Morrer de Amarelo no País Real Versão para impressão
Sexta, 11 Maio 1984 23:26

Joaquim Agostinho_04Agostinho decidira, enfim, deixar a vida de andarilho pela estranja. Para acabar a sua carreira no Sporting. Acabá-la-ia tragicamente. Como herói morto na batalha. Corredor de milhares e milhares de quilómetros, subiu e desceu adamastores, cruzou, vezes sem conta, planícies, obedecendo a uma mitologia sem sentido que era uma espécie do seu código deontológico na raça: cair, sufocar a dor e continuar.

 

Sentou-se no chão e...

 

Caiu na Quarteira, fracturou o crâneo. Mas quis acabar a etapa, levando para além da linha de meta a camisola amarela. A última. Acabou. Desceu amparado da bicicleta, sentou-se no chão, um companheiro aspergiu-lhe água na cabeça, levantou-se, pediu que o levassem para a cama da pensão, mas era já o drama brutal do campeão que desafiara a morte por amor à profissão, por paixão à bicicleta. Na Quarteira, a 30 de Abril de 1984. Uma morte que pôs Portugal em orfandade. E foi produto do País que era. Agostinho seria operado dez horas depois da queda, fazendo a viagem de Faro para Lisboa em ambulância. Como se fosse o tempo da mala-posta, como se não existissem aviões, avionetas ou helicópteros.

 

In abola

 


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