Di Stéfano. Aos 39 anos, a flecha loira eliminou sporting Versão para impressão
Quinta, 25 Novembro 2010 09:15

101125distefanoHá 45 anos, o Espanyol perdia em casa por 3-0 com o Sporting, aos 58 minutos. Virou o jogo, com show do velhinho Di Stéfano

 

Aos sete anos, Alfredo, pai de Alfredo, pediu ao filho para rematar uma bola de futebol, nas traseiras da sua casa. Alfredo, filho de Alfredo, não se fez rogado e atirou uma bisca que deixou o pai KO e ainda com um olho negro. Aí, entra a história do tal pai, tal filho: Alfredo di Stéfano, o filho, foi jogar para o River Plate, clube que o pai defendera entre 1910 e 1912.


Aos 17 anos, Alfredo di Stéfano estreia--se no River Plate, é emprestado ao Huracán, volta ao River, emigra para a Colômbia e depois transfere-se para Espanha, onde assina pelo Barcelona e pelo Real Madrid. Acaba por ficar em Madrid, onde actua 11 épocas e levanta 15 taças, incluindo cinco Taças dos Campeões. Em 1964, com 38 anos, Di Stéfano abandona o Real Madrid, depois da sua sétima final europeia, com o Inter. "O Muñoz, nosso treinador, estava obcecado com o Facchetti, capitão e lateral-esquerdo. Queria marcá-lo individualmente e eu, como capitão, discordei dessa situação. Para quê mudar o nosso estilo de jogo só para marcar um lateral? Perdemos essa final por 3-1 e eu continuei a dizer ao Muñoz que fizemos mal em mudar de táctica. Ele mandou-me à merda e eu respondi-lhe à letra. Alfredo a la calle [Alfredo para a rua]."

O Espanyol lança-lhe então o canto da sereia e Di Stéfano muda-se de armas e bagagens para Barcelona, onde, aliás, encerra a carreira dois anos depois, em 1966, com 406 golos em 558 jogos. Sem o fulgor de outros tempos, o flecha loira ainda era um bico de obra para todos aqueles que o julgavam veterano e sem pernas. Esse erro de julgamento aconteceu variadíssimas vezes durante os 72 jogos em que representou o Espanyol, num deles com o Sporting, para a Taça das Cidades com Feira. Estávamos em Outubro de 1965, quando o sorteio ditou o encontro. Primeiro em Lisboa (2-1 para os leões, com bis de Lourenço) a 10 de Novembro, depois em Barcelona. É aí, no Sarriá, que tudo acontece. No dia 24 de Novembro, o Sporting está a ganhar 3-0 aos 57 minutos, com golos de Lourenço (26'') e Oliveira Duarte (32'' e 49'').

O Sarriá está em silêncio. É então que Di Stéfano pega na bola, galga terreno, finta Dani, depois Hilário, cruza para a área, Rodilla remata à baliza e Morais afasta com a mão. Penálti. Que José Maria converte: 1-3. O Sarriá começa a acreditar. É então que Di Stéfano faz o mesmo. Golo de Miralles (67''). O Sarriá aplaude. Di Stéfano repete o truque para Rodilla empatar (71''). Está 3-3 e basta um golo ao Espanyol para levar a eliminatória para um terceiro jogo, visto que, na altura, ainda não há aquela regra dos golos fora - se houvesse, o Sporting nunca chegaria à final da Taça das Taças-64, eliminado logo à primeira pela Atalanta, sem necessidade de ir a desempate, em Barcelona. E aqui estamos nós novamente. Aos 73'', Di Stéfano não só recupera a bola como a lança para Rodilla correr e bater Carvalho. É o 4-3 que indica terceiro jogo. No meio-campo, o árbitro Crawford chama os capitães José Carlos e Riera. O sportinguista pede coroa, o catalão resigna-se à cara. E sai cara. O jogo de desempate é em Barcelona, a 15 de Dezembro. E o Espanyol volta a vencer, agora por 2-1 e com Di Stéfano a fazer as assistências para o bis de Rodilla.

Fernando Argila, o treinador espanhol do Espanyol que treinaria o Sporting na época seguinte, em 1966-67, está em êxtase. Do outro lado, o brasileiro Otto Glória nem consegue falar e passa a palavra ao adjunto Juca. "Não estávamos à espera deste Di Stéfano. Julgávamo-lo velho e acabado mas ainda dá uns toques. O público assobiou-o ao intervalo e isso acordou-o para esta exibição deslumbrante."

 

In ionline.pt


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