Jorge Cadete notabilizou-se no Sporting e no Benfica – mas no dérbi de hoje torce pelos leões. Acredita que Portugal estará no Mundial e quer voltar a Alvalade.
Correio Sport – Sporting e Benfica, clubes que representou, defrontam-se hoje na final da Taça da Liga. Quem é o favorito?
Cadete – Não há. Não vejo o Sporting mais forte do que o Benfica. Os resultados da semana anterior não contam para alguma coisa. Os jogadores não vão pensar nisso. Será um jogo de inspiração e que será decidido nos pormenores.
– E quem mais facilmente o pode decidir?
– A minha aposta vai para Liedson.
– Liedson já produz um efeito traumático no Benfica?
– Tem marcado muitos golos e de certeza que os defesas do Benfica
estarão ainda mais atentos. Mas isso pode deixar mais espaço para quem
vem de trás, como Izmailov, Vukcevic e Moutinho.
– Defende a integração de Liedson na Selecção de Portugal?
– Plenamente. A Espanha é campeã da Europa e tem um brasileiro.
– Qual o seu palpite para o resultado da final?
– 2-1 para o Sporting, com golos de Liedson, Moutinho e Reyes.
– Miguel Veloso está a viver uma situação com contornos parecidos à sua
quando saiu do Sporting para o Brescia. Pensa que o jogador está a mais
em Alvalade?
– Não estou por dentro da situação. Em relação a mim, posso dizer que sempre trabalhei, que nunca baixei os braços.
– Paulo Bento deve continuar no Sporting depois do final do contrato?
– Sim. Tem aproveitado bem a formação, e é aí que está o futuro do
futebol. Com mais tempo e maior maturidade dos jogadores que ele tem
vindo a treinar, o Sporting terá melhores condições para chegar ao
título português.
– No entanto, tempo é o que não há num clube...
– Qualquer pessoa inteligente estará preparada para esperar e depois colher os frutos.
– Gostava de voltar a trabalhar no Sporting?
– Sim. Nunca escondi o meu sportinguismo. Aliás, dos ex-internacionais,
fui um daqueles que conviveram com mais realidades diferentes. Aprendi
várias metodologias de treino e gostava de as pôr em prática em
Portugal. Tenho o sonho de treinar o Sporting. O sonho comanda a vida.
– Quem são as suas referências como treinador?
– José Mourinho, Louis Van Gaal [holandês] e Arsène Wenger [francês].
– Sente que podia inovar na missão de treinador?
– Acredito que sim. Aprendi bastante em termos tácticos.
– Portugal tem falta de bons pontas-de-lança?
– Sim.
– E como será possível resolver esse problema?
– As equipas técnicas têm adjuntos, treinadores de guarda-redes, mas
não as vejo ter um técnico para trabalhar especificamente com os
avançados. A solução poderia passar por aí. Os ‘grandes’ de Portugal e
a Selecção não têm esse técnico.
– Estaria disponível para desempenhar essa tarefa?
– Sem dúvida que sim.
– Nuno Gomes ainda pode ser útil à Selecção?
– Sim, ele marca golos e joga bem colectivamente.
– Jogou com Figo, que foi o melhor do Mundo, e agora esse título pertence a Ronaldo. Quem é o melhor?
– São diferentes. Figo é genial na organização de jogo, Ronaldo é mais
finalizador porque, embora jogue muito bem próximo das linhas, aparece
ainda melhor no meio para finalizar.
– Quem foi o melhor jogador com quem jogo?
– O Balakov.
– Ainda está para perceber como é que nunca foi campeão pelo Sporting?
– A razão foi a troca de treinador a meio da época (1993/94), com a saída de Bobby Robson e a entrada de Carlos Queiroz.
– Dá a ideia de não gostar de Carlos Queiroz. Teve mesmo uma discussão com ele quando era treinador do Sporting...
– Foi mais um mal-entendido. Eu era o capitão de equipa e dois
companheiros meus estavam a discutir. Eu mandei-os calar e Queiroz
pensou que eu tinha começado a discussão. São atritos que fazem parte
do futebol.
– Ele é agora o seleccionador. Acredita que Portugal vai participar no Mundial de 2010, na África do Sul?
– Acredito, mas essa convicção tem de começar no grupo e passar para os adeptos.
– Porque é que Queiroz tem tido tantas dificuldades?
– As pessoas estavam habituadas a Scolari. Mesmo antes de Queiroz
começar já estavam a pôr em dúvida o trabalho dele. O mal de Queiroz
são as constantes comparações com Scolari. Quase parece mesmo uma
provocação.
– João Moutinho tem essa maturidade para ser capitão do Sporting?
– Sim, eu comecei como capitão do Sporting aos 21 anos. A idade não quer dizer que um jogador seja mais ou menos consciencioso.
– Porém, João Moutinho chegou a dizer que queria sair do Sporting...
– Isso aconteceu num determinado momento e já passou. Não se deve pôr em causa a entrega e a dedicação dele ao Sporting.
PERFIL
Jorge Paulo Cadete Santos Reis nasceu a 27 de Agosto de 1968 (40 anos),
em Porto Amélia, Moçambique. Formado no Sporting, estreou-se com a
camisola leonina em 1987/88, sagrando-se melhor marcador em 1992/93 (17
golos). Passou por V. Setúbal, Brescia, Celtic (com grande êxito),
Celta, Benfica, Bradford, E. Amadora, P. Thistle e Pinhalnovense.Jogou
33 vezes ao serviço da selecção.
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