.»

 

Estádio 25 de Abril, em Tomar

Árbitro – Manuel Vicente, de Vila Real

U. TOMAR – Silva Morais (1); Kiki (2) (85m – Fernando (-)), Calado (3), Florival (2) e Romão (2); Barrinha (1) (70m – José Luís (1)), Faustino, «cap.» (1) e Sarmento (1); Caetano (1), Camolas (1) e Bolota (0)

SPORTING – Damas, «cap.» (2); Tomé (3), Amândio (2), José Mendes (2) e Inácio (1); Nélson (2), Fraguito (3) e Baltasar (2); Marinho (2), Manuel Fernandes (-) (30m – Vitor Gomes (2)) e Chico (2) (52m – Libânio (0))

 

0-1 – Fraguito – 2m

 

«Suplentes: Marito, Zeca, Raul, José Luís (1) e Fernando (-).

Suplentes: Matos, Da Costa, Barão, Vitor Gomes (2) e Libânio (0).

Golos, um.

Substituições, quatro.

Na primeira parte, 1-0, logo aos 2 minutos, num belo disparo desferido por Fraguito de fora da grande área. Baltasar interceptou um passe de Calado e prontamente tocou para o companheiro concluir.

No segundo tempo, 0-0.

À meia-hora, Manuel Fernandes, lesionado, foi substituído por Vitor Gomes.

Na segunda parte, aos 7, aos 25 e aos 40 minutos. Libânio, José Luís e Fernando renderam, respectivamente, Chico, Barrinha e Kiki.

 

In http://uniaotomar.wordpress.com (“A Bola”, 08.03.1976 – Crónica de Carlos Pinhão)

A gente lia «A Bola» de sábado e, ao chegar ao fim daquela reportagem de Tomar, já o Sporting estava a ganhar por 3-0 ou mais, tal a penúria dos unionistas.

Começa o jogo e, pumba, logo aos dois minutos, Fraguito chuta de fora da área, é golo e a gente pensa «qu’ais três, vai ser 6-0 ou mais».

Depois, passam-se mais oitenta e oito minutos e não há mais golo nenhum, fica mesmo no 1-0 do início.

Sem mais, de aqui se poderia pensar que foi um jogo muito bom, os unionistas fizeram das fraquezas forças, conseguiram equilibrar a partida e o Sporting muito teve de se aplicar para defender até final a sua magra vantagem.

Só que… não foi nada disso.

As fraquezas dos unionistas foram sempre tão evidentes que os sportinguistas nem sequer tiveram de usar assim de um aplicação por aí além para defender uma coisa que ninguém atacava.

Portanto, golos ainda houve um e bom.

Jogo quase nada.

Quer dizer: o União confirmou a profunda crise que atravessa e que muito o ameaça de um regresso à Segunda Divisão, enquanto o Sporting não confirmou mesmo nada a sua inspiração de há oito dias que lhe valeu rotundo triunfo sobre o F. C. Porto. Pelo contrário, confirmou a sua falta de inspiração de há quinze dias, no bisonho empate de Setúbal.

Se quisermos entrar, porém, na procura das desculpas, de atenuantes, as do União ficaram por de mais evidenciadas na tal reportagem de sábado em que os jogadores davam conta das suas agruras, em todos os sentidos, incluindo as da sua própria subsistência.

Quanto ao Sporting, vejamos:

- a verdade é que a equipa ficou a ganhar o jogo logo de início e, se a margem não era tranquilizadora, o adversário era;

- o campo estava encharcado, traiçoeiro o piso e, portanto, mais a recomendar prudência do que grandes esforços;

- o estado do terreno provocou também umas quantas lesões nas fileiras «leoninas» e o jogo esteve interrompido para se prestar assistência a Manuel Fernandes, Chico, Marinho, Nélson, Fraguito e Inácio;

- …bom, não foi só o estado do terreno, houve também muito nervosismo da parte dos locais, mas também não se pense, agora, ao inverso, que se tratou de uma verdadeira caça ao homem, isto é, uma caça  ao «leão». Só num dos casos a má intenção foi evidente: uma entrada de Bolota a Chico, sem ligar à bola, só mesmo para dar. Claro que era caso mesmo para cartão vermelho, mas nem amarelo houve;

- a verdade é que Manuel Fernandes, ainda na primeira parte, e Chico, pouco depois do reatamento, tiveram de ser substituídos e, de certo, não se fez terceira substituição (de Fraguito, por exemplo), por já não ser possível;

- assim, a breve trecho, o ataque do Sporting estava praticamente reduzido a Marinho, porque Vitor Gomes (substituto de Manuel Fernandes) jogou mais recuado (todo um hábito) e Libânio (substituto de Chico) jogou em ponta, mas não ganhou um lance, uma vez que a sua fragilidade mais ressaltou perante a rudeza de Calado e a moleza do terreno.

Em suma, com todas estas atenuantes invocadas para o Sporting, parece que estamos quase a defender a sua apatia, mas não é o caso, evidentemente. Tratando-se do Sporting, «leonesse oblige».

Balizas poupadas

Para o União de Tomar, tem de se ser menos exigente e a equipa até foi simpática, não se acantonou na defesa, não se barricou. É difícil saber qual seria a sua intenção, porque o jogo começou praticamente com o golo do Sporting, mas já se tem visto, muita vez, muita equipa continuar remetida a porfiada defensiva, quando já está a perder por um e até por mais.

Das intenções tácticas ressaltou apenas que o «capitão» Faustino não jogou como habitualmente no quarteto defensivo, mas sim mais adiantado; não se sabe se seria para marcar Fraguito, sabe-se que não marcou, parecendo sempre desfasado nessa tarefa. Lá atrás, não se deu pela sua falta, porque o quarteto deu boa conta do recado e a verdade é que o próprio Silva Morais não se viu assim muito assoberbado de trabalho, embora se desse, assim mesmo, pela sua insegurança.

Se Silva Morais não teve um dos seus dias mais trabalhosos, Damas esteve de folga, por assim dizer – e uma coisa e outra confirmam a ideia da falta de emotividade do encontro, pois é sempre junto das balizas que os lances se tornam mais quentes e marcam mais um jogo. As balizas foram poupadas e… foi pena.

Essa folga já não aconteceu para Tomé, por exemplo, porque não se conformou com a sua (fácil) tarefa defensiva, jogando em todo o seu flanco e sempre com a-propósito. Bem ao contrário de Inácio que não só se confinou como pareceu fora de «forma». Mendes folgou e Amândio pareceu capaz de ganhar o lugar: muito bem, sobretudo em cortes de cabeça.

Do mesmo modo Baltasar pode fixar-se no meio-campo, de modo que Fraguito voltou a estar bem acolitado. O ataque «leonino», como vimos, não existiu. Existiu Marinho, mas pouco. De Chico ressalve-se a generosidade que lhe custou caro, tão chicastigado foi.

Mais inoperante foi ainda, como é óbvio, o ataque (?) tomarense. Camolas, de início ainda deu uns «nós», mas o proveito foi nulo. À nulidade de Bolota junte-se o seu azedume. É de crer que tenha razões, mas os camaradas do Sporting não têm culpa. Os demais fizeram o que puderam, só que puderam pouco.

Do árbitro nada haveria a dizer «em desabono», se tivesse punido como se impunha o tal mau humor de Bolota, mormente naquele lance com Chico.»

(“A Bola”, 08.03.1976 – Crónica de Carlos Pinhão)

 

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