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Quinta, 28 Março 2024
TALVEZ FRAGUITO SE TORNE «PATRÃO» : Sporting – U. Tomar – 4-0 PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Segunda, 18 Setembro 1972 23:10
720921_sporting_u_tomar_1_smallO Sporting começou muito bem, não tão bem que justificasse um golo logo no primeiro minuto, pois, um golo no primeiro minuto não se justifica, acontece, depois é que se justifica ou não, mas o Sporting justificou-o tão bem que, aos 5 minutos, já vencia por 2-0.

Realmente, um minuto não dá tempo para justificar um golo e, normalmente o minuto inicial não dá tempo para nada, é o mais inexpressivo, os jogadores ainda não aqueceram, ainda não assentaram o seu jogo, tal como os espectadores ainda não assentaram o seu, mas este minuto inicial de anteontem, em Alvalade, mesmo antes do golo de Nelson, (que até foi demorado na execução, deu tempo para falhar e para acertar) mesmo antes do golo, já o minuto dera algo mais, um «frango» incrível de um juiz-de-linha, assinalando um fora-de-jogo quando de um lançamento da linha lateral.

 

Vozes de Allen


Allen até deu um pulo no seu banco. Pulo lógico, para mais, tratando-se de um inglês, porque os ingleses é que fizeram as regras do futebol, ainda hoje perfeitas. Se não inventaram o futebol, os ingleses, pelo menos codificaram-no e muito bem. De aí o pulo de Allen, que aliás não parece nada inglês, tão expressivo se mostra. Inglês é Hagan. Allen é espanhol. Pula e grita em espanhol tão alto que se ouve cá no alto da alta bancada de Imprensa, em Alvalade.

Que gritou Allen?… Por certo se lhe deve toda aquela velocidade da primeira parte que de todo trocou os olhos e as pernas aos tomarenses, já com 0-2 aos cinco minutos e que ainda sofreriam terceiro tento antes do intervalo… Se vinham com ideias preconcebidas, como é natural, de defender o 0-0 inicial até poder ser… não pôde ser, fica para a outra vez.

 

No segundo tempo, o União sofreria apenas um golo mais, tendo até uma ou outra oportunidade de reduzir a diferença, porque o ritmo do Sporting baixou visivelmente, talvez porque a vitória estava definida, talvez porque não é possível ainda à equipa, nesta fase da preparação, aguentar os noventa minutos naquele andamento diabólico. Quando tal for possível, se for possível, o Sporting terá equipa para cometimentos.

Mas, por ora, esgotemos as vozes de Allen, que, ao intervalo, gritou para que os suplentes o acompanhassem à cabina, logo de aí se prevendo que iria haver qualquer substituição. E houve. Sairia um defesa para entrar um avançado. Certo porque o Sporting só atacava e Carlos Pereira, por exemplo, tinha sido mais um avançado do que um defesa. Certo para o clube porque assim se prendia Dinis, não fosse surgir ainda algum sarilho suplementar com a renovação do contrato. Certo porque Dinis precisa, precisamente, é de jogar, parado como tem estado. Certo porque, deste modo, Manaca e Nelson tiveram ainda ensejo de mostrar versatilidade, jogando bem mais à frente ou mais atrás, mais [à] esquerda ou mais à direita.

 

Mais tarde, a meio da segunda parte, quando Manaca pareceu seriamente atingido por Pedro, estiveram a fazer aquecimento, primeiro, Tomé, e depois (Allen rectificou) Hilário (Manaca passara de médio para defesa), mas acabaram por voltar ambos (Tomé e Hilário) ao banco, porque Manaca mostrou empenho em continuar e Allen fez-lhe a vontade, mal pareceu-nos, porque havia o perigo ou de agravamento da lesão ou de qualquer revindicta na pessoa de Pedro.

 

Por falar em Pedro…


Já que falámos das substituições «leoninas» e de Pedro, despachemos também já agora o comentário às substituições unionistas:

- Bolota entrou à meia-hora, muito a tempo de ser o único avançado visitante que ainda criou algum perigo à defesa do Sporting, embora viesse a desperdiçar a mais flagrante oportunidade de golo de todo o jogo.

- Pedro apareceu na segunda parte, a tempo de mostrar muito pouco do muito que sabe da poda e, mais infelizmente ainda, a tempo de revelar um mau humor inteiramente fora de propósito. «Pegou-se» com Nelson e o árbitro mostrou-lhe o cartão amarelo, assinalou o «livre», mas, logo nessa jogada do «livre», Pedro, de cabeça perdida e talvez por confusão epidérmica, atingiu espectacularmente… Manaca, logo acorrendo Manuel Marques para lhe tratar da epiderme, pelo menos. Manaca saiu, mas Pedro não saiu, embora o árbitro visse a falta, porque assinalou novo «livre». O árbitro que, na primeira parte, entornara os cartões amarelo e vermelho, deixando-os voar da mão ou da algibeira, desta feita segurou-os bem. Bem mal.

 

Manaca voltou e a coisa ficaria por aqui, se não fossem estes apontamentos que tomámos e nos levam aa tribuir a Pedro o único «zero» deste encontro, one até houve mais quem jogasse mal também, mas não houve mais ninguém, felizmente, que pisasse o risco no aspecto disciplinar. Só Pedro, prevaricando, e o árbitro, perdoando-lhe.

 

E, já agora, por termos falado na tal flagrante oportunidade que Bolota desaproveitou, contemos como foi. Momentos antes do quarto golo «leonino» um cabeceamento falhado por Laranjeira deixou o caminho aberto a Bolota, que, no entanto, num despropositado alarde de companheirismo, preferiu oferecer esse ensejo a Camolas que estava «off-side». Bolota não estava porque Laranjeira o pôs em jogo. Camolas estava, em função do passe de Bolota.

 

Dois auto-golos?


A velocidade inicial do Sporting causou tais embaraços à defesa visitante que o segundo golo pareceu-nos até marcado por Kiki, tal como o quarto nos pareceu atribuível a Cardoso.

O lance desse segundo golo foi tão rápido, com Manaca a proporcionar a Marinho um «sprint» olímpico de quase cinquenta metros, que só Kiki, vindo da outra banda, acompanhou bem o lance, mas chegou à meta ao mesmo tempo que a bola e, de tão longe como estamos e de ângulo difícil, vá lá a gente precisar se ele tocou a bola, antes ou depois de ela ter ultrapassado por completo o risco do golo.

 

O recurso de ouvir os jogadores intervenientes foi tentado, mas torna-se sempre suspeito, porque nem o avançado tem interesse em ver-se privado de um golo possível, nem a defesa gosta muito de rubricar um auto-golo. De aí, na dúvida, a nossa decisão de favorecer o avançado que chuta – neste caso, Marinho e, no caso semelhante do quarto golo, Yazalde.

 

Em qualquer dos casos, tudo indica que a bola entraria mesmo sem essas tabelas, se é que não entrara já mesmo. Aí a dúvida, de aí sua explicação e esta decisão – necessárias ambas por causa especialmente de «A Bola de Prata», que nos cumpre prestigiar quanto possível.

 

Os 300 escudos


Foi Manaca quem proporcionou esse tal golo nesse tal passe longo em profundidade (Fraguito dera o primeiro, num passe curto e recuado), mas a Fraguito é que coube a maioria desses serviços largos que obrigam os avançados a correr e dos quais resultou toda essa velocidade inicial. Foi Marinho quem mais correspondeu, voltando a isolar-se, pouco depois do seu golo, agora num «sprint» quase de cem metros, a passe, não de Fraguito, por acaso, mas, por acaso, até do Damas, à mão. Só que, com Nascimento novamente batido, Kiki desta feita se mostrou mais expedito na corrida e mais perito na execução do despacho, safando mesmo, em vez de marcar ou confirmar.

 

Esses lances e (em maioria) os de Fraguito imprimiram ao futebol «leonino» uma bela toada ofensiva, em que se integou muito bem Carlos Pereira, praticamente um extremo – esquerdo, com remates e tudo, um dos quais Nascimento largou, como largaria aquele petardo de Yazalde, num «livre», a queimar as mãos do «portero».

De qualquer forma, os golos surgiram, por isso, pelo bom ritmo, pela frequência dos remates (também evidentemente pelas baldas da defesa visitante, de tão abarbada de trabalho) e não lá por causa, como as más-línguas já asseguravam, dos tais trezentos escudos agora instituídos como prémio para cada jogador por cada golo além do golo da vitória, além do prémio normal, conforme noticiámos no último número. Sem esse prémio, o Sporting conseguiu também goleadas e, com esse prémio, a segunda parte de ontem só deu mais um golo e chocho e perto do fim.

 

De qualquer forma, o prémio foi instituído certamente porque dele se conta tirar vantagens e, para os jogadores, a vantagem ontem cifou-se em mais novecentos escudos suplementares para cada qual.

Por quanto dissemos, Fraguito teve muita influência no bom ritmo do Sporting, mas, pelo tempo fora, continuando ele próprio sempre em bom ritmo, já não pôde continuar tão influente no ritmo da equipa, por quebra dos parceiros, talvez porque recebera bom apoio de Manaca, no «miolo» e menos bom, depois, de Dinis, naturalmente fora de «forma».

 

De qualquer modo, talvez Fraguito possa vir a ser, num futuro breve, o «patrão» que falta à equipa – falta que o próprio Allen denunciou e que falta mesmo, porque, no meio-campo, de momento, à menor experiência de Fraguito junta-se a de Manaca ou a experiência em excesso de Nelson ou Vagner, este, para mais, anteontem, desastrado nas suas tentativas de remate.

A equipa passa por uma fase de renovação que revela coragem por parte de quem a tenta e, no caso da defesa, a ausência de Hilário e de José Carlos faz-nos lembrar uma fase semelhante porque o Sporting passou aqui há uns anos, com Enrique Fernandez a reformar, de uma assentada, Passos, Pacheco, Caldeira, lançando Lino Morato e este Hilário agora preterido. Coisas da vida!…

 

Laranjeira, o mais experiente desta nova fornada, já «internacional», pareceu-nos fogoso de mais, falho da reflexão (aqui e além) necessária. Bastos e Carlos Pereira (nome que foi famoso no futebol português parecem capazes de agarrar o lugar. A certa altura, Bastos e Laranjeira chocaram, caíram, deixando Raul Águas isolado. Damas teve de sair e de cometer, fora da área, uma falta de derrube, aliás, não assinalada pelo árbitro.

Marinho começou muito bem e Yazalde, sem trazer nada de novo àquilo que dele se sabe, fez dois-golos-dois. Poder-se-à contar com ele, finalmente, para «A Bola de Prata»?

 

Veterania


O União, quando pôde recobrar o fôlego, após a surpresa daquele leonino assalto, pôde também sair daquela perturbação total que assolou a equipa, talvez porque o fôlego sportinguista já não era o mesmo e em quebra de velocidade favorecia, finalmente, o excesso de veterania que a turma visitante parece acusar.

Nascimento, talvez até sem culpa nos golos, largou muita bola e tirou confiança aos defesas que, mal batidos aqui e ali, se salvaram no conjunto, porque, enfim, podia ser pior, muito jogo tiveram, muito jogo cortaram.

De aí para a frente, foi menor o jogo em quantidade e qualidade, porque Manuel José estoirou cedo, os outros mal se viram e Pedro não reforçou nada, antes pelo contrário e é pena, porque custa ver um bom jogador servir mal.

 

Mal se viram também Raul Águas (só num «livre» bem arrancado), menos Fernando e mais Camolas, que, pela sua boa vontade, não merecia as vaias que escutou, mas, se considerar que do mesmo sector também vaias partiram para a equipa da casa, a desenvolver um respeitável e estimulável esforço de revalorização, já Camolas se deve sentir por certo menos infeliz.

Bolota foi o melhor avançado e, à beira do fim, arrancou um belo remate que forçou Damas a ceder um «canto».

 

Dois perdões


Quanto ao árbitro, já a ele por demais nos referimos, no decurso da crónica, mas importará repisar o tal perdão-a-Damas-fora-da-área e o tal perdão-a-Pedro-fora-de-si (dele) (Pedro).»

 

Estádio José de Alvalade, em Lisboa

Árbitro – João Nogueira, de Setúbal

SPORTING – Damas (2); Pedro Gomes, cap. (1) (45m – Dinis (2)), Laranjeira (2), Bastos (2) e Carlos Pereira (2); Manaca (2), Fraguito (3) e Vagner (1); Marinho (2), Yazalde (2) e Nelson (2)

U. TOMAR – Nascimento (1); Kiki (2), João Carlos, cap. (2), Cardoso (2) e Barnabé (2); Pavão (1), Manuel José (1), Raul (1) (45m – Pedro (0)) e Fernando (1) (30m – Bolota (2)); Raul Águas (1) e Camolas (1)

1-0 – Nelson – 1m
2-0 – Marinho – 5m
3-0 – Yazalde – 23m
4-0 – Yazalde – 75m

 

«Na primeira parte, 3-0.

 

No primeiro minuto, 1-0. Fraguito levou a bola até à linha de cabeceira e atrasou-a para Nelson, que viu o seu primeiro remate travado por um adversário, mas pôde fazer a recarga com êxito, ainda que em desequilíbrio.

Aos 5 minutos, 2-0. Passe longo de Manaca a Marinho, que corre bem, isola-se facilmente e chuta forte. Kiki acorre, mas só confirma.

Aos 23 minutos, 3-0. Bola cruzada da direita dá tempo para Yazalde preparar o remate e para chutar forte.

Aos 30 minutos, Bolota (2) substitui Fernando.

Após o reatamento, entrou Dinis (2), saira Pedro Gomes e recuaram Manaca e Nelson respectivamente para defesa-direito e para médio-direito, aparecendo Damas com a braçadeira de «capitão».

No União de Tomar, também no início da segunda parte, apareceu Pedro (0) no lugar de Raul.

 

Na segunda parte, 1-0.

 

À meia-hora, 4-0, numa boa recarga de Yazalde, com tabela em Cardoso.

 

In http://uniaotomar.wordpress.com - (“A Bola”, 18.09.1972 – Crónica de Carlos Pinhão)


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