Rodrigo Tiuí. "Nunca tive uma relação muito boa com Paulo Bento" Versão para impressão
Sexta, 05 Fevereiro 2010 22:35

100205_tiuiHouve tempos em que leões domavam dragões: em 2008, na final da Taça. Tiuí abre o livro ao i

 

Rodrigo Bonifácio Rocha. Desta forma não diz muito. Mas transformando o nome de nascença na alcunha profissional, os sinos tocam. Sobretudo os do saudosismo. Na semana em que o Sporting voltou a ser eliminado pelo FC Porto da Taça de Portugal, o i falou com Rodrigo Tiuí, o herói da última grande vitória leonina na competição. O agora avançado do modesto Atlético Goianiense, mesmo sem muito tempo - tinha acabado o último treino antes da recepção ao Morrinhos, a contar para o campeonato goiano, jogo que acabou 5-0 com bis do dianteiro entrado na segunda parte - mas com a habitual boa disposição, recorda o ano e meio em Alvalade, a relação com Paulo Bento e Liedson.
Sente saudades de Lisboa, de passear nos centros comerciais e de estar com amigos que fez por cá mas tem um novo desafio na carreira e reza - nos estágios, antes de dormir e em campo - para que tudo corra bem e possa voltar à Europa. Ah, e explica porque tem nome de pássaro: "Em miúdo era muito pequeno, magrinho e com pernas compridas." E conta uma curiosidade: "Hoje jogo na equipa do dragão!"

Como vai parar ao quase desconhecido Atlético Goianiense, depois de passar pelo Atlético Paranaense ?

Olha, é a conversa do costume - procurava um clube, fizeram uma boa proposta, gostei do projecto que tinha pela frente e decidi aceitar. Acaba por ser tudo mais ou menos assim connosco, certo?

E como vê esse novo projecto?

A equipa está agora a disputar o campeonato goiano, mas depois as atenções, mais lá para a frente, vão virar-se para o Brasileirão. O Atlético Goianiense subiu na última época à série A e todos queremos fazer uma boa campanha.

E saudades de Lisboa, nada?

Claro que fica sempre aquela saudade quando se passa por um sítio de que se gosta, como é o caso. Ainda mantenho contacto regular com os amigos que fui fazendo aí em Lisboa - e foram muitos, tendo em conta que não passei assim tanto tempo no Sporting... - e, mais raramente, também contacto alguns jogadores que continuam no plantel. É uma cidade muito bonita, que gostei bastante de conhecer, e logo que possa vou tentar ir aí, até para mostrar tudo com mais calma à minha mãe...

E quem são esses amigos do Sporting com quem ainda vai falando? Mais os brasileiros, como Liedson ou Polga?

Olha... Quase todos os amigos que fiz foi fora do futebol, pessoas que fui conhecendo enquanto jogava no Sporting mas que não tinham nenhuma ligação ao clube. Mas sim, do Sporting ainda vou falando com os brasileiros, de quem era mais próximo, como o Liedson, o Pedro Silva ou o Ronny, que entretanto saiu. Independentemente da minha saída, vou guardar sempre boas recordações do Sporting, foi um clube que me marcou e pelo qual terei sempre um carinho especial. E vou sabendo os resultados, claro...

Deve ter sido também muito recordado pelos adeptos esta semana, o Sporting voltou a ser eliminado pelo FC Porto na Taça de Portugal...

A sério? Pô, isso é que não é legal...

E a última vez que o Sporting ganhou foi com os seus dois golos na final de 2008...

Nossa, nem sabia... Que jogo bom, lembro-me como se tivesse sido ontem. Vai ficar para sempre na minha memória, sem dúvida! Foi uma grande festa!

Foi o melhor jogo da carreira?

Até hoje, com certeza! Decidir uma final entre clubes com uma rivalidade grande e num estádio cheio foi óptimo! O problema é que pensei que fosse o início da minha afirmação plena no Sporting, porque mostrei que tinha qualidade para fazer carreira no clube. Mas não, acabei por não dar continuidade ao momento...

E foi uma festa que ainda lhe saiu cara: antes de chegar à Câmara de Lisboa com aquela enorme peruca na cabeça partiu a máquina de um fotógrafo também...

Pois foi! Ainda se recorda disso? Coisa chata... A celebrar um dos golos dei um pontapé sem querer nos painéis publicitários e parti a máquina fotográfica de um senhor que estava logo ali. A seguir pedi desculpa e depois fiquei de o contactar para reparar os danos...

E ligou mesmo. Ainda se lembra de quanto pagou? 300 euros? 400 euros?

Não... [risos] Foi mais, tenho a certeza.

Então quanto foi?

Já não me recordo bem, sinceramente... [risos] Mas foi mais, isso sei.

Deve ter sido a parte má da festa...

A outra máquina já não era nova, a substituta foi comprada a estrear e tinha mais qualidade. Ainda bem que ficou tudo resolvido. Mas não fui eu que paguei, o clube é que providenciou tudo isso...

Voltando atrás, parece que fala com alguma mágoa da saída do Sporting...

Tenho de ficar agradecido ao Sporting porque me abriu as portas da Europa e apostou em mim. Reconheço isso. Mas a forma como fui dispensado foi má...

Sabe que, entretanto, o treinador Paulo Bento acabou por sair do clube...

Não estou a par ao pormenor de tudo o que aconteceu nessa altura, mas sim, sei que o Paulo Bento deixou de ser o treinador. Às vezes é complicado, podemos apostar muito numa pessoa mas caso os resultados não saiam fica difícil...

Tinha uma boa relação com Paulo Bento? Gostou de trabalhar com ele?

Sempre respeitei as opções de todos os técnicos e sei que tem qualidade. Agora, também admito que nunca tive uma relação muito boa com o Paulo Bento. No início senti que era uma aposta forte na equipa mas, a partir de determinado momento, deixei de jogar e algumas, ou melhor, muitas vezes, nem sequer era convocado. E também foi ele que acabou por querer que eu saísse do clube por não contar comigo. Se a nossa relação fosse melhor, é provável que agora ainda estivesse no plantel do Sporting.

Mas foi um treinador importante no clube, o segundo na história do Sporting que esteve mais tempo no comando...

Claro! E não ponho isso em causa. Mas a nossa relação não era a melhor do mundo, apesar de ter respeitado sempre as opções técnicas que foi tomando. E sei que é um treinador jovem mas bom.

Fala-se também muito de alguns problemas no balneário. Sentiu isso no ano e meio que esteve em Alvalade?

Nem por isso... Tínhamos um grupo bom, estávamos juntos na luta pelos objectivos que o Sporting tinha traçado...

Mas sabe que, por exemplo, no mês passado o Liedson esteve envolvido num incidente grave com um director?

Sei, daquilo que me contaram.

Surpreendeu-o?

Claro! Existe sempre alguma tensão no balneário, sobretudo quando os resultados não surgem como gostaríamos. Mas daí a entrar num confronto deste tipo... Disseram-me que o tal director que esteve envolvido se passou mesmo...

Como é o Liedson no balneário? E, já agora, fora de campo, como amigo?

O Liedson, além de ser um grande jogador e um avançado que consegue decidir encontros, é gente boa, daquele tipo de pessoas que, para saírem do sério, é preciso mesmo chegar ao limite.

Falou com ele sobre esse incidente?

Não, sobre isso nunca tive oportunidade de falar. Vou mantendo contacto com a malta mas nunca toquei nesse ponto.

E agora, perspectivas para o futuro?

Agora estou aqui no Atlético Goianiense, concentrado em fazer uma boa época e de preferência com golos. Depois logo se vê. Não estou nada preocupado, até porque aqui posso estar mais perto da minha família, o que é importante.

Mas gostava de voltar à Europa?

Claro, se surgir uma boa proposta...

Já teve alguma? E de Portugal?

Sem falar em nomes, houve um clube de Portugal que mostrou interesse na minha contratação. Mas não me despertou interesse, os objectivos eram modestos e acabei por recusar a oferta...

E regressar ao Sporting, gostava?

Ao Sporting é meio complicado depois de tudo o que aconteceu. Ainda não esqueci a forma como saí do clube e de Portugal, fiquei chateado com muita coisa.

Mas recebeu o restante do contrato, que acabava em 2011, para rescindir, certo?

Pouco, quase nada. Não queria mesmo sair do Sporting, mesmo sabendo que podia não ser uma das primeiras opções do treinador. Por mim, tinha ficado à espera de uma oportunidade para, quando surgisse, mostrar o meu valor. E também já estava adaptado à cidade, ao clima, a tudo. Mas, no Verão [de 2009], chegámos a uma fase em que quase todos os dias falavam comigo para sair. A certa altura, por recomendação do meu empresário, acabei por ceder. Abdiquei de quase tudo a que tinha direito - ainda me restavam dois anos de contrato - para ficar livre, com o passe na mão e à vontade para decidir o melhor para mim.

No final da última época em que esteve cá, escreveu-se também sobre desacatos na sua casa e surgiram fotografias com tomadas e paredes danificadas. Ainda se recorda? Houve alguma coisa?

Nunca liguei a isso. Ocupei a casa como ela estava, devolvi as chaves quando saí e voltei ao Brasil. Olha, nem sei sequer o que dizer mais sobre esse assunto, apenas que não fiz nada de mal...
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