A escolha de hoje... o dérbi |
Domingo, 29 Novembro 2009 22:13 | |||
Sporting e Benfica empataram a zero, mas nem por isso o jogo deixou de ter motivos de interesse para quem o seguiu de perto. A imprevisibilidade de um sistema táctico de Carvalhal em formação até à adaptação de Jorge Jesus aos perigos leoninos, o i dá-lhe a conhecer os oito tópicos fundamentais para melhor compreender o equilíbrio de forças durante o dérbi.
1- O enigma Veloso Assim que Cardozo e Saviola deram o pontapé de saída, o tabu começou a cair. Miguel Veloso foi, juntamente com Liedson, um dos elementos que pressionaram o arranque do Benfica, nomeadamente na esquerda com Maxi Pereira. Carvalhal apostou num 4x2x3x1 com Miguel Veloso a fazer de ala esquerdo. Vukcevic desempenhava o mesmo cargo na direita, Matías Fernández estava nas costas de Liedson, enquanto Adrien, uma surpresa, e João Moutinho dividiam responsabilidades no meio-campo mais recuado. Com a baliza entregue a Rui Patrício, a defesa era composta por Abel, Polga, Carriço e Caneira.
2- Órfãos de Luisão Do lado do Benfica já se sabia que Luisão seria a principal ausência. Ao contrário de Carvalhal, Jorge Jesus já tem uma rotina estabelecida e não houve espaço para grandes alterações. Quim continuou como dono da baliza e Maxi Pereira e César Peixoto nas laterais. A dupla de centrais, composta por David Luiz e Sidnei, constituía a principal dúvida. Não só por ter sido completamente arrasada na última temporada (relembrando facilmente, pelo menos, a arrancada de Bruno Pereirinha para o 3-1), mas também pela forma como conseguiriam lidar com Liedson. Do meio-campo para a frente, nada de novo. Javi García atrás, Ramires na direita, Di María na esquerda e Aimar no apoio a Cardozo e Saviola.
3- Uma questão de encaixes As dúvidas relativamente às posições dos jogadores do Sporting eram tão grandes que o Benfica foi apanhado de surpresa. Como iam resultar Adrien e Moutinho no meio, lado a lado? E como conseguiriam Caneira e Veloso dividir a marcação? Que tipo de ala seria Veloso? E Vukcevic? Mais perto de Liedson ou mesmo encostado à direita junto a César Peixoto? O Benfica de Jesus ainda não tinha começado a responder a todas estas questões e já o Sporting tinha entrado a toda a velocidade na partida. O encaixe era mais fácil. O Benfica tinha quatro jogadores no meio-campo (Javi, Ramires, Aimar e Di María) para travar Matías, Moutinho, Adrien e as subidas dos laterais Abel e Caneira. A superioridade numérica favorecia o Sporting, que teve nos primeiros 20 minutos de jogo o melhor momento da partida. A defender, contudo, os leões revelavam algumas dificuldades.
4- O buraco negro na esquerda Caneira está habituado a ser um lateral mais interior e ajudava Carriço e Polga na marcação a Cardozo e Saviola. Miguel Veloso ainda não tinha rotinas nas alas e alternava a pressão a Maxi Pereira com a ajuda no meio a Adrien. Resultado? Em grande parte das jogadas do Benfica, Ramires ocupava o tal “buraco negro”, onde tanto Caneira como Miguel Veloso estavam a mais de vinte metros.
5- Aimar por Ramires: um pensamento defensivo ou ofensivo? Durante o primeiro tempo, Jesus decidiu trocar Aimar por Ramires. Questionado na conferência de imprensa, o técnico elogiou a inteligência do jornalista e explicou a troca numa perspectiva defensiva. O argentino encarava João Moutinho sem a mesma capacidade defensiva de Ramires. A mudança permitia estancar o futebol ofensivo dos leões que tinham no capitão a sua grande referência. No entanto, mais do que isso, Jesus também deve ter pensado na recompensa ofensiva. A troca permitiu a Aimar ir ocupar a zona do buraco negro. Tapado até então e sem espaço para dar largas à criatividade, o argentino ia ter maior liberdade para pensar o jogo e quiçá aproveitar o desnorte de Veloso e Caneira.
6- O recuo de Saviola para travar leão A nuance introduzida por Jesus veio encaixar definitivamente o jogo, ficando tudo agora a cargo dos lances de bola parada ou da capacidade de desequilíbrio das vedetas.
7- Bolas paradas: defender com mais não é defender melhor A defender à zona, o Sporting conseguiu quase sempre contrariar a ideia que o Benfica foi construindo esta época, de ser muito perigoso nos lances ofensivos de bola parada.
E como defendia o Benfica as bolas paradas? Também numa situação de marcação à zona, não havia “Liedson”. Saviola, supostamente o jogador mais adiantado neste tipo de lances, recuava até à área para tentar diminuir o risco de perigo na zona de maior acção. Mesmo sem preocupações defensivas, o Sporting teve sempre quatro jogadores fora da área. Abel era sempre o elemento mais recuado. Matías Fernández estava junto à área, tentando confundir a marcação com uma desmarcação para a área. Adrien era o jóquer, oferecendo, tanto na direita como na esquerda, uma opção de canto curto, enquanto o quarto homem era Miguel Veloso, se os cantos fossem à direita, ou João Moutinho, no lado contrário.
8- A guerra (pouco bélica) das laterais A partir do momento em que duas equipas se equilibram tacticamente, recorre-se a alguns argumentos para conseguir criar desequilíbrios: seja em jogadas estudadas, lances de bola parada ou iniciativas individuais dos futebolistas mais talentosos, tudo serve para tentar chegar com perigo à baliza adversária. O desempenho dos laterais é uma das mais frequentes e importantes.
Neste capítulo, as duas equipas foram coxas à esquerda. No Sporting, Caneira tinha mais responsabilidades defensivas e era rara a vez que tocava na bola no meio-campo ofensivo. Já César Peixoto, conhecido especialmente pela vocação atacante, esteve sempre muito preso e preocupado com Vukcevic. Não conseguiu soltar-se e combinar com Di María e o melhor que conseguiu fazer durante toda a partida foi um cruzamento no segundo tempo, que o paraguaio Cardozo não conseguiu dar o melhor seguimento.
À direita, a história foi diferente. Maxi Pereira, com Miguel Veloso pela frente, teve mais confiança e fez o que pôde. Nem sempre com grande sucesso, mas mostrou mais vontade do que o colega de lateral. Nos leões, Abel esteve ainda mais interventivo do que o habitual. Alheio ao perigo Di María, que passou quase completamente ao lado do jogo, o português esteve bastante activo. Até perto do intervalo, quando teve de ser substituído. No segundo tempo, Pedro Silva foi muito mais cauteloso, mais não seja para não arriscar tanto, sabendo que ainda não tem o ritmo competitivo desejável.
In ionline.pt
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