Oliveira. "Este é o dia mais feliz da vida de Américo de Sá" Versão para impressão
Quinta, 27 Janeiro 2011 12:33

110127_oliveiraA 27 de Janeiro de 1981, o presidente do Sporting (João Rocha) assinou contrato com o treinador do Penafiel. Que também jogava...

 

Os golos de placa estão espalhados pelo mundo. Começou com Pelé, que marcou um golo tão bonito num Fluminense-Santos para o Torneio Rio-São Paulo que o jornalista Joelmir Beting disse que merecia uma placa de bronze. E o Maracanã lá tem a placa de Pelé. Depois generalizou-se e os golos de placa também valeram para as inaugurações de estádios. Daí que Octávio Machado tenha um golo de placa no Serra Dourada, por ocasião de um Brasil-Portugal em 1975.



Dessa modalidades passou-se para as frases de placa. E o Sporting tem uma no Estádio José Alvalade: por cada leão que cairá, outro se levantará. Não é Camões mas sim António Oliveira. Reza a lenda que o talentoso avançado sportinguista disse esta pérola num dia de profunda tristeza pessoal e, ao mesmo tempo, de intenso frenesim clubístico, numa alusão à morte do seu pai. Expliquemos: estamos a 29 de Setembro de 1982 e o Sporting vai jogar a segunda mão da primeira eliminatória. Em Zagrebe, o Dínamo ganhou 1-0. Em Alvalade, o vendaval Oliveira tomba os jugoslavos. São três os golos do Sporting, todos de Oliveira, todos a um jovem e desconhecido Ivkovic na baliza.

Só no dia seguinte as pessoas tomam conhecimento da triste realidade. O pai de Oliveira morrera no dia do jogo, pouco antes de as equipas entrarem em campo. António Oliveira tomou conhecimento da tragédia mas foi ele que insistiu em jogar. Deu naquilo (3-0 e hat-trick) e nisto (a frase do "por cada leão que cair, outro se levantará").

DRAGÃO VERDE E BRANCO Mas como é que um homem e um jogador formado no FC Porto fala à Sporting com tanta propriedade? Para isso temos de recuar até ao Verão quente de 1980. Nas Antas, a divergência entre o presidente Américo de Sá e o director para o futebol Pinto da Costa é evidente. Desta cisão resultaria a saída de Pedroto e de alguns jogadores, como Oliveira. Que vai para Penafiel, sua terra natal. Lá joga e dá espectáculo. Como avançado (dez golos, um deles ao FC Porto, nas Antas) e como treinador, no lugar do demitido Luís Miguel a partir da quinta jornada.

Em Alvalade, a questão do treinador também anda tremida. Perdido o campeonato a 10 de Janeiro de 1981 (0-1 nas Antas e nove pontos de desvantagem em relação ao líder, Benfica) e desfeito prematuramente o sonho da Taça na semana anterior (2-4 em Braga) mais o da Taça dos Campeões (por culpa do Honved, logo no primeiro dia de Outubro), nada restava ao Sporting em Janeiro. E faltava dinheiro nos cofres. Mas o presidente/gestor João Rocha arranjou uma digressão ao Brasil que renderia 3 mil contos. OK, os problemas financeiros estão resolvidos mas há um imprevisto em São Paulo, num jogo com o Corinthians, em que os adeptos da Fiel, a maior torcida do Brasil, descarregam a fúria no banco de suplentes do Sporting. Resultado: uma pedra na cabeça para o treinador, Srecko Radisic, e um pé de gesso para o capitão, Manuel Fernandes, que o obrigaria a aterrar na Portela de cadeira de rodas.

De regresso à dura realidade nacional (21 de Janeiro), o Sporting leva uma pedrada sem precedentes: 0-1 em Alvalade com o Académico de Viseu, graças a um golo de Raul Águas. Para calar críticos e conter o pessimismo, João Rocha volta a exercer de presidente/gestor. Com olho para o negócio, portanto. E desloca-se a Penafiel para falar com Oliveira, já então jogador-treinador de uma equipa a dois pontos do Sporting! Dessa conversa resulta o acordo total para a contratação de Oliveira como jogador do Sporting na época seguinte, de 1981-82.

A assinatura do contrato é tornada oficial cinco dias depois, a 27 de Janeiro, a rondar a verba dos 20 mil contos. Neste dia Oliveira soltaria outra frase famosa: "Este deve ser o dia mais feliz da vida de Américo de Sá." E com isso encontrou aliados em Pinto da Costa: "Oliveira manteve a palavra de não voltar ao FC Porto enquanto Américo de Sá fosse presidente. Dar este passo custou-lhe certamente muito, que ele tem, como todos sabem, o FC Porto no coração, mas, infelizmente, há quem não tenha coração assim e ponha os seus interesses acima dos interesses do clube."

João Rocha, o JR mais conhecido de todo o mundo (com a licença do personagem de "Dallas"), não se fica por aqui e tenta contratar Pedroto. Do então treinador do V. Guimarães JR só ouve os parabéns pela contratação do ano (Oliveira), "sobretudo por ter derrotado os boicotes dos fascistas [Américo de Sá]".

É neste ambiente efervescente que João Rocha se vê envolvido. O presidente do Sporting é ameaçado com o rapto da filha, mas o negócio com Oliveira mantém-se. Apesar das investidas do FC Porto, o jogador vai mesmo para Alvalade, "para honrar a palavra". No Sporting, Oliveira ganha o campeonato nacional e a Taça de Portugal na época de estreia, com 16 golos em 34 jogos, ao lado de Jordão (35-37) e Manuel Fernandes (21-39), no famoso trio de ataque.

 

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