Agostinho ganhou direito a uma curva há 30 anos Versão para impressão
Quarta, 15 Julho 2009 17:42

090715joaquim_agostinhoA 15 de Julho de 1979 conquistou o Alpe D'Huez e o seu nome ficou lá gravado

 

"Fiquei surpreendido por ver que o grupo tinha partido com o meu ataque e ninguém vinha comigo. Resolvi insistir e ir buscar os da frente." Joaquim Agostinho sempre simplificou o discurso e o ciclismo. Se era dia sim, atacava e pronto. E fazia-o de de forma selvagem e intuitiva, sem olhar a tácticas. De nada valiam os pedidos e conselhos de colegas e rivais: "Doucement, Tinô, doucement." Há exactamente 30 anos, Agostinho fez história em português: atacou a 10 quilómetros do fim da 17.ª etapa do Tour e conquistou o Alpe D?Huez, o ponto mais alto (e mítico) da prova. Subiu do 16.º para o 3.º lugar, festejou o pódio em Paris e a organização atribuiu o seu nome à 17.ª das 21 curvas da subida.



"Não senti dificuldades", disse Agostinho, que na altura tinha 36 anos mas estava como novo. "Pegas no Agostinho e dás-lhe uma demão de tinta pela carroçaria e está feito", chegou a dizer o director desportivo Raphäel Géminiani.

"Jaquim" era uma força da natureza: todo ele coração e pouca técnica. Ganhou a alcunha "Quim Cambalhotas" pelos trambolhões que denunciavam a falta de preparação. Nesse mesmo Tour de 1979, aliás, deu uma queda violentíssima na 9.a etapa, no empedrado de Roubaix, que detestava, antes mesmo do Alpe D'Huez.

Apareceu tarde no ciclismo, bem dentro dos 20 anos, depois de dar nas vistas em cima de uma pasteleira num encontro ocasional com a equipa de ciclismo do Sporting. Queimou etapas enquanto as ganhava: em 1968 percorreu todos os escalões até chegar a profissional.

Como por acaso, favorecido pelo físico monstruoso - alma de trepador num corpo de sprinter -, Agostinho chegou ao topo. Sem nunca perder a genuinidade do homem que gostava mais de quintas, dos cavalos e da caça que de ciclismo. Chegava a ser ingénua a forma como se sacrificava para ajudar os seus chefes-de-fila, menos aptos que ele. Luis Ocaña, vencedor do Tour de 1973, disse que Agostinho o fez ganhar meia prova. No dia do funeral do português, o espanhol chegou montado numa das bicicletas do seu antigo aguadeiro. Por respeito.

Este ano não há Alpe D'Huez no Tour, que prossegue sem alterações: Cavendish confirmou os prognósticos de Armstrong e conquistou a 10.ª etapa, 3.ª da sua conta pessoal.

 

In ionline.pt

 


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