Entrevista: Oceano: "Sporting não sabe aproveitar figuras do clube" |
Sábado, 04 Dezembro 2010 16:09 | |||
Oceano Cruz deixou a Selecção Nacional de sub-21 e acusa Gilberto Madaíl de não o ter apoiado. “Nunca foi a um estágio desejar-me boa sorte”, diz, sobre o líder da FPF. O ex-capitão leonino lamenta ainda a pouca consistência exibicional dos verdes-e-brancos.
Correio Sport - Que balanço faz dos quase dois anos à frente da Selecção Nacional de sub-21? Oceano – Foi positivo, apesar de ter falhado o apuramento para a fase final do Europeu da categoria que se disputa no próximo ano. Foi uma grande experiência e tive grande orgulho em defender a casa que é de todos nós. - O que falhou no apuramento? - Admito que podíamos ter feito melhor. Houve jogos em que não fomos eficazes e pagámos caro por isso. - Se tivesse garantido o apuramento, acha que ainda estaria no cargo? - Mesmo que me apurasse, sinceramente acho que não continuaria. - Porquê? - A partir da saída de Carlos Queiroz as coisas estavam definidas. Quem acreditou em mim foi Carlos Queiroz, a quem estarei eternamente grato. Quando ele saiu senti que estava esvaziada a minha capacidade de decidir. - Então, porque não saiu com Carlos Queiroz? - Porque ele me pediu para ficar. Falei na altura com Queiroz e ele foi da opinião de que eu devia ficar até ao fim, até porque nos faltavam dois jogos importantes na qualificação – Inglaterra e Macedónia. Foi por respeito a Queiroz e aos jogadores dos sub-21 que me mantive até ao fim, pois faltava um mês para terminar o meu contrato. No entanto, reconheço que o mais lógico era ter colocado o lugar à disposição quando Queiroz saiu. - Gilberto Madaíl apoiou-o? - Nunca senti o apoio de Madaíl. Desde que fui seleccionador, ele nunca foi a um estágio desejar-me sorte, ao contrário do que fez com outros seleccionadores da categoria. Pelo que sei, o presidente ia sempre ao primeiro estágio dos sub-21 desejar boa sorte ao seleccionador e ao grupo. Isso comigo não aconteceu. - Qual o sentimento em relação a Madaíl? - Fiquei muito desiludido com Gilberto Madaíl. Sinto que ele nunca acreditou em mim. - Sentiu-se ultrapassado na escolha que Paulo Bento fez em relação a Rui Jorge para seleccionador dos sub-21? - Acho que a escolha de Rui Jorge já estava feita mesmo antes da minha saída. O seleccionador terá de trabalhar em articulação com o dos sub-21, que é uma antecâmara da selecção A. É natural que Paulo Bento tivesse escolhido uma pessoa de mais confiança dele. - Qual será o seu futuro? - O meu passado é futebol, o presente é futebol, por isso o futuro terá de ser futebol. Tenho tido propostas para continuar como treinador, em Portugal e no estrangeiro, ou para trabalhar na gestão do futebol. - Ser amigo de Carlos Queiroz pode fechar-lhe portas no futebol português? - A amizade nunca fecha portas. As coisas não são assim e Queiroz tem um prestígio inabalável. - Com que opinião ficou do processo de destituição de Queiroz? - Podia e devia ter acontecido de uma forma menos conturbada. Bastava uma conversa entre ele e Madaíl. Mas acho que ainda há muitas coisas por descobrir neste processo. Quando acabar, saberemos toda a verdade e não apenas uma parte da história. Queiroz tem uma palavra importante, que se vai fazer ouvir com a sua defesa. - Sonha com o regresso ao Sporting? - Não é uma questão de sonhar. O Sporting será sempre a minha primeira casa e sinto que o meu futuro, mais tarde ou mais cedo, passará pelo Sporting. - Chegou a rejeitar ser adjunto. Exige o cargo principal em Alvalade? - Não, de todo. O que eu gostava era de estar numa posição em que me sentisse útil ao clube. Foi sempre isso que disse aos dirigentes. A única exigência é sentir que o meu trabalho possa representar algo de que o Sporting beneficie. - Alguma falou no seu regresso com José Bettencourt? - Não. Nunca. - Como tem visto a época do Sporting? - Em termos europeus, muito bem. A nível da Liga, a equipa não tem mantido o mesmo nível. - O que é que tem faltado? - Consistência. A equipa já quebrou emocionalmente em alguns momentos. A pouca consistência exibicional do Sporting agrava-se com a grande consistência exibicional do FC Porto. - O campeonato está entregue? - Não, não está. O FC Porto tem uma vantagem tremenda, mas desde que os campeonatos têm o sistema de três pontos por vitória, é mais fácil encurtar distâncias. - Acredita que o Sporting pode ser campeão? - O pensamento do Sporting deve ser o de ganhar os seus jogos e tentar reduzir diferenças para os da frente. - Muitos têm criticado a falta de sportinguistas na estrutura do clube. Que opinião tem? - Há muita gente sportinguista com enorme potencial e que podia ser útil ao clube, casos de Manuel Fernandes, Carlos Xavier e Venâncio, entre outros. As SAD afastaram os sócios do clube e o Sporting não sabe aproveitar as figuras do clube. Temo que o afastamento será ainda maior. O Sporting tem negligenciado figuras que podiam ajudar o clube a ser mais forte. - O que sugeria que pudesse ser feito para reaproximar os sócios do clube? - O presidente terá as suas convicções e ideias, mas penso que se devia tentar trazer para dentro do clube pessoas que já jogaram no Sporting. Mas não o fazer por fazer, mas sim pelo que essas pessoas podem captar em termos de mobilização. - O que tem achado do trabalho de Costinha? - Tem capital de experiência grande que construiu na carreira como jogador, mas está num cargo novo e ainda a aprender. Pode fazer muitas coisas ao serviço do Sporting. Tudo vai depender dos resultados. - Uma vez que é treinador, pode ser encarado como uma ameaça a Paulo Sérgio? - De maneira nenhuma. Tenho saudades do Sporting, é uma casa que me irá marcar para sempre, mas nunca vou desejar o mal de ninguém em proveito próprio. Quando acontecer o meu regresso, e se acontecer, será de forma natural. - Muito se tem falado da juventude dos capitães do Sporting – primeiro Moutinho e agora Carriço. A braçadeira está banalizada? - Não. Moutinho fez muitos jogos pelo Sporting e não há que falar mal dele como capitão. O Carriço conheço bem. Treinei-o nos sub-21, tem liderança, é respeitado e representa bem a mística do Sporting. A idade não tem nada a ver com a atribuição de uma braçadeira. Fui capitão e sei que essa condição não tem nada a ver com a escolha de campo antes de um jogo. É preciso raça, entrega e ser capaz de empurrar a equipa para a frente, puxar pelos colegas e dar exemplo. O Carriço reúne esses predicados. - Moutinho saiu do Sporting para o FC Porto. O Oceano foi tentado a fazer o mesmo? - Fui. No tempo de Jorge Gonçalves como presidente. Havia ordenados em atraso, podia ter rescindido e tive uma proposta concreta de Pinto da Costa. - E o que disse ao presidente portista? - Agradeci, mas entendi que seria uma traição, ainda para mais num momento de fragilidade do clube. - Moutinho agiu de maneira diferente... - As circunstâncias eram completamente diferentes e não nos podemos esquecer que o Sporting recebeu onze milhões de euros. PERFIL Oceano Andrade da Cruz nasceu a 29 de Julho de 1962 (48 anos), em São Vicente (Cabo Verde). Enquanto futebolista actuou a médio e defesa-central e passou por diversas equipas: Almada (1978-1980); Nacional (1980--1982); Sporting (1982-1990 e 1994-1998); Real Sociedad (1990-1994) e Toulouse (1998--1999). Foi internacional sub-21 (4 jogos) e pela selecção principal (54 jogos, 8 golos). Depois da carreira como jogador, estreou-se como técnico na Selecção Nacional de sub--21, onde não conseguiu qualificar a equipa portuguesa para a fase final do Campeonato da Europa.
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