Gent 3-1 Sporting: Tenros por opção Versão para impressão
Sexta, 05 Novembro 2010 22:53

101105gent-sporting15061cd5_630x354Fim abrupto à sequência de quatro vitórias seguidas do Sporting e ao seu aproveitamento 100 por cento positivo na Liga Europa, além do adiar do apuramento para 16 avos-de-final da prova, foram o resultado da frustrada visita a Gent. A equipa de Paulo Sérgio pagou caro a falta de calo e entrosamento que teria necessariamente de denunciar, ficando a sensação - sem juízos de seriedade - de que este leão teria de pôr mais carne no assador para encarar a partida de forma mais assertiva, deixando para melhor fase da prova eventuais experiências, e não quando tinha ainda e continua a ter o apuramento por resolver. Todavia, o Sporting está numa posição muito privilegiada, pois basta-lhe um empate com o Lille para seguir em frente. O árbitro da partida não ajudou ao explusar Abel de forma forçada.

Pleno de novidades, o Sporting tinha a absoluta estreia de Cédric no centro das surpresas. Perante uma equipa leonina de volta ao 4x4x2 - Saleiro e Djaló foram a dupla ofensiva -, o Gent alinhou em 4x1x2x3, surgindo ligeiramente mais solto e afirmativo, como o seu técnico prometera. Tudo começou mal porque os lisboetas já estavam por baixo no marcador aos 7'. Os belgas pouco tinham feito por merecer o tento, até porque o Sporting tinha já disposto de boa oportunidade para marcar, mas Saleiro não foi capaz de facturar no cara-a-cara com Jorgacevic. O Gent esboçava por essa fase uma maior aproximação à área leonina, procurando criar desequilíbrios pelo exterior, mas o novel capitão Abel cometeu uma grande penalidade, que originou o 1-0.

O Gent sentiu-se por cima, claro está, mas nem por isso foi globalmente superior, mostrando-se quase só nos raides individuais de El Ghanassy e Ljubijankic, que aceleravam o jogo e ganhavam faltas próximo da área verde e branca. A ala direita formada pelo experiente Abel e o absolutamente estreante Cédric acusava intrínseca falta de maturidade a determinado momento da partida, mas daqui viriam inesperadas melhoras - o puto não tardaria a perder a vergonha. Sem estrutura, é certo, de forma por vezes atabalhoada, é verdade, o Sporting reagia aos soluços, causando perigo, mas harmonia era coisa que não se vislumbrava entre portugueses. Com mais vontade do que arte, coube a Cédric mostrar porque foi o último leãozinho recrutado à inesgotável formação dos leões. O 41 assistiu Saleiro na perfeição para o empate.

No reatamento, os homens da casa surgiram mais decididos. Ficou aqui evidente a falta de entrosamento entre os centrais, Nuno Coelho e Torsiglieri - dupla inédita, que concedeu demasiado espaço, especialmente no caso do 44. Por duas vezes falhou Ljubijankic o segundo golo. Temendo o pior, Paulo Sérgio mexeu aos 59', tirando Cédric e colocando Postiga em campo. O Sporting reconfigurou-se, recuando Djaló para o corredor direito, à frente de Abel, e Postiga a encostar-se a Saleiro na dupla mais adiantada. Pouco depois, era a vez de Valdés ser também lançado. A menos de um quarto de hora do fim, a expulsão de Abel tudo mudou, graças à mão pesada do árbitro da partida. Como um mal não vem só, o Gent cresceu e numa questão de três minutos virou toda a comida para o seu lado da mesa: o 2-1 nasceu no flanco direito que João Pereira acabara de assumir e o 3-1 na asa oposta. A coisa podia até ter piorado nos minutos finais de desgoverno completo. A derrota é dolorosa, mas o Sporting também se deve queixar de si.

O momento: 76'
Expulsão forçada abre vitória belga

Momento determinante na partida foi o segundo cartão amarelo e consequente vermelho exibido pelo juiz Rasmussen a Abel, à passagem do minuto 76 da partida. O lateral-direito, que teve uma estreia para esquecer como capitão de equipa, já vira um amarelo por provocar uma grande penalidade, ao minuto 7 do encontro, mas acabou por sofrer com a mão pesada do árbitro dinamarquês, que entendeu que o defesa puxara Wallace quando este partia para um contra-ataque. Na verdade, a infração de Abel não teve tamanho grau de gravidade. Logo de seguida, o Gent fez o 2-1.

Arbitragem
Má influência

Peter Rasmussen foi equilibrado e interventivo na partida até exagerar no zelo com a expulsão de Abel, que abriu caminho à vitória dos belgas. Não facilitou na hora de levar a mão ao bolso, mas acabou por ter alguma influência no resultado final com a decisão de excluir o 78.

História do Jogo
Cédric prova que a escola continua no mesmo sítio

O camisola 41 estreou-se em bom estilo, fazendo o passe para o golo leonino. No final, viu o seu exemplo louvado por Bettencourt.

Em sentido contrário ao de todos os companheiros de equipa, Cédric Soares ficou com óbvias razões para lembrar Gent com afecto. O lateral/médio-direito formado nos escalões de formação verde e brancos fez a sua estreia absoluta na equipa leonina e logo como titular num palco europeu. Mostrando predicados, o puto destacou-se e foi dos poucos a receber justa nota positiva, ou não tivesse ele vencido os nervos e assistido Carlos Saleiro com primor no lance do tento de honra lisboeta. No fim, até o presidente José Eduardo Bettencourt fez questão de lhe enviar uma mensagem de felicitações através dos órgãos de Comunicação Social.

No final da partida, o líder do emblema de Alvalade pegou no desempenho do camisola 41 para lançar uma farpa a quem recentemente vem contestando a produção das categorias de base leoninas. "Fiquei muito satisfeito pelo desempenho do Cédric. No fundo, é mais um caso que vem contrariar aquela ideia que já tenho ouvido por aí de que a nossa formação tinha acabado", disparou. Bettencourt deixou um elogio ao estreante, a quem augura um futuro radioso. "Ele é um miúdo e um jogador extraordinário. Esteve muito bem na partida e fez uma assistência primorosa. É promissor", concretizou o número um verde e branco.

Com um louvor vindo da mais alta patente, a justificar a confiança do técnico Paulo Sérgio - que o retirou aos 59', todos desculparam o sorriso de Cédric na viagem de regresso a Lisboa.


Gent, 3 - Sporting, 1
Estádio Julles Ottenstadion
Relvado Bom
Espectadores 25.000

Árbitro: Peter Rasmussen (Dinamarca)
Golos 1-0 Smolders (g.p.) 7'; 1-1 Saleiro 39'; 2-1 Conté 79'; 3-1 Arbeitman 82'

-
Gent

Jorgacevic; Baric, Wils, Suler e Wallace; Ljubijankic e Smolders; De Smet, Thijs e El Ghanassy; Coulibaly.
Suplentes: Boecklx, Hanstveit, Van der Bruggen, Skarabot, Arbeitmann, Conté, Grondin.
Treinador Francky Dury.

Sporting
Hildebrand; Abel, Nuno André Coelho, Torsiglieri e Evaldo; Zapater e André Santos; Cédric Soares, Yannick Djaló e Diogo Salomão; Carlos Saleiro.
Suplentes: Tiago, Daniel Carriço, Maniche, Jaime Valdés, Hélder Postiga, João Pereira e Simon Vukcevic.
Treinador: Paulo Sérgio.


O Sporting um a um
Um Saleiro de poucas aselhice
s

Hildebrand 4

Impotente para travar os três disparos certeiros dos belgas: na grande penalidade, aos 7', foi enganado no lado em que a bola entrou, o remate cruzado de Conté estava fora de alcance, tal como a bola cabeceada por Arbitman. Lá susteve um livre frontal de Wallace, aos 19', dando ares de alguma segurança.

Abel 4

A grande penalidade cometida de forma infantil foi só a primeira mancha de uma noite de sofrimento. Ljubijankic ganhou-a, assim como outros tantos lances. A incapacidade posicional foi evidente, deixando o capitão exposto à velocidade dos extremos contrários. Em missão ofensiva, alvejou as redes contrárias de livre, aos 33'. A expulsão forçada acentuou os problemas colectivos.

Nuno Coelho 3

Deixar o adversário directo ganhar posição para finalizar, por incipiência técnica e física, foi recorrente. Tanto espaço não foi melhor aproveitado, porque a qualidade era escassa no outro lado. E nem no passe a coisa melhorou. A forma andou aos papéis, aos 56', perante Ljubijankic, e no terceiro golo do Gent foi... penosa. Aos 23', esteve perto do golo, mas o cabeceamento, na pequena área, mandou a bola para a bancada.

Torsiglieri 5

Sempre atento às oportunidades de antecipar lances, assim ganhou várias bolas a Coulibaly. Depois, atreveu-se a sair com a bola nos pés, em velocidade, qual Beckenbauer, para o ataque... aos 21' até foi à linha de fundo (!) - era lateral? A recuperar a posição no terreno faltou a mesma destreza.

Evaldo 4

Andou às aranhas com a velocidade e virtuosismo de El Ghanassy, ao qual se juntou a inteligência de movimentos de Ljubijankic. Perdeu a maior parte dos duelos e andou no meio da embrulhada defensiva que deu no golo de Arbitman.

André Santos 4

A atenção evidenciada nos minutos iniciais às dobras no sector intermediário desapareceu rapidamente e, em posse, raramente conseguiu dar alguma profundidade ao jogo pelo passe. Aliás, nesse capítulo, andou longe do que já mostrou: precipitação, escassa velocidade e precisão. As perdas de bola foram umas atrás das outras.

Zapater 5

Demasiado passivo, sempre que se viu confrontado com a velocidade e as diagonais de Ljubijankic e El Ghanassy, mas a entrega ao jogo fê-lo subir de produção, atenuando os desequilíbrios no sector intermediário. Excelente abertura, aos 27', para Cédric, rasgando a defesa contrária, deixando-o em posição privilegiada para atacar a baliza.

Cédric 6

Acusou a pressão da estreia dando pouca fiabilidade e segurança ao passe, mas o tempo remediou o nervosismo. Na direita do meio-campo, foi ganhando o corredor em posse, com qualidade técnica a sublinhar os movimentos com bola. E da linha saiu o cruzamento tenso para o golo de Saleiro. Milimétrico. Somou pontos.

Salomão 4

Sem arrancadas de vulto, sem explosões de entusiasmo, nem cruzamentos arrebatadores de aflição, deixou-se ir no engodo da pasmaceira. Ainda atirou por cima da baliza contrária, aos 48', um fogacho, apenas.

Yannick Djaló 3

O ritmo competitivo é curto, logo a capacidade para esticar o jogo acabou por ser uma miragem. Assim como a objectividade colocada nas acções colectivas. Tanta trapalhice deveria ter valido um banho menos tardio. De produtivo, duas situações de finalização... fracas e desenquadradas com o alvo, aos 30' e 65'.

A Estrela: Saleiro
Tanto fugiu que acabou por se soltar


Ainda as marcações estavam a ser acertadas pelos defensores belgas, já Saleiro mostrava um dos atributos onde se destaca: o modo como consegue utilizar o corpo para ganhar posições de finalização face aos defensores. Assim, aos 4', deixou Suler perto de um ataque de nervos, descarregado pela incapacidade do CS9 em finalizar a jogada com sucesso na cara de Jorgacevic. Manteve acesos os duelos com os ingénuos defensores do Gent utilizando a mesma arma, ganhando espaços, criando algumas linhas de passe desaproveitadas pelos colegas da zona intermediária, esquecidos de que na frente havia quem quisesse fazer uma ou duas tabelinhas. Movimentado, Saleiro foi fugindo a marcações - nunca muito apertadas, diga-se -, até chegar ao golo. Solto, sem ninguém por perto, no coração da grande área, aproveitou o cruzamento açucarado de Cédric para finalizar, de cabeça, à ponta-de-lança, aos 39'. Veio o revés, desaparecendo, após o descanso, da aselhice generalizada dos tenrinhos de... Alvalade.

Postiga 3

Pouco mais de meia-hora em campo para dar voz à equipa, não de revolta ou inspiração, somente de protesto: com o árbitro, com os colegas e até adversários. Pelo meio, umas acções teatrais com perdas de bola como cenário de fundo.

Valdés 2

Duas, três diagonais na zona central e pouco mais se viu: A bola também andou em fuga dos seus pés.

João Pereira 1

Entrou aos 79', segundos depois a bola é colocada em Conté, uma diagonal para o centro e golo... ficou a ver. Seria frio ou falta de aquecimento? É possível. Três minutos depois, ainda com frio (?), pouco saltou para impedir o cabeceamento de Arbitman, ficou nas covas. Desastrado.

Francky Dury
"Estivemos muito perto da perfeição"

O treinador do Gent, Francky Dury, não estava em si de contente com um triunfo por números que talvez não esperasse. "Tenho muito orgulho nos meus jogadores e a nossa segunda parte ficou muito próxima da perfeição", começou por dizer o técnico dos belgas. Dury defendeu que a sua equipa "começou bem o jogo, mas depois do penálti foi complicado", considerando que, depois, "o empate foi merecido".

O técnico do Gent rejeita que a equipa portuguesa se tenha apresentado fragilizada. "O Sporting jogou muito bem no final da primeira parte e, depois do intervalo, com as lesões de alguns jogadores, fui obrigado a mudar. Não aceito que se diga que o Sporting jogou com as segundas escolhas, isso é menosprezar o nosso jogo", afirmou Dury.

Quanto às hipóteses de apuramento da sua equipa, Dury diz não pensar nisso para já. "Os problemas serão enfrentados quando surgirem. A vitória foi merecida e no início de Dezembro pensaremos na qualificação. Se tivermos de sair da Liga Europa será com dignidade", disse.

Paulo Sérgio
"A segunda parte foi fraca e triste"

"Por culpa própria", como reconhece Paulo Sérgio, a equipa do Sporting adormeceu à sombra do jogo e regressou a Lisboa digerindo a primeira derrota na fase de grupos da Liga Europa. "Não fizemos uma boa segunda parte, não tivemos a qualidade que se exigia, fomos pouco agressivos, não nos impusemos, não desequilibrámos o adversário, e este foi eficaz nas ocasiões que teve. O jogo foi fraco e triste", acentuou o treinador leonino, desencantado com a prestação dos seus jogadores, mas crente de que o apuramento para os 16 avos-de-final não escapará: "Estamos numa posição privilegiada nesta competição, não vamos adormecer. Temos todo o optimismo de seguir em frente, mas é importante estarmos vigilantes e competitivos."

As forças no terreno do Gent ficaram mais desequilibradas a partir do momento em que o Sporting se viu reduzido a dez unidos por expulsão de Abel (76'). Mas o carácter da falta que originou o segundo cartão amarelo (e consequente vermelho) ao lateral-direito oferece bastantes dúvidas ao timoneiro dos leões: "A expulsão parece-me exagerada, pois a falta foi no meio campo adversário." Com menos um, os verdes e brancos vacilaram: "Não tivemos tempo de nos reorganizar, e o adversário foi muito eficaz."

O onze titular apresentado nesta visita à Bélgica foi bastante diferente do utilizado no passado domingo em Leiria, onde o Sporting cavou o quarto triunfo seguido da época, construindo então a melhor série da campanha 2010/11. O treinador, porém, não se refugia nas mudanças feitas para justificar o espalhanço em Gent. "Não vou por aí. Fizemos alterações porque temos planeamento, uma ideia e objectivo. Entrámos fortíssimos, e depois voltámos ao jogo a seguir ao penálti contra nós. Tivemos oportunidade de dar tempo de utilização a jogadores. Queremos tê-los mais preparados para as batalhas que aí vêm."

 

In ojogo.pt

 


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