SCP-FCP. De Peyroteo a Domingos, ser goleador aqui é em português Versão para impressão
Sexta, 06 Janeiro 2012 10:18

120106_peyroteoFalcao (18.º) e Jardel (19.º) são os únicos estrangeiros com lugar entre os melhores marcadores do clássico

 

Naquele tempo não havia televisão nem YouTube. Não tínhamos compilações de golos e memórias gravadas num disco pronto a disparar a qualquer momento. Entre os anos 30 e 40, quando Peyroteo fez 24 golos ao FC Porto em 25 jogos oficiais, os números do avançado nascido em Angola ficaram registados. O resto vive apenas nas lembranças de quem assistiu às grandes tardes do goleador ou no imaginário de quem reconstrói o passado na cabeça.

Por outro lado, ficou um dado indesmentível. Peyroteo é o melhor marcador de sempre nos clássicos entre leões e dragões. Mais de metade dos 24 golos não apareceram sozinhos: nas contas entram cinco bis e um hat-trick, num 6-1 a 27 de Março de 1938 – Peyroteo marcou o primeiro, o terceiro e o sexto golo (Cruz, por duas vezes, e Mourão completaram a meia dúzia). A fama de maior goleador da história do futebol nacional confirma-se também aqui, desde os primeiros tempos de Sporting, com Joseph Szabo, aos anos dos Cinco Violinos, comandados por Cândido de Oliveira.

E, por muitos estrangeiros que abundem agora em Portugal, isto de marcar em clássicos não é para qualquer um. Podemos percorrer a lista dos maiores goleadores nos jogos entre Sporting e FC Porto se isso servir de prova. Vamos lá, então: Peyroteo, João Cruz, Albano, Pinga, Soeiro, João Martins, Vasques, Hernâni, Correia Dias, Carlos Nunes, Jesus Correia, Fernando Gomes, Lourenço, Domingos, José Maria, Araújo, Adolfo Mourão, Falcao... calma lá, chegámos finalmente ao primeiro estrangeiro, 18 nomes depois.

O colombiano que deu “um passo atrás na carreira”, segundo Pinto da Costa, precisou apenas de duas épocas para ganhar um lugar neste top. E só não sobe mais porque “preferiu o dinheiro à carreira desportiva”, explicou o presidente do FC Porto à SIC. O mesmo não aconteceu até agora com Hulk, que continua no Dragão, mas que não entra sequer nos 50 melhores. Na verdade, o avançado brasileiro tem apenas um golo frente ao Sporting, marcado em 2008, na quarta eliminatória da Taça de Portugal (1-1, 5-4 para a equipa portista no desempate por penáltis). Já Falcao tem uma média de golos sem igual: 1,2 por jogo – seis em cinco clássicos.

Vale ainda a pena completarmos o ranking dos 20 melhores com os nomes que aqui faltam: Jardel e Pedro Barbosa. O brasileiro esteve nos dois lados da discussão, mas fez mais estragos de um lado (FC Porto) do que no outro – tal como Falcao, marcou seis golos, apenas um deles no Sporting. Quem também passou por ambos foi Fernando Gomes. A balança do Bibota tem nove golos e pende por completo para o lado dos dragões. Enquanto esteve em Alvalade não marcou à anterior equipa.

Com menos um golo do que Gomes vem Domingos. Em 22 clássicos contra os leões, o actual treinador do Sporting marcou oito vezes. O primeiro golo aparece em 1993/94, numa visita a Lisboa. Seis minutos bastam para o franzino avançado do FC Porto (titular porque Kostadinov não estava) enganar Costinha. O golo chega para a vitória.

A partir daí é sempre a somar nas visitas a Alvalade. O ano seguinte traz outro significado para Domingos e para Bobby Robson, despedido por Sousa Cintra um ano e meio antes. Estamos na 31.ª jornada do campeonato e o FC Porto tem quatro pontos de vantagem sobre o rival. Se ganhar é logo campeão. A carga emocional do clássico dispara ainda antes do apito inicial, com a queda do varandim que mata dois adeptos do Sporting. Em campo, mais uma vez, Domingos faz o golo da vitória – agora num penálti que ele próprio sofre. O FC Porto ganha e no meio do luto deste dia dedica o título a Rui Filipe, morto num acidente de carro no início da temporada.

O melhor de Domingos ainda está para vir. Em 1995/96 abre a época com um bis nas Antas, que permite a reviravolta – Ouattara tinha marcado para o Sporting. Três dias depois repete a dose, desta vez na Supertaça. Aqui os dois golos não chegam para vencer, porque Naybet e (outra vez) Ouattara empatam o jogo que acaba com Oceano na baliza. E, como não há duas sem três, no jogo da segunda volta do campeonato, Domingos ainda bisa de novo. É a terceira visita consecutiva com golos a Alvalade. Em vez de relvado há um campo de batatas, mas a eficácia do avançado mantém-se: golo aos 60 minutos, outro aos 75’ e mais uma vitória para o FC Porto.

Ninguém espera que Domingos vista amanhã um equipamento do Sporting e entre em campo para ajudar a derrotar os dragões – muito menos que faça o contrário. Pode é aproveitar para chamar Ricky van Wolfswinkel a um canto e contar-lhe histórias dos clássicos que ele próprio resolveu. Porque, apesar de ter chegado um reforço (Ribas) para o ataque, é no holandês que o treinador confia para desequilibrar o jogo a favor do Sporting. Seja como for, Van Wolfswinkel ainda tem de trabalhar muito para entrar na lista onde Peyroteo manda e os estrangeiros ficam quase todos à porta.

 

In ionline.pt


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