Paulo Sérgio: "Angustiado desde Paços" Versão para impressão
Domingo, 22 Agosto 2010 10:46

Foto: Paulo SergioPressão sobre os comandados de Paulo Sérgio é coisa que não falta depois dos desaires com Paços de Ferreira e Brondby, mas a delicadeza do momento leonino não retira a confiança do técnico no trabalho, ainda que a angústia esteja presente desde o jogo em Paços de Ferreira.

Considera que está a viver um momento difícil na sua carreira ou, pelo menos, um de gestão mais complexa?

Não, não de difícil gestão. De certeza absoluta que não tenho andado feliz. Os adeptos ficam tristes, mas muitas vezes a maior parte deles sai do estádio e vai para as suas vidas. Eu, não; a minha vida é esta. Eles ficam desesperados no final das partidas e avançam com a sua vida particular; eu ando angustiado desde que perdi em Paços de Ferreira, isso é óbvio. Não ando feliz. Uma coisa é não andar feliz, outra é perder confiança no grupo e naquilo que é o trabalho. Não perco confiança.


A equipa está mais pressionada depois dos dois resultados negativos?

Os meus jogadores estão sempre pressionados; eles e eu. Não penso que essa pressão possa ser maior, mas é inegável que as derrotas não dão confiança, retiram-na. Mas nós temos de ser capazes, ter mentalidade forte, carácter para vestir esta camisola e enfrentar os desafios que este emblema nos coloca em cada dia de trabalho.


Estranhará se as bancadas de Alvalade estiverem menos preenchidas?

Não acredito, penso que, apesar do descontentamento pela nossa última semana de trabalho, fomos capazes de criar um elã positivo, dentro de um quadro de dificuldades que sabemos que existem. Estou crente em que os adeptos que nos apoiaram durante a partida e se manifestaram negativamente no final da mesma vão lá estar para nos apoiar novamente, e nós tudo vamos fazer para lhes dar uma alegria. Trabalhamos para isso. Prometemos trabalho, pois resultados... estamos dependentes da largura ou espessura de um poste ou trave.


Que resposta espera dos jogadores do Sporting?

Temos de dar uma resposta positiva, não há volta a dar. Quero é passar uma mensagem de confiança ao grupo. Alguns brincam com o facto de eu dizer que os meus jogadores são os melhores do mundo; para mim, os meus jogadores são sempre os melhores do mundo, são eles que defendo até à morte. Quem trabalha comigo tem a minha total confiança. São sérios, trabalhadores, estão empenhados e querem ganhar. Teremos um Sporting motivadíssimo, concretizador e coeso de princípio ao fim. Depois, competência, determinação e, porque não?, uma dose de felicidade que tem estado arredada.

"Estou preocupado com as bolas que não atacámos"

Queixou-se da falta de concretização no jogo com o Brondby. Fez alguma coisa diferente ao nível do treino?

Não, fazemos todos os dias. A questão da bola que entra ou não às vezes tem a ver com a forma como se ataca, mais do que com a execução técnica. Não estou preocupado com aquela jogada que foi concluída, mas com outras tantas que tivemos dentro da área e não foram atacadas. É preciso movimentação colectiva, articulação e coordenação nos movimentos ofensivos, temos de nos debruçar mais sobre isso, nem que seja para falhar muito. Temos de ter muito jogo, pois, acredito, vamos chegar aos golos.


Zapater vai estrear-se com a camisola do Sporting?

O Zapater, como outro qualquer, joga quando eu entender que o deve fazer. Hoje está mais pronto e na próxima semana estará mais ainda. É o trabalho que vai fazer ter um bom Zapater, e às vezes precipitar as coisas é uma asneira grande que se comete.

"Vamos colocar os jogadores no lugar e simplificar o jogo"

Já encontrou a melhor solução para suprir a ausência de Pedro Mendes?

A conclusão a que cheguei é que fazer adaptações não traz sucesso. Já tinha chegado a essa conclusão no passado, mas em Paços de Ferreira tentámos criar uma nuance: o Daniel Carriço a atacar ao lado do Maniche, mas a defender por trás. Funcionou na primeira parte, na segunda não foi tão conseguida. Com o Brondby, demos a posição 6 ao André Santos, que desempenhou a função lindamente. É essa a sua especialidade. O que tínhamos com o Pedro Mendes, e muita gente aproveitou para dizer que me estava a desculpar - e desde o primeiro dia que digo... não quero desculpas com nada -, e o Maniche era uma coisa diferente; ora vai um ou outro para o ataque. O Pedro Mendes tem essa característica, o André Santos já não tem tanto. Vamos pôr os jogadores no seu lugar e simplificar o jogo tornando-o o mais objectivo possível.

Santana sem resposta

Pedro Santana Lopes, ex-presidente leonino, deixou críticas no seu blogue ao futebol do clube, escrevendo: "Aquilo [futebol] é mau de mais." Paulo Sérgio recusou grandes comentários. "Todos os comentários de apoio são bem-vindos, pois precisamos, não é destruir. Sabemos perfeitamente perceber como são estas coisas", sublinhou.

"Sem paciência para gente estúpida

Sente que o seu trabalho pode ser boicotado ou prejudicado pelas críticas de vários conhecidos adeptos do clube ou pela instabilidade crónica que o Sporting parece viver nos últimos tempos?

Honestamente, nós sabemos... Viemos para um clube desta dimensão, um clube tremendo, sabemos que a nossa vida é escalpelizada ao milímetro, as nossas dores, alegrias, tristezas, portanto estou preparado para isso. Tudo aquilo que se escreve, que se comenta ou que se diz, tudo o que é crítica, seja ela positiva ou negativa, acho que temos de fazer sempre um balanço. Nem devemos avaliar aquela que está num extremo nem a que está no outro. Não me ponho em bicos de pés quando os elogios são fabulosos, nem, jamais, me vão ver com a cabeça enfiada na areia quando as críticas também são, de alguma forma, estúpidas. A crítica, a negativa e positiva, que se centra dentro de determinados parâmetros de respeito, análise séria e criteriosa, leio com atenção, e porque não reconhecer que às vezes me tocam, principalmente aquelas que são negativas - não ligo aos elogios -, fazem-me repensar estratégias ou colocar em causa certas certezas que nós temos. Tenho a humildade de reconhecer isso. Agora, para aquilo que está nos extremos, sinceramente... para gente estúpida não tenho paciência.

Pergunta O JOGO

Tinha pedido coragem e carácter à equipa. Teme que, no jogo com o Marítimo, em função das exibições menos conseguidas, os adeptos coloquem em causa a equipa e afectem o seu rendimento?

Não, não temo. É uma coisa que poderá sempre acontecer, mas tenho de enaltecer o que os adeptos nos proporcionaram com o Paços de Ferreira e o Brondby. No final mostraram a sua insatisfação pelo desfecho, mas deram-nos apoio incondicional durante o jogo, e isso é de enaltecer. Todos percebemos que as coisas podem funcionar melhor se as fizermos juntos. Nem tudo está mal quando se perde e nem tudo está bem quando se ganha. Posso recordar os números da partida: tivemos 30 bolas a alvejar a baliza do adversário, contra sete do Brondby, tivemos 14 cantos, nove bolas de faltas laterais e 35 cruzamentos. Isto é sinal de um fluxo, um caudal de jogo que esteve lá. Aliado a alguma infelicidade, não conseguimos marcar. O adversário ficou motivado por um ou outro erro nosso e, num curto caudal, fez dois golos. Evoluímos em relação a Paços de Ferreira, durámos 90 minutos, não nos perdemos em termos organizativos. É com a convicção de que alcançaremos os nossos objectivos que vamos continuar a trabalhar. No futebol e na vida, só conheço uma forma de alcançar objectivos: trabalhar muito e ser forte mentalmente. Não há tempo para momentos de fraqueza. Entrámos no campeonato, criámos uma onda positiva, colocámos os adeptos a acreditar na equipa e numa semana deitámos isso a perder. Viemos para ganhar e não para perder. Estamos convencidos de que vamos recriar a onda e voltar a dar vitórias ao clube.

 

In www.ojogo.pt


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